segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ajudando o Povo?


Texto de Álvaro Samways

No ultimo dia 16, o presidente Lula aprovou finalmente, depois de muita enrolação, mais um aumento no salário mínimo dos servidores públicos, aposentados e pensionistas. Desta vez até os trabalhadores mais otimistas se viram surpresos: o aumento contemplará com mais 33% sobre o mínimo que era vigente em nosso país. Os outros aumentos nunca nem chegavam dos 10%. Isso prova que o Lula sim foi um bom presidente, pois ele deu este aumento significativo nos salários mínimos. Acho que devemos levar isso em conta e votar na Dilma nas próximas eleições presidenciais, que, olha só, serão daqui a alguns meses. Legal! Já tenho meu candidato, e nem precisei me esforçar muito para escolhê-lo. Viva o Lula e o PT!!!!

Você não achou que estas últimas sentenças que eu proferi eram sérias né?! Por que realmente, elas não são! Este foi só um insight que tive ao justamente ler a tal notícia sobre o aumento dos salários. E realmente não há como não pensar assim se sua realidade é a de um trabalhador desiludido com a desproporcionalidade entre “suor desprendido no seu emprego X remuneração ao final do mês”. Qualquer um que gasta mais tempo e energias dando duro para colocar comida no seu prato e de sua família, do que curtindo um momento de lazer com estes mesmos receberia esta notícia quase como um aidético receberia a notícia da descoberta da cura da AIDS. E é justamente ai que mora todo o perigo.

É preciso atentar justamente para o contexto vivido pelo país no momento da aprovação desta lei, para ver que ela não vem para ajudar o povo trabalhador, sendo sim, mais uma manobra política. Por que eu lhe pergunto meu estimado leitor, um governo que não deu aumentos de salários que fossem menos do que ínfimos, iria justamente agora, em seu último ano no poder, aprovar um aumento de praticamente 35% nos salários. Claro que sim, você é inteligente, e também percebeu que a resposta para esta questão já se encontra inserida na própria pergunta. É o último ano da “dinastia” Lula nos comandos deste país. Esta é a chave que, aliada aquele meu insight proletário desenvolvido lá em cima, abre as portas de nossa compreensão na hora de descobrir a resposta.

Este aumento nos soldos não passa de uma forma cabal e rasteira de campanha política, chamada por alguns filósofos políticos de “campanha eleitoral indireta”. Este tipo de campanha consiste justamente em usar o poder que lhe já está em mãos para influenciar as mentes populares a votar a seu favor na chegada hora de novas eleições. Sem gastar um centavo dos cofres do seu PT, Lula consegue aprovar um projeto de lei que deixará a população tão confiante de que ele (e logo, seu partido também), estão alinhados aos interesses populares, que acabará ganhando votos com isso para sua candidata a sucessora na cadeira presidencial: Dilma Roussef.

O trabalhador brasileiro mediano, que gasta mais de seu tempo trabalhando por sua casa do que lendo alguma coisa útil para incrementar seus conhecimentos, engole esta isca com linha e tudo, uma vez que sua memória de rato não lhe permitirá lembrar todas as mancadas do nosso amado Lula durante sua estadia nos Palácio do Planalto. Sua embriaguez em público, frases de gosto duvidoso (aqui e lá fora), projetos paliativos repugnantes de “bolsa-esmola”, mutação ideológica durante a Transição de seu PT da oposição ao poder, escândalos protagonizados pelos líderes mais importantes deste mesmo partido (quase todos envolvendo o meu e o seu dinheiro), tudo isso já foi apagado da memória do cidadão brasileiro corriqueiro, em detrimento ao aumento na piada, digo, salário a que todo brasileiro tem direito, que o “pai dos pobres Lula”, por “vontade de ajudar o povo”, resolveu incrementar.

Mas não, este tipo de coisa não é um (des)mérito da mente sagaz do sr Luiz Inácio “Lula” da Silva. Muitos episódios como este já figuraram a história de nossa pátria. A face eterna que figurará neste tipo de atitude é a do lendário presidente Getúlio Vargas. Durante toda sua estadia no governo, desde a Revolução de 1930, seus dias de ditador no Estado Novo, e sua ultima investidura como presidente, com o fim de sua vida por conta do suicídio em 1954, ele fez este tipo de jogo, “trocando favores” com o povo. Algo como “eu aprovo algumas leis trabalhistas a favor de vocês trabalhadores e seus sindicatos, e vocês se comprometem a não me encher o saco com greves e votar nos meus candidatos”.

Mesmo seu suicídio foi uma última jogada de “campanha indireta” (talvez a mais ousada da história da política mundial) contra seu principal adversário (uma forma polida de falar sobre seu inimigo público) político, o jornalista Carlos Lacerda. Vendo que o Brasil estava totalmente fora de seu controle, Vargas uniu o “útil ao agradável” (acho que o indivíduo que se suicida não está ligando muito para o quanto isso será desagradável): livrou-se da bomba relógio que era o país na sua mão naquele período, e ainda conseguiu frustrar as expectativas de Lacerda e sua UDN (União Democrática Nacional, partido político o qual ele era um dos líderes). Usando de uma carta-testamento que foi publicada nos meios de mídia da época, Getúlio expôs os motivos de seu suicídio, o que em resumo seria “a pressão sofrida por ele pelos inimigos da pátria”, que qualquer um podia entender, eram Carlos Lacerda e seus aliados, que sempre atacaram suas leis trabalhistas/sociais e seu método de usá-las.As pessoas leram esta carta e se indignaram, destruindo várias sedes da UDN e de jornais anti-getulistas por todo o Brasil. Mais uma vez a estratégia de campanha indireta deu certo, pois nas eleições presidências seguintes quem venceu foi Juscelino Kubitschek do PSD e PTB, partidos estes, getulistas.

São muitos e muitos os exemplos destas “campanhas indiretas” ao longo da história brasileira, só citei este pro ser o mais pretensioso e macabro do qual se tem notícias, mostrando do que um político é capaz, muitas vezes, para não perder o orgulho e o poder uma vez conquistados. É sintomático que qualquer lei que venha a ajudar o povo, venha também com o bônus de ajudar aquele que a criou, pois é historicamente comprovado que em nosso país, poucas vezes alguém trabalhou em favor dos menos favorecidos, e estes que o fizeram, geralmente não demoraram a perder suas esperanças, visto a corja de sangue sugas que os cercavam, de todas as formas tentavam acabar com suas iniciativas, sendo que no fim das contas, ou se juntaram à turba de urubus, ou decidiram abandonar a política para sempre.

A alternativa para nós, pobres civis trabalhadores, é buscar colocar a reflexão em primeiro lugar, e analisar nossos candidatos em mais um ano de eleição. Sei que constitui uma tarefa hercúlea garimpar um candidato que tenha comprometimento e seriedade nestas alturas, mas resta a nós confiar. Pois assim como eu e você somos cidadãos de bem, que pagam suas contas com o fruto de seu trabalho, e que procuram ser honestos em seu dia a dia, numa sociedade cada vez mais entregue em mãos de gente sem escrúpulos na hora de tentar alcançar o sucesso, também existem candidatos sérios, incorruptíveis, num meio onde a podridão é o perfume da coletividade. Poucos, mas ainda existem. E claro, quando seu salário aumentar, fique de olho.

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