sábado, 25 de junho de 2011

Os 20 Anos da Revolução do Rock Alternativo e o Feitiço do Tempo


Á esquerda: Kurt Cobain empunhando sua guitarra com o Nirvana em 1991. À direita: Pe Lanza, do Restart, empunhando seu joystick para a revista Capricho em 2011. O que aconteceu com o rock nestes 20 anos?

Texto por Álvaro Freire Samways


Ano de 1991. A exatos 20 anos atrás com uma música despretensiosa e de vocais ininteligíveis chamada “Smells Like A Teen Spirit”, cantada por uma banda formada por sorumbáticos jovens advindos da chuvosa cidade de Seattle nos EUA ganharia o mundo, colocaria um novo jeito de se fazer rock no mapa e de quebra viraria a industria musical de pernas para o ar. Era o Nirvana, que junto com ele trazia uma série de outras talentosas bandas da mesma região (Seattle e arredores), tais como Soundgarden, Pearl Jam, Alice In Chains, Mudhoney entre outras para alavancar o até então ainda underground movimento “grunge” (um neologismo que, reza a lenda, foi criado por Mark Arm, guitarrista e vocalista do Mudhoney, usando a palavra “garage”(“garagem” obviamente), que era o local onde os jovens da cinzenta Seattle passavam a maior parte do seu tempo ouvindo e fazendo música) para outras esferas.


O grunge já merecia um capítulo especial na história do rock só por ter jogado no lixo toda uma geração de bandas posers e que faziam um som mais fraco que Nescau de padaria. Sim, me refiro ao “hard rock farofa” que por toda a década de 80 celebrou com suas músicas aguadas e pseudo agressivas a “genial” idéia de que a vida se resumia a andar em carrões, ganhar/gastar muito dinheiro e traçar o maior número de mulheres gostosas que se pudesse conseguir. Para isso acontecer bastava incluir no set list uma série de baladas mela cueca, do tipo “dor de corno”, para agradar justamente estas tais garotas que queriam ser traçadas por um bando de caras com cabeleiras escovadas, todo maquiados, que mais pareciam travecos de alguma “esquina maldita”. E tome bandas ridículas como Dokken, Poison, Warrant, Europe e outras aberrações. Pois então, o grunge jogou toda essa coisa deprimente no lixo. As sonoridades das bandas de Seattle (que eram compostas por gente que cresceu ouvindo Dead Kennedys, Black Flag, David Bowie e Blck Sabbath) vieram como uma antítese profunda a toda a descartabilidade conceitual do glam/hair metal farofento. E mais do que isso, o grunge promoveu o que pode ser considerado seu maior feito durante sua existência: colocou no mapa do maistream as bandas que até então eram consideadas “alternativas”, se encaixando elas ou não dentro da sonoridade que pode ser chamada de “grunge”.


O grunge ajudou a alavancar mais gente criativa e talentosa de diversos outros estilos sonoros de rock alternativo espalhados por ai, além do próprio grunge, para os quais a mídia músical não dava a mínima até então: bandas como Red Hot Chili Peppers, Faith No More, Primus, Rage Against The Machine, Kyuss, Smashing Pumpkins, Tool, só para citar alguns poucos e significativos exemplos, tinham sonoridades tão singulares que nem se quer tinham uma classificação idela para aquilo que faziam. Era rock alternativo e pronto! Apesar de os motivos de a mídia ter passado a prestar a atenção nestas bandas serem puramente financeiros, o saldo era o mais positivo possível pois estes artistas agora contemplados com a fama eram constituídos em sua maioria por pessoas que buscavam fazer arte (no caso música) acima de tudo. Basta dar uma ouvidela curta nos discos de cada uma das bandas que citei saidos naquela época para se ter a confirmação. Um rock competentemente ousado, diferenciado, verdadeiramente agressivo, que buscava misturas e abordava temas dos mais diversos, desde conflitos sociais, passando claro pelo sempre bom e velho amor, entrando em raias até de coisas inusitadas como estórias infantis (os discos do Primus além de rock alternativo de altíssima qualidade, garantem ao ouvinte boas doses de humor).


De 1991 até 1994 o rock saiu do poço de marasmo e mesmice da década anterior e passou por uma fase de criatividade e boas bandas e músicas quase incrível. Em uma época em que internet ainda era um sonho distante, as fitas K-7 do Nirvana conseguiam rodar por toda a parte (já que os cds ainda eram uma recente realidade, por isso ainda não absoluta). Porém em 1994, com a morte do mais emblemático cidadão daquela geração de músicos, o vocalista e guitarrista do Nirvana, Kurt Cobain, a cena alternativa perdeu aos poucos sua força. Novas bandas passaram a ter dificuldades de mostrar seu som, e as que já existiam foram aos poucos deixando de existir. O foco mudou de direção e o rock voltou a se enfraquecer, sendo superado pela música eletrônica e mais ainda, pela nova onda do Hip-Hop romântico (?????) que se iniciou na época. Restou para o rock a cena “brit-pop” como o major do momento, liderada pelo Oasis. A cena de rock alternativo ficou então a cargo do recém nascido movimento “new-metal”, que conseguiu trazer à luz para muita gente boas bandas que de comerciais em sua sonoridade não tinham nada, tais como KoRn, Slipknot, e a melhor daquela geração, o cultuado System Of a Down. Outra grande banda alternativa que surgiu foi o Queens Of The Stone Age, que como dissidente do Kyuss, tornou-se a única na grande mídia a representar o gênero chamado de “stoner rock”.


