terça-feira, 19 de outubro de 2010

BBB Brasil: o show da realidade ?!?!?


Texto por Álvaro Freire Samways

Juntamente com a expectativa pela década de 2000, outra coisa invadiu os lares das pessoas que viram a mudança de milênio acontecer: a explosão de popularidade dos programas chamados Reality Shows. Neste tipo de programa o foco a ser captado como atração é diferente dos programas tidos como tradicionais. Ao invés de veicular ao expectador algo ensaiado por artistas e que segue um roteiro, os Reality Shows buscavam justamente o contrário, mostrar o comportamento humano de forma espontânea, em situações de convivência com outros seres humanos.

Hoje em dia podem-se contar vários formatos deste tipo de programa, de um grupo de pessoas desconhecidas confinado dentro de uma casa; Pessoas buscando o status de ídolo musical; O acompanhamento do dia a dia de trabalho em algum tipo de serviço arriscado (como bombeiros ou policiais); O grupo de pessoas numa praia deserta no meio do nada, e até mesmo o caso bizarro do reality show vivido por Ozzy Osbourne (que teve câmeras instaladas em sua casa para que seu dia-a-dia de excessos e brigas de família pudesse ser acompanhado por milhares de pessoas ao redor do mundo), só para citar alguns exemplos.

Mas lá nos primórdios dos 2000, quando este tipo de programa surgiu, o formato adotado era um só, apenas com variâncias de nome entre as 36276 versões promovidas por canais diferentes, mas que na real se tratavam era da mesma coisa: o grupo de pessoas totalmente desconhecidas da mídia ou não, confinado dentro de uma casa luxuosa e equipada com câmeras, com cada participante lutando para ser o último a sair da casa e assim receber o prêmio milionário. E os “da poltrona” claro, podiam acompanhar os trechos da convivência diária dos participantes que eram selecionados pela emissora e veiculados no horário oficial do programa ser exibido (os mais assíduos expectadores podiam então comprar a versão pay per view e assim acompanhar 24 horas esses programas). Os mais conhecidos dessa primeira geração de reality shows pelo povo brasileiro foram o “megapoderosomultinacional” Big Brother, com seus direitos de promoção e veiculação em mídia comprados pela Rede Globo (que surpresa, não?!), e a cópia nacional feita pela emissora do “Homem do Baú”, o SBT, a na época também famosa Casa Dos Artistas, que de diferente do Big Brother, só tinha o fato de que seus participantes eram celebridades de segunda linha, como as mega gostosonas Tiazinha e Feiticeira (se você era adolescente na época em que Luciano Huck não era ainda um a atração das tardes de sábado da Globo você sabe muuuito bem quem elas são), o ator/cantor (por favor não leve essas palavras a sério) Alexandre Frota, e o hiper canastrão filhinho de “papito” Supla, além de atores que nadavam no mar do ostracionismo e do limbo, como a até então indigente atriz Bárbara Paz. Um fato curioso é que a Endemol (empresa responsável pelo Big Brother e sua vendagem de direitos ao redor do mundo) acabou gostando da idéia de Sílvio Santos, tanto que no mesmo ano de 2000 criou uma variação de sua atração, o “BBB Vip”, que tinha seu cast composto somente por artistas, e que acabou sendo exibido na Holanda.

Eu estava a ver um filme na televisão quando um comercial me informou que a 11ª edição de BBB já está em fase de inscrição, buscando novos participantes.A constatação deste fato me despertou a seguinte indagação: os reality shows, que como o nome sugere, deveriam nos ilustrar com cenas da realidade humana, realmente o fazem??? O tal discurso vivido por ex-participantes de que “o BBB foi uma experiência de vida enriquecedora” é mesmo algo válido? Vejamos...

Eu não sei você meu caro leitor, mas eu não me lembro de alguma vez na minha vida estar numa casa bacana como a do BBB, vivendo junto de mais uma dezena de pessoas que eu nem sabia que existiam. Quando no muito uma casa brasileira tem como moradores mais de dez pessoas, ela geralmente não passa de um casebre de pau-a-pique no sertão do agreste nordestino, ou de uma casa feita de papelão e pedaços de tábua em alguma favela de um grande centro metropolitano. E geralmente os “participantes” deste BBB de miséria são crianças, que dividem o pequeno espaço de “salacozinhabanheirocopaquartotudojunto" de 10m quadrados com seus 8 irmãos além do pai de da mãe.

