segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Revival É Uma Mentira


Texto por Álvaro Freire Samways

Nos dias atuais estamos encarando uma tendência ao Revival. Cada vez tentam trazer uma década passada de volta à tona, para nos dias atuais vivermos costumes, tendências, moda e músicas daquele período. A bola da vez encontra-se nos anos 90, com várias coisas daquela época retornando como artigo de moda as lojas (vide o retorno dos óculos Wayfarer nas cabeças de um monte de gente, seja famosa ou não), vídeo-games como os 16 Bits Mega Drive (que saudades!!!) e Super Nes, ou mesmo o 32 Bits Playstation tendo recordes de downloads por parte de seus respectivos emuladores, desenhos animados que faziam nossa cabeça, e claro, como não poderia deixar de ser, a música daquela época retornando.

Temos grandes bandas daquela época retornando, seja com suas formações originais ou não, como Alice In Chains e Soundgarden, só para citar dois exemplos de peso, além de gente que, como eu, cresceu naquela época e busca reviver os dias do rock alternativo com suas banda na atualidade. Tudo isso pode ser muito legal, trazer muitas emoções nostálgicas legais, mas, o Revival é uma mentira!

Por mais que seja adorável o sabor que vem à boca quando lembrarmos das coisas boas de nossos tempos de mais jovem, não adianta ficar mascarando a realidade de algo que se perdeu, usando para isso estes Revivals. Eles não dão certo. Nem são de verdade. Revivals não passam de golpes de mídia para justamente agradar pessoas que não conseguem se desgrudar daquilo que elas sabem que nunca mais poderão viver novamente. Um clássico exemplo são aqueles tiozinhos patéticos, barrigudos, de óculos e penteados “careca na frente com rabo de cavalo atrás”, cujo único papo numa rodinha com gente mais nova, é o de que música boa era aquela feita no passado, reclamando do presente e sentindo saudades da época em que o rock falava de dragões e fábulas da idade média. Realmente, ao encarar coisas como Fresno, NX Zero, Hevo 84, e outros desclassificados de mesmo calibre, não tem como não bater um misto de saudade e indignação por estar vivendo um presente tão tosco. Mas, no entanto, sempre houve gente fazendo música ruim, o que varia é só a quantidade, que aumentou exponencialmente há alguns anos. Isso por si só, não serve como desculpa.

Outra coisa que conta demais nessa hora, é o fato de que mesmo que várias bandas atuais voltassem a fazer aquele som do passado, você acha que alguém deixaria de ouvir as bandas daquela época para ouvir as atuais? Talvez até se prestasse a atenção nelas, mas nunca, em hipótese alguma, eu trocaria o bom e velho Nirvana de minha época de moleque, por alguma banda que apostasse nesta fórmula sonora e fosse advinda dos dias atuais. E pior, com certeza essas bandas seriam taxadas de plagiadoras, paga pau, ou sem criatividade, justamente por essa mídia, que hoje tenta com elas, ganhar dinheiro apostando nos sentimentos saudosistas que todos nós temos.

Já se fizeram Revivals de outras épocas também, lembro de que em minha época de garoto os anos 70 estavam “bombando”, com todo tipo de coisa que era moda naquela época retornando (até mesmo as asquerosas calças boca de sino estavam ganhando novos adeptos), e todo mundo que viveu aquela época (e gostou) já se encontrava derramando uma lágrima, esperançoso por uma volta àqueles dias. Entretanto, em questão de um ou dois anos, tudo aquilo virou poeira (graças a Deus as calças boca sino foram junto).

Depois foi a vez dos anos 80 retornarem, e isso aconteceu pouco tempo depois. Mas assim como aconteceu antes, na velocidade com que retornaram, foram esquecidos. Tempos depois foram ainda mais além, e resolveram resgatar os anos 60. Várias bandinhas que faziam aquele som “beatlemaniaco” ganharam a mídia de documentários sobre o “Resgate dos anos 60” que estava acontecendo. Em menos de um piscar de olhos, gente como os Faichecleres (quem?!?!?) voltaram pro anonimato, junto com o Revival que ajudaram a criar.

Outra modalidade de Revival mais peculiar é quando algum artista resolve falecer. Geralmente quando isso acontece, uma avalanche de coisas relacionadas ao indivíduo começa a ser veiculada/explorada por todo tipo de meios, do programa de horário nobre até a banquinha de cds piratas da praça. Um caso atual aconteceu com o maior de todos os artistas pop a pisar na crosta terrestre em todos os tempos: Michael Jackson.