Porém, agora eu gostaria de entrar na real discussão e que dá título a este texto: os caminhos naturais os quais a industria da música parece sempre tentar seguir. Tal qual no filme estrelado por Bill Murray em 1993 chamado aqui no Brasil de “O Feitiço do Tempo”, onde o dia nasce, amadurece, mas após as 24 horas passadas, volta exatamente igual o eu havia sido no “ontem”, ao invés do que devia ser o “amanhã”, repetindo-se cada um de seus fatos, as coisas parecem ter se desenrolado, mas acabaram por voltar ao que eram antes da Revolução do Rock Alternativo do início dos anos 90. O rock de garagem parece ter voltado a ser “um estranho no ninho”, e o que voltou a ditar as regras são bandas pseudoagressivas e de mentalidade artistica beirando o nulo. Ao invés dos travecões maquiados dos anos 80, temos hoje seres igualmente vexatórios, também vestidos com roupas de gosto duvidoso e maquiados, mas desta vez usando acessórios diferentes, como as terríveis chapinhas (a pior invenção da humanidade depois da bomba atômica). Bandas ridículas como Paramore, Panic At The Disco, My Chemical Romance, CPM 22, Strike, NX Zero e Fresno foram só o começo de uma ditadura de destalento, picaretagem e dinheiro fácil sustentada por empresários, gravadoras e seus “artistas” inacreditavelmente ruins que hoje têm como representantes “artistas” do naipe de Jonas Brothers, McFly, High School Musical, Cine, Hori e a besta de todo esse Apocalipse, o “vergonha alheia” Restart. Some-se a estes um denominador comum chamado “público de adolescentes pouco resolvidos e sem um pingo de sede por cultura” e chegaremos ao produto final que temos hoje: um cenário de rock mainstream onde as bandas novas são intragáveis se você tem uma idade mental superior à 14 anos de idade. Não sou saudosista. Não fico querendo voltar ao passado, nem acho que “a música de antigamente era melhor”. Pelo contrário, existem bandas e artistas hoje maravilhosos, escondidos nos Myspaces menos acessados, nos barzinhos, nas igrejas, nos home studios e nas garagens desse nosso mundo injusto. O que penso sim é que hoje parece estar mais fácil do que em nenhuma outra época anterior de se fazer valer de música ruim como meio de sobrevivência. A música ruim já existia no passado, como eu bem disse, mas ela nunca havia sido de um nível tão baixo, e atingido tanta gente como nos dias atuais. Hoje temos lixo como música popular, e o “pop” de outrora passou a ser erudito atualmente. Caras como Prince, Michael Jackson, bandas como Beatles, Led Zeppelin, que antes eram consumidos pela parcela maioral das pessoas, hoje são artigos de luxo, para os ouvidos de poucos ouvintes que demonstram uma maior acuração cultural. A música popular esta beirando o completo ridículo!


Diante deste espiral que a industria musical parece sempre seguir, buscando quase sempre os maiores lucros e não dando lá muita importância para o real talento dos artistas (só assim se explica gente como Justin Bieber e Lady Gaga disputando os mais altos índices de popularidade em um mercado que um dia já teve a genialidade de Michael Jackson a seu serviço), resta a nós, cidadãos pensantes e dotados de um maior senso de cultura e arte, buscar nossos próprios artistas nos meios marginais de mídia, pois estes parecem ser a única coisa que ainda nos traz música de qualidade, pois esperar outra revolução como a provocada pelo grunge e pelo rock alternativo durante os anos 90, no tipo de cenário que temos hoje, é uma tarefa tão encorajadora quanto a de enxugar um iceberg com uma toalha.

2 comentários:

  1. (Y) curti o texto cara. http://www.youtube.com/watch?v=BIxB87M9WG8 da uma ouvida nessa banda e vê o que você acha

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  2. Música de qualidade não é só que vc gosta, e sim a industria cultural dita muita coisa mas dizer que uma banda ou genero é ridiculo só pq não te agrada em um texto que devia conter conhecimentos sobre o rock alternativo e não discursos prconceituosos. Isso é um discurso de conservadorismo, igual aquele que o rock combateu em seu inicio.

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