Outro fator agravante é o de que no BBB não se faz absolutamente nada. Sim, ninguém esquenta a cabeça com nada. Não é preciso trabalhar, exceto em uma ou outra prova a qual os participantes devam se submeter para conseguir um privilégio, como comida, por exemplo. No mais, cerca de 95% do tempo de estadia na tal “casa mais vigiada do Brasil” representa um tempo ocioso recorde na vida daqueles que lá estão. Um tempo livre como este é uma dádiva que qualquer ser humano gostaria de ter em sua vida, tendo como seu valor quase que o de um tesouro. Mas para que realmente valha a pena, (tal como na Grécia antiga da era Socrática), o tempo ocioso deveria ser aproveitado em atividades de cunho afetivo, como uma confraternização entre amigos ou família, por exemplo; De cunho cultural, como a apreciação de uma forma artística de valor para o indivíduo; De cunho saúde, com atividades que garantam uma manutenção do bom estado de saúde física e mental; Ou então de cunho filosófico/reflexivo, numa tentativa de assim perceber e buscar novos conhecimentos. Mas não meus amigos, nada disso passa nem perto do que os BBBs fazem dentro daquela casa. Confraternização entre eles, só da forma mais vazia possível, em festas regadas a muito álcool e hormônios, para que assim a Globo atinja seus picos de audiência quando algum casal participante decida pisar além da linha da moralidade, casal este que a algumas horas antes nem existia, e mais, era inimigo mortal numa daquelas panelinhas que se formam lá dentro para aproveitar o tempo livre de forma a criar boatos e intrigas sobre outros participantes. Já na parte cultural, o que mais tenta sofregamente se aproximar disso é quando algum artista (sendo que a maioria nem pode ser chamada assim) resolve visitar a turma como, por exemplo, a hiper arroz de festa Ivete Sangalo ou seu clone mais próximo, Claudia Leite, comparecem para animar uma das orgias com suas músicas de gosto duvidoso. No que diz respeito à saúde, os BBBs até que fazem exercícios físicos, sendo que a maioria é até “marombado”, mas é só. A vontade é somente esculpir um corpo belo, como forma de chamar a atenção dos outros. Interesse em manter saúde passa longe dos objetivos. E também, do que adianta, um corpo esculpido no Olímpo, quando o cérebro parece ter sido cozido num forno de senzala, tal a futilidade apresentada. E por último, na parte filosófica/reflexiva, nada realmente acontece. No máximo um “em quem eu deveria votar hoje?” é o que cada participante se pergunta a si mesmo. Ao contemplar toda essa experiência vivida pelos BBBs, o que eu percebi é que a vida deles não se assemelha em nada com a de um brasileiro mediano. Assemelhasse sim à vida de um político ou magnata menos cotado: nenhum trabalho e muito tempo livre, sendo que este é aproveitado para tentar manter uma imagem bonita aos olhos dos outros, acumular privilégios e criar estratégias que possam assegurar uma forma de conseguir se dar bem e ao mesmo tempo passar o próximo para trás.

Eu poderia passar dias aqui enumerando mais e mais motivos para mostrar que o Big Brother Brasil não passa de algo que está à quilômetros das vidas de nós brasileiros normais, que não somos ricos, trabalhamos como verdadeiros burros de carga, não temos tempo livre e nem corpos de deus grego, mas julgo que estes exemplos citados acima já transmitem de maneira lúcida o que é então o tal reality show: algo deslocado de qualquer realidade, se não a deles mesmos lá dentro, onde ganha o prêmio quem mais se mostrar ignorante, trapaceiro, futil e duas caras possível. E quem não ganhar o prêmio pode pelo menos usar agora de seus 15 minutos de fama e da triste alcunha de “celebridade” para tentar agarrar uma teta em algum modo de mídia, como assim fizeram as belas e simpáticas (mas desprovidas de qualquer talento), Sabrina Sato e Grazi Massafera.