É incontestável o talento deste homem, e a contribuição que ele deixou para a indústria musical (talvez a maior em todos os tempos), tanto é que nem existem palavras para mensurá-la. Mas sejamos francos, quem é que ligava para Michael Jackson ultimamente? Assim como a qualidade e criatividade de seus discos, que após o irregular Dangerous de 1992, veio somente a decair, o genial artista de outrora veio a mergulhar permanentemente no ostracismo. O único motivo de ele ser assunto em mídia, ou mesmo rodas de bate papo era por algum escândalo envolvendo seu nome. Seja quando protagonizava alguma nova trapalhada judicial, ou quando algum novo gosto duvidoso e estranho era revelado por alguém próximo, ou quando sua aparência (quem nunca fez chacota com sua pele draculianamente pálida, seu “nariz de massinha” ou qualquer outra de suas plásticas, que mais pareciam um serviço de borracharia mal feito) recebia nova “homenagem” em forma de piadinha. Nenhuma musica dele era tocada em rádio, nenhum clipe exibido em programas de TV, nem tampouco se comentava sobre a genialidade que até mesmo ele havia esquecido que tinha. Mas de repente Michael Jackson morre, e o que acontece? Uma enxurrada de revivalismo em torno de sua pessoa e sua obra tomam conta do globo. Seria mesmo ótimo que gerações mais novas, acostumadas com o nome “pop” sendo associado à gente ridícula como Lady Gaga, Britney Spears, Kesha e outras aberrações, pudesse reconhecer o nome pop em um artista verdadeiro, que transbordava talento em seu auge, e que mudou todo o conceito de vídeo clipes, shows, danças e o diabo a quatro, de uma forma que estivesse sendo dignamente reconhecida pela mídia e público. Digo que seria, por que tudo não passou de uma forma de se sugar o máximo de dinheiro possível de um fato lamentável, sem o menor respeito e consideração por obra e artista, e isso foi coisa que nem os parentes do próprio Michael deixaram de fazer, diga-se de passagem, (a irmã LaToya chegou a encostar um caminhão na entrada da mansão e pegou um monte de coisas da residência, enquanto o maquiavélico e mau caráter do seu pai aproveitou a morte de Jackson para promover seu selo), vide o circo de bizarrices que foi seu velório, vendido por cifras milionárias para TVs do mundo todo, e o mega sucesso do documentário “This Is It”, também em escala global.

Um ano se passou desde que Michael Jackson nos deixou, e o que sobrou do barulho que foi feito em torno de seu nome? Nada. Todos os que não o conheciam e não eram seus admiradores genuínos voltaram a ouvir as músicas de sempre, e não “Billy Jean” (que havia voltado à moda), seus discos voltaram a ter as vendas habituais, e não a explosão póstuma de procura por parte da população, e seus clipes voltaram para a sessão “flashback” das paradas, que é onde já figuravam há muito tempo. O Revival aproveitou-se do peso da morte de Michael Jackson para trazê-lo de volta, fazer dinheiro com seu nome, e logo após isso, jogá-lo no limbo novamente. E é isso que acontece sempre, em todos os casos.

Por isso, baseado em fatos, é que digo que não se deve esperar nada destes Revivals que vêm nos visitar a mais ou menos cada cinco anos, e que vão embora em questão de 5 meses. Não digo que o passado deve ser jogado no lixo logo que o presente o faça ter essa justa condição de coisa que se foi, muito pelo contrário. O que digo é que esperar voltar a viver como no passado, achando que o Led Zeppelin realmente será o que foi antes (e não aquela coisa horrorosa que se apresentou em Londres no O2 Arena a algum tempo), que o vinil realmente dominará o mercado outra vez, e que todas as mulheres irão se casar virgens novamente, é algo imbecil. Isto já se foi, e o que se vive hoje (feliz ou infelizmente), é o resultado dessa suposta evolução. Digo então que a melhor forma de cultuar o passado que tanto nos agradou é transformando-o em história, para que ele nunca seja esquecido nem morto, mas que venha à nossa cabeça como algo agradável, que marcou nossos dias de antes, sem, por isso, precisarmos negar o presente em que estamos inseridos.

E quando for para nosso passado ser lembrado, que não seja com pesar, como se o fim dessa era recordada representasse a chegada do Armaggedon, mas sim com alegria, sentindo real prazer por poder ter tido o privilégio de presenciar tudo aquilo. O passado pode ter sido bom, mas, ele jamais voltará. Essa é que é a verdade.

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