quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford




















(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)
EUA/2007
Drama - 160 min.
Warner Bros

Texto por Jean de Oliveira

O Filme baseado na obra homônima de Ron Hansen, conta a história dos últimos meses de vida de Jesse Woodson James, o mais famoso fora-da-lei norte-americano, até o fato anunciado em seu título. Seu assassinato se deu por Robert Ford, membro de sua própria gangue, que atirou em suas costas para receber uma recompensa.
Porem o spoiler presente no titulo não prejudica a surpresa do espectador, pois a essência do filme não é mostrar a morte de Jesse, e sim o desenvolvimento dos personagens.
O longa começa justamente durante o último dos assaltos a trens realizados pela gangue dos irmãos Jesse e Frank James. Após o assalto surge Robert "Bob" Ford, irmão de Charley Ford (um membro da gangue), que por ser imensamente obcecado pelas histórias dos James (principalmente Jesse), decide que quer se juntar ao grupo.

A suave narrativa, lenta e poética, nos mostra então esse abismo de constantes desconfianças que surgem ao longo do filme, que como seu título, é extremamente longo. Os 160 minutos de projeção se arrastam em uma trama da qual o cineastra Andrew Dominik nos brinda com um belo drama psicológico, abordando os limites do comportamento humano frente a sentimentos tão controversos como a adoração, a inveja, o ressentimento e a desconfiança. Assim, ele faz com que, em nenhum momento, o espectador se importe por já conhecer o final, e sim, somente se importe com o porquê disto ter acontecido.
O ponto alto do filme, é que ele mostra de uma maneira fascinante o perfil de seus personagens.
Jesse é um fora-da-lei com sensibilidade, impondo a melancolia, sagacidade e carisma de herói. Era conhecido como um jovem de 34 anos com um estado de espírito imprevisível. Alguém que conseguia impor terror nos homens da lei e em seus próprios companheiros apenas com sua presença. Nada e ninguém passavam por ele despercebidos. Atualizado com as notícias que circulavam na época, era um homem que estava sempre interagindo com os moradores de sua localidade e constantemente mudando de casa com sua família.
Já Robert Ford é um jovem que quer uma vida de aventuras iguais as de Jesse James, ou melhor, ele quer ser famoso como Jesse James, ou ainda melhor, ele quer ser o próprio Jesse James. É retratado como um covarde que matou o homem mais procurado do país, dentro de sua própria casa, ao lado de sua família, atirando pelas costas. Com seu olhar inocente e triste, mesclado a um ar meio pernóstico, ele nos causa a impressão de ser um homem inseguro, apenas um tolo admirador de Jesse.
Ao discorrer do filme, ficamos em dúvida sobre quem é o personagem principal e quem é o coadjuvante. Se o principal é Jesse James, que constrói uma desconfiança absurda em seus comparsas, chegando ao ponto de eliminar um por um os que agiram em alguns dos muitos assaltos que realizou. Ou se é Robert Ford, com sua evolução de um garoto de 19 anos com um sorrido tímido e inseguro até um assassino frio de natureza incerta.

Um dos maiores destaques também é a brilhante fotografia de Roger Deakins que retrata com exatidão um clima de pós-guerra Civil. Torna visualmente grandioso as vastas e inabitadas paisagens que retratam um velho-oeste sob uma perspectiva diferente dos velhos filmes de cowboy a que todos nós estamos acostumados a ver.
O tom literário e melancólico do longa-metragem ainda nos surpreende com as acuradas atuações de Brad Pitt que transmite um convincente cansaço de um pistoleiro emocionalmente estável. E Casey Affleck, o astro escondido por trás de um adjetivo, incorporando de forma sutil o rapaz que almeja ser como seu ídolo, mas sem muita audácia para seguir os seus passos, acaba confundindo fama com infâmia.
O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford é uma obra sensível e até mesmo de difícil compreensão, pois devido ao fato de nós brasileiros conhecemos tão pouco sobre este Robin Hood do velho oeste, dificulta-se o envolvimento do espectador com a história. Para alguns, nomes como Robert Ford, Frank James, Zee James e até mesmo Jesse James podem parecer anônimos e passar corriqueiramente despercebidos.
Outro fator depreciativo é possuir pouquíssimas reviravoltas e se sustentar somente em diálogos monossilábicos e sutilezas de olhares, alem de uma profunda extensão (o que para alguém que não tem muita paciência para ficar 2 horas e 40 minutos assistindo o torna cansativo).
Mas em uma obra em que como produtores assinam Brad Pitt e Ridley Scott já é de se esperar que venha algo formidável.
Um excelente drama western, que não mostra as razões que levaram Jesse James a um papel de destaque na história, mas sim o porquê ele é lembrado mesmo mais de um século após sua morte, enquanto Robert Ford, seu assassino, que após ter desferido o tiro, permaneceu em dúvida entre arrependimento e satisfação, acabou por cair no esquecimento e talvez seja somente lembrado como o homem que matou Jesse James.
Enfim, um ótimo filme que merece ser visto.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito boa sua crítica... Assisti esse filme assim que lançou e de vez em quando ainda o vejo. Acrescentaria em sua critica perspicaz, a magnificente trilha sonora... Sou psicólogo e músico, assim sendo, esse filme foi um prato cheio e saudável em todos os aspectos.

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  3. Um western melancólico, dúbio, que não se define os protagonistas pois tanto Jesse quanto Robert brilham e prendem nossa atenção até o final do filme, mesmo tendo mais de 2 horas de duração. Quem assiste sente uma atmosfera tensa, perturbadora e poética, não muito comum nesse tipo de filme. Um dos meus prediletos do gênero.

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  4. Um western melancólico, dúbio, que não se define os protagonistas pois tanto Jesse quanto Robert brilham e prendem nossa atenção até o final do filme, mesmo tendo mais de 2 horas de duração. Quem assiste sente uma atmosfera tensa, perturbadora e poética, não muito comum nesse tipo de filme. Um dos meus prediletos do gênero.

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