A verdade meus caros leitores não é outra se não esta: o Big Brother não passa de uma das mais poderosas ferramentas no show de burrificação ao qual todo brasileiro está exposto todos os dias através de seus meios de comunicação. Um programa que somente promove a chance de que jovens de corpo sarado e mente vazia possam dar alimento ao sonho de se tornar famosos, sem que, entretanto, precisem dispor de qualquer conteúdo e talento, podendo assim usar de formas chulas para chamar a atenção, como a exposição de seus corpos seminus ou de suas ignorâncias, tudo em rede nacional. BBB é um programa que não representa nada, mas simplesmente nada de engrandecedor, nem para aqueles que lá estão, quão pouco para aqueles que o acompanham de suas casas. E digo mais: pior que os que dele participam, são aqueles que assistem este tipo de programa, que na minha opinião deveria ser proibido de ser veiculado até em experiências com chimpanzés lobotomizados. Pois por mais nojento que este argumento seja, lá dentro da casa eles concorrem a 1 milhão pela burrices que protagonizam. E você que assiste BBB, ganha o que pela burrice a qual é exposto?

domingo, 15 de agosto de 2010

Música Para Todo Mundo Ouvir


Texto por Álvaro Freire Samways


Com os avanços tecnológicos advindos na pós-modernidade, ouvir música deixou de ser um ato possível somente dentro de sua casa, perto daquele aparelho de som que trazia além do rádio, um reprodutor de mídia física (primeiro os discos, depois as horrorosas fitas K7 e por último os cds). Para mudar esta história vieram primeiro os paleozóicos Walk-Mans (quem da minha geração não lembra do famoso modelo amarelinho da Sony, que virou moda entre os jovens da época?), e mais posteriormente, com a ascensão do Compact Disc, os Disk-Mans (nos quais bastava um esbarrão para que o cd tivesse um erro de leitura por parte do aparelho). Hoje temos muito mais comodidade e qualidade na hora de levarmos nossa música favorita conosco para a rua, pois com a criação da música virtual (sem mídias físicas que pudessem riscar, empoeirar, arrebentar, entre outras tragédias), e a popularização do formato MP3, os aparelhos desse mesmo nome puderam substituir com finesse seus ancestrais, permitindo ao ouvinte levar consigo uma quantidade muito maior de músicas, ocupando bem menos espaço, num formato anatomicamente muito mais confortável, e sem aquele perigo “da música parar por causa da freada brusca do ônibus”. Isso por que eu nem citei o Ipod, que para muitos foi a maior invenção desde a televisão e o computador.


Até ai tudo ia mesmo muito bem, com cada indivíduo equipado com seus fones, ouvindo aquilo que lhe agrada, num volume que lhe é desejado. Mas aí aconteceu o fato que viria a mudar radicalmente este cenário: a invenção do celular com MP3, com a posterior evolução dos aparelhos de MP3/MP4. Esses aparelhos vieram pra reproduzir, em tamanho miniaturizado, a mesma coisa que a onda chateante do som automotivo causou: a falta de respeito para aquele que está ao lado e não quer ouvir a mesma música que você. O stress provocado por esses dois tormentos só é semelhante ao provocado quando se percebe a música sendo ouvida pelos energúmenos que cultivam este tipo de comportamento, que geralmente é de pior qualidade que suas aparências.


Eu me questiono seriamente sobre o motivo que leva alguém a fazer tal tipo de coisa, e acabo chegando a vários deles. Entretanto, o que deveria constituir o mais óbvio, esse nem passa como uma alternativa, que seria: vontade de ouvir música. Sim, é isso mesmo que você acabou de ler!!! Quem coloca um som assim, em pleno ambiente público, em volume alto a ponto de perturbar as sinapses alheias não está interessado em ouvir música!!! Bom, agora deixe eu lhe explicar os motivos.


