segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cds (Lançamentos) THEM CROOKED VULTURES




Them Crooked Vultures


Them Crooked Vultures

(Sony Music)

2009


Texto por Álvaro Samways


Quando se fala em “super-grupos” (bandas recheadas em seu cast por músicos já famosos por outros trabalhos, sejam solo ou com bandas), todo cuidado é pouco. Naturalmente a atenção e a expectativa que cercam um time formado por estrelas são tão grandes quanto o tombo que elas podem nos causar. Mas neste caso não há quedas, o super-grupo mantem-nos de pé até o fim. Tem alguns momentos de tropeço, mas sempre com as pernas firmes.


Quando Josh Homme (Queens Of The Stone Age, Kyuss), Dave Grohl (Foo Fighters, Nirvana) e John Paul Jones (Led Zeppelin), anunciaram uma parceria musical entre eles em 2008, os tablóides de todo o globo colocaram toda sua expectativa em jogo, na premissa de que algo sensacionalmente bom (ou ruim) estaria pra acontecer, visto que a parceria Homme e Grohl, no Queens Of The Stone Age, gerou um dos melhores discos de rock da história, o Songs For The Deaf em 2002 (leia resenha mais abaixo), imagine então se somasse a presença ilustre de John Paul Jones, baixista de nada mais nada menos que a melhor banda de todos os tempos, um tal de Led Zeppelin. Bem, a superbanda, que foi batizada com o estranho nome de Them Crooked Vultures (algo como “Estes Urubus Tortos”), lançou seu debut em 2009, com um disco homônimo. Chegava assim ao fim a expectativa sobre o som produzido por este timaço, e atendendo as expectativas, o disco é muito bom!


Them Crooked Vultures compila 13 faixas inéditas, gravadas pela banda entre 2005 e 2008, durante as férias destes músicos em seus projetos principais. Quanto à sonoridade, pode-se definir como uma soma da finesse e timbres do Led Zeppelin, com a potência e os vocais inspirados do Queens Of The Stone, nenhuma surpresa não é? (o que nesse caso é muito bom!). O que também nos salta aos olhos é a pressão imposta pelo batera Dave Grohl em cada uma das faixas, tornando impossível não comparar seu timbre e sonoridade com as do maior mestre de todos, o falecido John Bonham. Seu arsenal de viradas, grooves e o próprio som da bateria, nos remetem aos melhores momentos da ilustre banda de John Paul Jones nos anos 70. Assim como em seu trabalho no Queens Of The Stone Age, a bateria de Grohl foi um dos pilares para que as músicas se tornassem ainda mais interessantes e poderosas.


Logo na abertura, com “No One Loves Me & Neither Do I”, o sabor zeppeliniano já mostra-se presente, como se a banda tivesse resolvido lançar material novo após 40 anos. Já “Mind Eraser” lembra o Queens Of The Stone Age em sua fase Rated R, figurando uma bela canção temperada pelos carismáticos vocais em falsete de Josh Homme. “New Fang”, com sua intro de batera a lá John Bonham, e divisão melódica de vocais inspiradíssima, nos remete à época Physical Graffiti do Zeppelin.

Em “Dead End Friends” no entanto, a banda perde um pouco da inspiração, sendo que esta música parece com algo que o Queens Of The Stone Age deixaria para lançar num disco de b-sides. “Elephants”, com seu riff característico de guitarra/baixo, e mudanças de andamento, é outra que lembra Led Zeppelin, sem, no entanto, demonstrar grande inspiração.


“Scumbag Blues” mostra o que aconteceria se, durante uma gravação do Led Zeppelin nos anos 70, Jimmy Page e Robert Plant saíssem pra tomar um café, e Homme (que estava lá assistindo a tudo) assumisse as guitarras e vocais por uma música, fazendo desta a canção que mais elementos das duas bandas padrinhas deste projeto apresenta. Entretanto “Badoliers” e “Reptiles” não passam do razoável, sendo facilmente descartadas pelo ouvinte durante uma nova ouvida no disco.


“Interlude With Ludes”, com sua esquisitice, e como o nome sugere, tem mais o papel de dividir o disco numa segunda parte, do que propriamente de música, sendo que é monótona demais, caso disponha-se a ser de fato uma música ativa do disco. Após este momento bizarro, desembarcamos na segunda parte do disco, com canções mais dark, arrastadas e compridas que as anteriores.


“Warsaw Or The First Breath You Take After You Give Up” é uma música interessante, que alia peso a um clima etéreo durante seu refrão, mas que testará os nervos dos fãs mais pop, com seus quase oito minutos. Em seguida “Caligulove” entra no túnel do tempo para desembarcar diretamente na década de 70, mostrando o que seria o Queens Of The Stone Age, caso ele existisse já naquela época e resolvesse roubar os teclados das músicas do Deep Purple. Mas “Gunman” é uma canção fraca, mostrando-se mais interessanda em encher o disco com mais uma música, do que propriamente querendo figurar entre o corpo de canções obrigatórias do disco. O fechamento fica por conta de “Spinning In Daffodils”, cujo áudio mostra que ela foi gravada “ao vivo dentro do estúdio”. Os arranjos depressivos fazem dela a melhor escolha de música para encerrar este disco.


Them Crooked Vultures não é um álbum impressionante do ponto de vista musical, mas certamente tem qualidade de sobra para figurar como um dos grandes lançamentos do rock, que nestes últimos anos tem sido marcado pela quantidade de porcarias em mercado. O interessante é que para se fazer um som que realmente pudesse ser chamado de rock and roll de verdade, e que figurasse na grande mídia, foi preciso a união de três tiozinhos, remanescentes de décadas passadas. Verdadeira aula de música para essa galerinha, colorida e cheia de franjas e acessórios, mais calcada em pose do que em som. Viva estes urubus tortos, que trazem, com seus anos de experiência, um rock and roll ainda cheio de qualidade e frescor típicos da juventude, que mesmo em alguns momentos cambaleantes, ainda soa melhor que tudo que vem sendo lançado pelo bando “teen”, este que sim, deveria se aposentar. Vale a pena conferir o super-grupo!

Um comentário:

  1. Achei muito bom o post do SftD, mas não concordo com esse. Bandoliers é um ponto envolvente do cd, é muito boa.

    ResponderExcluir