terça-feira, 29 de junho de 2010

E aí esta a graça do povo brasileiro



















Texto por Jean de Oliveira

Estava eu esses dias me aventurando pelos canais da TV aberta (porque aqui em minha casa TV a cabo é como a paz no Oriente Médio, ou seja, uma coisa realmente impossível de acontecer) e me deparei com os abismais programas humorísticos, estes que me instigam repudio e algumas vezes vergonha de ser brasileiro. Então eu pensei: Ta ai um assunto que merece uma atenção especial no blog.
Não é de hoje que o Brasil vem despencando na qualidade de seus programas humorísticos. Basta uma trocada rápida de canais em um fim de semana qualquer para perceber que além de faltar originalidade, o tipo de humor que se tem é sem graça. Um programa copia o outro, piadas fracas ou forçadas e aqueles quadros de grande apelo sexual/erótico com o intuito de prender ou chamar a atenção do telespectador, desviando-se do objetivo principal, que é divertir.
A muito que foi perdida a essência de humor no Brasil. Hoje esses programas usam roteiros burros e infantis, que de engraçado não tem nada. Os quadros do programa se resumem a quadros que mais parecem “piadas encenadas”, contando sempre com a gostosa seminua que faz biquinho e mostra a coxa e o cara em traje caricato que fala um bordão quando a vê.
A rede Globo é a campeã em programas desclassificados e que não acrescentam nada em nossa cultura, insistindo vorazmente no humor de bordões, que ao contrário do excelente humor sitcom da TV americana (do qual darei alguns exemplos logo a seguir), prima pela repetição exaustiva de algo que já está batido. E isso acaba dilacerando o cérebro de quem tem um mínimo de senso crítico. Como melhor exemplo disso temos Zorra Total, que é uma reunião de quadros patéticos e que todo final de semana, se resume a mesmas coisas, apenas mudando os trajes dos atores, pois você pode prever que toda semana um personagem caricato vai falar seu típico bordão. Então, eu pergunto: qual é a graça de assistir isso?
Em seguida temos Renato Aragão com “A Turma do Didi“, um programa que parece ser a tentativa (frustrada) de fazer algo similar ao antigo (e bom) “Os Trapalhões“. Porém, todo domingo pode-se esperar que as mulheres gostosas apareçam (afinal, hoje em dia, o conceito humor está ligado diretamente com o conceito sensualidade), que os amigos do Didi vão tentam fazer uma pegadinha com ele, onde no fim é o Didi quem os pegará. Pronto, é só isso. Então pergunto novamente: qual a graça disto? Como pode continuar no ar a mais de 10 anos, um programa onde todos já sabem quais são os quadros e o que irá acontecer?
Outro bom exemplo é A Praça É Nossa, que sofre do mesmo mal, contando com humoristas sem graça e utilizando o cunho erótico. É como diz a música do próprio programa “[...] a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim [...]”. E é exatamente isso, as mesmas coisas, novamente as mesmas piadas, até o jornal que Carlos Alberto de Nóbrega lê em todo programa é o mesmo (imagino que o programa é patrocinado pelas Leis de Incentivo à Cultura, pois prega a preservação das piadas mais antigas da cultura brasileira, que um dia foram engraçadas e hoje se tornaram extremamente monótonas).
Já na Rede TV evoluímos um pouco (mas não o suficiente para algo que possa ser chamado de engraçado) e temos o Pânico na TV. A principio este se mostrou um programa engraçado, contando com um apelo sensual (em minha opinião, o Pânico é o programa com as mulheres mais gostosas da televisão, realmente todas as Panicats são muito bonitas) e com alguns humoristas de algum talento como Evandro Santo (Christian Pior) que é o único que continua com algum resquício de graça (mas que atualmente teve sua participação reduzida consideravelmente) e o Marvio Lucio (Carioca) com seu personagem Amaury Dumbo. Pânico Na TV não chega a ser insuportável como Zorra Total e afins, mas não passa de algo que a gente assiste por não ter nada melhor nos outros canais. Eu assistia e confesso que gostava, mas quando o quadro do Vesgo e Silvio se resumiu a ir nas ruas, praias (enfim, lugares públicos) e ficar satirizando pessoas que por lá circulam por sua aparência (como se a vida do cidadão brasileiro já não fosse miserável o suficiente, ainda tem que aturar deboches em rede nacional). Neste momento eu percebi que era o declínio deste suposto programa humorístico.
Não posso deixar de comentar também o caso mais recente, o tão alardeado Legendários da Rede Record. Encabeçado por Marcos Mion, este programa era anunciado e lembrado todo sábado pelo apresentador como um programa de humor educado, para toda a família. Então eu ingênuo acreditei, e resolvi assistir junto com meu pai, minha mãe e meu irmão de 10 anos. E logo no programa de estréia, eis que aparece uma matéria contando sobre as piores músicas para se escutar na hora do sexo (eu já devia esperar, afinal, tudo está relacionado a sexo e nudez hoje em dia). Acho que não preciso nem contar como isso é constrangedor para uma família que ainda preza pela moral e os bons costumes e quer passar um momento agradável reunida. Então, eu pergunto: cadê o tão anunciado programa para você assistir com os seus entes queridos?
O único programa que é a rara exceção é o CQC da Band. Mesmo não se mantendo com o mesmo fôlego que tinha em seu ano de estréia, este ainda é um programa de humor inteligente, que meche com os pilares críticos e desafia os políticos e a lei brasileira. Devemos observar que seu ponto positivo máximo reside em ele ser um programa totalmente diferente dos demais que tem roteiro tosco e um humor desgastado e erotizado.
O pior de tudo isso, é que esses programas continuam no ar, e ainda com níveis de audiência consideráveis. Mas isso ocorre devido à mente do povo brasileiro estar acostumada a só pensar e comentar o que não traz proveito algum. Porque o cidadão brasileiro adora ser o esperto, o malandro, e esses humoristas fazem isso. Entretanto desse jeito o que eles demonstram é que são verdadeiros tolos, dando a esse povo de baixa-estima, a sensação de que são superiores a eles. Por isso o grande problema do humor brasileiro reside em seus telespectadores, que devido à falta de perspicácia (e inteligência) não deixam que ocorra uma evolução. Eles gostam somente de piadas e comentários saturados que não desafiam ninguém. O humorista que debocha de algo sério, como problemas sociais, e que faz um gracejo com uma verdade inconveniente, é logo criticado e sofre processos e boicotes nos demais programas.
Isso porque no Brasil não se admira o comediante de verdade, justamente por que a verdade não é admirável. Nossa cultura nos ensina a lucrar com a mentira. Rir com a verdade é algo que não entra na cabeça de ninguém por aqui. Aqui a verdade é feita para ser maquiada. A verdade não diverte ninguém, pelo contrário, assusta.
Por aqui o humor não caminha como em outros países, onde este já se alcançou um estágio desafiador, como nos E.U.A., que possui alguns dos melhores humoristas, que usam de um humor mais refinado e não pensam duas vezes em alfinetar alguém que tenha cometido uma gafe. Seus sitcons rendem milhões de dólares com cada temporada, e a cada ano derramam mais seriados novos para o mundo inteiro, sendo a maioria de boa qualidade.
Estes seriados sabem realmente como explorar o riso nas pessoas. Cada seriado conta sempre com atores até em então quase desconhecidos (não como acontece no Brasil, onde o cara que faz novela também faz filmes, apresenta programas, volta na nova novela e por fim faz alguma série). Seus personagens também têm bordões, mas usam moderadamente, não excessivamente até esgotar cada gota de humor que aquilo possa ter.
Por lá o sarcasmo e a ironia são incentivados pelo publico. Eles sabem que a função do humorista é fazer piada, debochar realmente das crises que nos rondam, e por conseqüência a lista de seriados norte-americanos que realmente vale a pena assistir para garantir boas gargalhadas é extensa. Por minha própria experiência sei que F.R.I.E.N.D.S. é muito bom (aliás, durou dez temporadas, sendo que na ultima os atores recebiam o equivalente a R$1 milhão de dólares POR EPISÓDIO!!!!), Two and Half Man (cuja as ultimas temporadas tem rendido o mesmo valor do salário de F.R.I.E.N.D.S. a Charlie Sheen) e o atual The Big Bang Theory, que está em sua 4ª Temporada. Esta eu lhes asseguro, o riso é certo. E o engraçado (na verdade imensamente triste) é que esses seriados não fazem nenhum sucesso na TV aberta aqui no Brasil. Mesmo o clássico (e ótimo) Um Maluco No Pedaço, estrelado por Will Smith, recebeu muita resistência do público até conseguir fazer real sucesso nas telinhas aqui do Brasil.
Entretanto, ainda tenho esperanças de uma melhora. Eu ainda espero que essa nova geração de comediantes stand-up, que surgem em platéias anônimas por aí, seja capaz de mudar a estrutura da comédia no Brasil. Mas até que alguma coisa mude, não sendo mais a platéia tão limitada e os comediantes tão covardes e acomodados, muito Zorra Total vai rolar. Por enquanto fiquemos então com os imitadores de Silvio Santos, os burros que falam palavras erradas, os trocadilhos, os contadores de anedotas, os bordões e as gostosas, pois eles não incomodam ninguém, nem mesmo o nosso mau humor.