O primeiro é que, quem está com um som alto, seja em seu carro “socado” ou em seu celular MP15, NUNCA está prestando a atenção na música (embora eu realmente ache que são raros os casos onde um indivíduo que faz isso está de fato ouvindo algo que possa ser chamado de música). Ou ele está dirigindo sua saveiro cheia de som, ao mesmo tempo que fica olhando para a calçada para ver quantos indivíduos o estão observando, ou está encostado nela tomando uma cerveja, numa pose de guerreiro-deus Thor após vencer uma batalha, enquanto bate papo com seus outros colegas que também são chegados em coisas idiotas e vazias tanto quanto ele. Já quem anda com o celularzinho com música, está mais é prestando a atenção em sua caminhada, também de olho nas menininhas que vão achar ele um cara descolado, ou então nos garotos que vão lhe dar uma cantadinha vulgar pra qual ela fará cara de nojo, mas com o fundo de sua alma sentindo enorme prazer, isso caso seja uma menina (o que é mais ridículo) ao estar em tal ato de bestialidade, além de que quem faz isso está completamente exposto à poluição sonora típica das ruas, o que torna o ato de realmente apreciar a “música” de seu celular algo quase impossível. Quem realmente está interessado em poder apreciar suas músicas favoritas enquanto caminha pelas ruas usa fones!!!! Eles sim garantem uma apreciação musical mais satisfatória, livre dos ruídos sonoros que irão atrapalhar este ato, embora ruas ainda não sejam o melhor lugar para se ouvir música. Quanto a quem está dirigindo, e com o som de sua máquina em alto e (nem tão) bom som, a primeira coisa a se dizer é que música em carro é entretenimento para os passageiros, pois a atenção que demanda o ato de dirigir torna impossível uma boa apreciação musical por parte daquele que dirige. Portanto se você vê alguém dentro de um carro sozinho, dirigindo, e com o som berrando, pode saber que ele não está ouvindo a música que está sendo vomitada pelas suas cornetas e subwoofers que lhe custaram todo o salário de um mês, ou no caso dos playboys, o dinheiro da mesada.


O segundo motivo é que esse tipo de pessoa não tem um verdadeiro senso de apreciação musical, sendo que na verdade geralmente nem sabem o que isso significa. Contemplar uma música é algo muito mais denso do que aquela euforia de cantar a letra corna do sertanejo das baladas de quinta-feira, ou dançar o "créu" na velocidade 5 quando a criatura que se diz vocalista assim ordena. Apreciar músicas de maneira correta é primeiramente saber distinguir o que é música e o que é lixo, o que de fato é arte do que é oportunismo e vontade de encher o bolso. Atingida esta etapa, o que vem depois é o ato de se deixar levar pelo que está sendo tocado, prestar a atenção em todas as minúcias da composição, mas não de maneira proposital (como é de característica principalmente de alguns músicos, que ouvem toda música como se precisassem “tirar” ela para tocar com sua banda). É se deparar com a toda a excelência harmônica, melódica e poética da canção de forma espontânea, intuitiva, numa conexão diria eu espiritual com o que esta sendo passado pelo artista em seu trabalho. Ser tomado pelo sentimento que a canção exprime, passando a sentir o que a música quer transmitir, esteja isso em concordância com o que o artista que compôs tal obra pensou no momento em que estava criando-a, ou não. Seja nos gritos de “Calm Like A Bomb” de Zack De la Rocha protestando no Rage Against The Machine, ou pelas sutilezas românticas das harmonias de Tom Jobim em “Garota de Ipanema”, pela potência vocal de um Fred Mercury cantando “We Are The Champions” com o Queen, ou na poesia incrível escrita e entoada por Eddie Vedder, cada vez que o Pearl Jam toca “Black” em um de seus shows. Sei que parece shakeaspeariano demais, mas é por que isto é de fato algo um tanto complexo, e que cada a dia vemos menos.


E é fácil distinguir quem realmente sabe apreciar a boa música que está sendo emitida, daquele que nem sabe o que está saindo do seu aparelho de som. O primeiro indício é justamente que música está sendo veiculada pelo aparelho de som/celular/som automotivo/e sei lá mais que diabos do tal indivíduo. O cara que coloca um cd do Furacão 2000, da Lady Gaga, do Fernando e Sorocaba, do Sorriso Maroto, do Parangolé ou do Restart (só para citar algumas entre as inúmeras "podreiras" que infectam nosso mercado musical) para tocar, não é alguém que realmente aprecia boa música. Na verdade ele nem aprecia música, por que gente do nível desses caras acima citados nem chega a fazer música. O que eles fazem é simplesmente lixo. Feito pra vender por algumas temporadas, enriquecer “artistas” (favor ler essa palavra com todo o sarcasmo e ironia que existe em seu ser) e empresários, manobrar gente pouco pensante a consumir suas pseudomúsicas e as modas que advém de seu modo de ser (roupas, modo de falar, de cantar, etc).


