domingo, 6 de junho de 2010

Brasil, Um País Que Involui


Texto de Álvaro Samways

A algum tempo atrás estava eu calmamente zapeando os canais na TV a procura de algo que pudesse salvar minha noite quando me deparei com o incólume programa Superpop, comandado pela oportunista (e eternamente agradecida à camisinha furada do Mick Jagger) Luciana Gimenez. Todo e qualquer ser humano com mais de três neurônios ativos sabe que este programa é uma égide à ignorância, sempre recheado de atrações horrendas e convidados idem, constituindo um dos ícones mais representativos da burrificação a qual todo cidadão brasileiro é exposto diariamente. Normalmente eu passaria reto por esta atrocidade em forma de programa, mas acabei dando de cara com este quadro http://www.youtube.com/watch?v=LVYxsrYb7vI , que me fez parar e assistir por alguns momentos este programa. Peço que vocês também assistam este vídeo, para que possam compreender o que tentarei lhes passar nas linhas subseqüentes.
No tal vídeo podemos ver a crítica de Régis Tadeu, na minha opinião, uma espécie em extinção dentre os críticos musicais, pois ao contrário do resto dos de sua classe, ele sempre mostrou-se coerente, sério e como ele próprio diz no vídeo, sem laços de “corporativismo” com ninguém, cumprindo seu papel crítico com toda a veracidade. Como pudemos assistir, Régis Tadeu discorreu de forma embasada e sincera, dotado sempre de argumentos plausíveis para colocar sua opinião em voga, que é o que qualquer um que se diz inteligente já percebe por si só: o fato dessa tal Tati Quebrabarraco não passar de lixo em termos de conteúdo artístico, e que o que ela faz não tem absolutamente NADA a ver com Funk. Ela, em contraparte, elabora uma resposta sem nenhum embasamento, com um português que até mesmo um ornitorrinco bem treinado poderia reproduzir, colocando como mérito artístico o seu “DVD de ouro” (engraçado como este “argumento” do “número X de cópias vendidas” é sempre prevalente entre aqueles que nada têm a dizer de relevante, mostrando mais uma vez que quantidade não é sinônimo de qualidade), sem realmente ter como defesa algo que pudesse contradizer o seu acusador. Mas o pior deste vídeo está longe de ser isso. Quando e tal Quebrabarraco acaba de bufar sua ridícula resposta (se é que aquilo pode ser considerado de alguma forma uma resposta), o público que estava no programa a aplaude, como se ela tivesse vencido o debate usando de uma inteligência enxadrística, e logo depois gritam seu nome em coro. Ver este quadro só me fez atestar algo que, a cada dia, se mostra mais escancarado: que o Brasil é um país em involução.
Parece que com o passar do tempo, mais e mais pessoas têm seu cérebro lobotomizado, desligando qualquer célula reflexiva a respeito do que lhes é empurrado como algo bom e verdadeiro. Basta analisar este caso do tal funk carioca (em letra minúscula, por não se tratar do verdadeiro Funk). É sintomático o fato de que quando se fale em Funk em alguma roda de conversa com os amigos na lanchonete da esquina, o que venha à pauta seja essa profusão de desqualificados como MC Creu, Latino, Bonde do Tigrão, entre outras porcarias. Quando diabos contaram a piada de mau gosto dizendo que isso é Funk?
Funk sim, é uma música de altíssima qualidade, que começava a despontar em bares enfumaçados dos EUA no inicio dos anos 60. Mas foi um certo cavalheiro chamado James Brown, que no final daquela mesma década, ficou conhecido na grande mídia por fazer uma música que despojava o soul de suas caraterísticas mais melódicas e dava ênfase à parte rítmica, dando luz a um estilo altamente dançante, contagiando a qualquer um que tivesse dois ouvidos em perfeito funcionamento. Com seu talento indiscutível sendo reconhecido, ele tornou-se o embaixador e lenda viva do novo estilo de soul music chamado FUNK (nome de uma gíria que correspondia ao suor resultante da dança, por isso costumava-se dizer “this is a funk music”, algo como “esta é uma música que faz suar”), e com isso não demorou a influenciar gerações. Deste mestre pioneiro surgiram mais e mais grupos de talento áureo, como Tower Of Power, George Clinton com Funkadelic e Parliament, Sly e The Family Stone, Wild Cherry, Brecker Brothers, Larry Graham (inventor da técnica conhecida como “slap” no baixo elétrico, uma das marcas registradas do estilo Funk neste instrumento), e taaantos e taaantos outros. No Brasil o Funk verdadeiro teve e ainda tem representantes que igual quilate artístico, como o mestre Tim Maia, Ed Motta, Jorge Ben-Jor, Funk Como Le Gusta, Serial Funkers, e vários outros artistas injustiçados pela mídia de massa.
Este tal funk carioca, que de Funk reforço, não tem NADA, é uma variação do tal Miami Bass, estilo que nasceu nos EUA nos anos 80, junto ao início da música eletrônica, e que ficou famoso com grupos picaretas como o 2 Live Crew. Este “batidão” não passa de uma profusão de “músicas” tenebrosas, letras piores ainda, e “artistas” (um crime inafiançável chamar essa gente de artistas) que beiram o zero absoluto em termos de talento.
Ver um gênero destes triunfar na grande mídia de nosso país é algo semelhante a levar um carimbo de “burro” na testa. É a sensação de ser passado para trás, de ter sua honra desrespeitada e sua moral colocada em xeque, pois somente alguém que pense que seus espectadores são um bando de mortos-vivos com baba escorrendo pelo queixo pode concordar em veicular este tipo de atração em seu programa/emissora. Somente em um país atrasado social e intelectualmente, tal tipo de atitude dá lucros financeiros, tanto pra veículos de mídia como para os que se propõem a viver do ato de protagonizar tal barbárie supostamente musical. E quem sai perdendo são justamente os cidadãos, que em sua maioria são realmente passados pra trás, rotulados como idiotas, e dão de comer pra esta corja de aproveitadores e oportunistas.
O Brasil involui a cada dia, a passos largos, e a trilha sonora de fundo mais apropriada, é mesmo o funk carioca, pois forma um paralelo com a situação brasileira, visto guardar nele as mesmas características do que nosso país vive: algo caótico, confuso, louco (no pior sentido da palavra), bruto, artificial, patético, sem um pingo de seriedade, apenas nutrido por um amontoado de baixarias, seja pelos seus artistas/governantes, como por seu público/povo.

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