2 comentários:

  1. texto enxuto...
    creio que Zorra Total, A praça é Nossa e etc, já estão fora do humor brasileiro atual...mas a sua exaltação sobre os programas norte-americanos de humor, colocando as cifras que eles produzem acabam por supervalorizar lá, e esquecer do que nos faz rir aqui...lembrando que por aqui TV a cabo é bem fora do nosso alcançe...
    abraço
    Thiago

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  2. Concordo que a Praça é Nossa permanece na grade do SBT mais por consideração ao Carlos Alberto, do que a audiência de fato,agora Zorra Total ainda detem ótimos níveis de audiência em seu horário(basta ter um trabalinho e procurar no Google) mostrando que, por mais pífeo que seja, está muito por dentro do humor brasileiro.
    Já a questão da "supervalorização" dos programas norte-americanos,não vejo nada de errado, afinal, os seriados são mais evoluídos e são os únicos que me fazem rir. Exigem um raciocínio mais perspicaz para entendê-los, claro que para quem não possui, é completamente compreensível que não ache graça. A maioria da população brasileira é inculta, por isso esses programas não produzem sucesso aqui nesse Brasil de meu Deus. A minha intenção no texto é mostrar que o senso crítico prevalece e, não importa em que país more, quem o pussui tambem irá apreciar tais entretenimentos. Mostrar que o "povão" brasileiro é ignorante sim e os programas norte-americanos são melhores.
    As pessoas devem parar de pensar que só porque é brasileiro, tem que gostar mais dos produtos brasileiros. Esse falso patriotismo não significa nada e não leva a nada.
    E por último, TV à cabo nessa nossa terra de além mar ainda é algo inacessível para a maioria, agora a internet banda larga e as várias lã house que tem espalhadas por aí não são. Por isso baixar esses seriados ou assistí-los online é uma ótima saída para quem gosta de ocupar o tempo com coisa decente e que realmente lhes acrescente algo, e eu não falo apenas de risos.

    Abraço e Obrigado pelo comentário.

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