O segundo ponto que indica se uma pessoa sabe apreciar música é o volume em que está sendo ouvida a dita música, juntamente com a forma com a qual o cidadão está se portando para com ela por isso. Quem quer apreciar as músicas que gosta não coloca no último volume seu aparelho de som, por que não há necessidade disso, e até por que se sabe que quanto mais um aparelho é forçado em seu limite sonoro, mais ele perde em capacidade de manter a reprodução da música com qualidade. Quem quer curtir seu artista favorito coloca o som em um volume moderado, que lhe permita ouvir tudo com clareza, e esse volume quase sempre não é um volume que chegue a incomodar as pessoas ao seu redor (como os vizinhos por exemplo). Daí você pode me indagar: “Bem, mas há quem curta som num volume bem alto, dançando e cantando, o que você me diz disso?”. A resposta está justamente na pergunta. Quando um indivíduo está a ponto de querer acompanhar sua tão amada música, seja cantando ou dançando, significa que um volume maior de massa sonora deve realmente ser empregado na hora de sua reprodução.


E para a nossa primeira pergunta, que diz respeito aos motivos que levam uma pessoa a colocar som alto em ambientes públicos, a resposta mais aguda e fidedigna é a seguinte: esta pessoa é simplesmente alguém que não tem espírito crítico nenhum, uma pessoa totalmente desprovida de personalidade, que, por viver num mundo dominado por idiotas, aprendeu a achar isso bom, e agora quer somente repetir o que estes idiotas estejam achando legal fazer naquele momento, seja isso legal realmente ou não. Ela só quer ser mais uma pessoa “descolada”, “da hora”, “maneira”, para quem o bando de idiotas já assumidos olhe e diga: “poxa, esse cara é legal, vamos chamar ele pra andar junto de nós!”. Ela só quer entrar para a alcatéia de gente babaca, gente esta que foi burrificada pela exposição diária a doses de ignorância massiva, veiculadas por uma mídia popular especializada na formação de ignorantes desprovidos do mínimo de criticidade e de personalidade. Pessoas que acham que um dia serão alguém, mas querem chegar a isso tentando ser como a maioria, sem nem saber se isso é bom ou ruim (claro, pois como foi dito, elas não sabem mais criticar). E eu e você, seres pensantes, sabemos claro, que isso é ruim. A cena mais patética é você passar por uma roda de pessoas com copos na mão, o carro com o som em sua potência máxima, obrigando tais pessoas a conversar aos berros, sem nem prestarem a atenção à música. Isso é o que eu chamo de “síndrome de comportamento musical de baladeiro”. É um mal que se explica pela necessidade que uma pessoa (em 100% dos casos de vida vazia) sente de estar o máximo de tempo num ambiente que lembre uma balada, pois lá ela se sente alguém legal, visto que longe de um ambiente onde praticamente todo mundo é um babaca, ela naturalmente se sentirá como o imbecil que ela é na realidade. Por isso ela encosta seu carro em frente a sua casa (ou de um amigo), reúne a “galera do fervo”, coloca músicas ruins numa altura que atrapalhe seu diálogo com alguém próximo e ao mesmo tempo irrite os vizinhos, leva um isopor cheio de cervejas no porta malas e fica jogando charminho barato para quem quer que passe pela rua no devido momento em que toda essa tosquice está sendo protagonizada. A música nestes casos é só um barulho, que todo baladeiro sente necessidade de ter sendo percutido em suas orelhas pouco sensíveis. Qual é a música sendo reproduzida é o de menos, algo de importância nula eu diria. Por isso quando alguém passar ao seu lado com um celular berrando uma “música” de gosto duvidosíssimo, rodeado por amigos em um papo sobre o porre de anteóntem, saiba que você está diante de um idiota tentando se inserir no contexto, e sim, tentando chamar sua atenção para tal fato. Pior mesmo que este fato lamentável é o de que a maioria da população hoje é constituída por pessoas assim. Que Deus nos ajude no futuro que ainda está por vir, pois pelo que parece, será uma ditadura da ignorância.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Cds (Lançamentos) MASTODON



Mastodon

Crack The Skye

(Reprise Records)

2009

Ultimamente o bom e velho Rock Progressivo parece estar despertando novamente atenções, tanto de mídia quanto de público, embora possamos dizer que tanto esta mídia, quanto este público, não são necessariamente a maioria da população, o que eu diria, é muito bom. Bem, fiz este comentário devido a boa safra de novas bandas que surgem apostando em um som mais complexo, como faziam as bandas clássicas de Prog no passado, sem porém deixar elementos artísticos modernos de lado. Depois dos bons lançamentos do The Mars Volta nos últimos anos, foi a vez do Mastodon conceber um novo álbum de estúdio representando esta bandeira do novo Prog. E o gênero não poderia estar melhor representado.


Crack The Skye precisa de apenas 7 faixas para nos mostrar uma verdadeira obra conceitual, e uma aula de como se fazer Prog Metal, unindo elementos progressivos de bandas do passado como King Crimson e E.L.P, com elementos mais metal de gente como Slayer e Metallica. Temas como projeção astral, Rússia antiga, perda e desgraça recheiam o disco, visto que ele foi concebido justamente num momento difícil da banda, onde seus membros estavam enfrentando os mais variados demônios interiores. O guitarrista Brent Hinds foi parar no hospital por conta de uma inexplicável doença estomacal, além de ter sua mulher sido atropelada pro um carro. Brann Dailor, o baterista, viu sua mãe ser despejada, seu padrasto falecer, e sua irmã sofrer uma overdose de pílulas calmantes. Um cenário assim poderia fazer uma banda ruir, mas os membros do Mastodon conseguiram transformar tudo isso no mais impressionante álbum de suas carreiras.


Com produção de Brendan O’Brien (bem conceituado por seus trabalhos com artistas do porte de Rage Against The Machine e Audioslave, por exemplo), e composições incríveis, o disco nos mostra ainda timbres muito bem gravados e partes meticulosamente pensadas, como fica bem claro já na belíssima faixa de abertura “Oblivion”, que traz o baterista Brann Dailor cantando as estrofes com uma ótima voz, lembrando os melhores momentos do Tool.


De contrapartida “Divinations” , a mais curta do disco, é muito mais direta, tendo mais do peso do trash metal em seus arranjos, seja nos vocais agressivos ou em seus timbres pesadamente distorcidos, além de timbres maravilhosos durante o solo de guitarra. Uma grande canção. Em “Quintessence” as coisas voltam a figurar do lado prog, numa música com tantas mudanças de clímax que é até difícil entendê-la num primeiro momento, com um instrumental incrivelmente conciso, formando um bloco sonoro tão denso quanto uma pedra de diamante, numa música capaz de tirar o fôlego dos mais desavisados.


Em “The Czar”, com seus 10 minutos de canção, os temas tomam rumos mais depressivos, com uma belíssima intro que logo será guiada para um crescendo que tornará as coisas muito mais punch, sendo impossível não lembrar do King Crimson. Uma canção com tantos contornos só me faz pensar no enorme trabalho de ensaios pelo qual a banda deve ter passado antes de entrar em estúdio. Em seguida vem a musculosa “The Ghost Of Karelia”, melhor do disco, com uma intro em timbres maravilhosos de guitarra por parte da guitarra de Brent Hinds, para em seguida cair num instrumental poderosíssimo, totalmente ao estilo do fusion, num ponto que faria o pessoal da Mahavishnu Orchestra se orgulhar.


Em seguida vem “Crack The Skye”, a música que dá nome ao álbum e talvez por honra de carregar este título, sendo assim sobre a qual mais se constroem expectativas, seja a mais fraca no cd, não estando no nível das outras, o que nem por isso faz dela uma má canção, pois apesar de tudo ela possui belos timbres, e um excelente clima soturno, sendo sozinha melhor que praticamente tudo que se apresenta como “rock mudérrrrrrno” nos grandes veículos de mídia. Pra fechar o álbum a gigantesca “The Last Baron”, que apesar de possuir 13 minutos (que a título de curiosidade foi gravada inteira “ao vivo dentro” do estúdio), não torna-se monótona em momento algum, usando, pelo contrário, o tempo ao seu favor, pois cada vez mais tem-se vontade de que ela permança tocando, e não acabe a audição de tão maravilhoso disco.


Além da ótima audição pela qual o ouvinte prazerosamente irá passar, o álbum ainda possui outras recompensas, como seu belíssimo encarte (que na versão LP é ainda mais impressionante), com a arte conceitual de Paul Romano que traz temas pertinentes a Rússia Antiga e à Média Ásia. Se você ainda tem uma agulha, vale mesmo muito a pena comprar a versão vinil.


Crack The Skye é, sem sombra de dúvida, um dos melhores trabalhos de rock desta década onde tanta coisa tenebrosa se apresentou como a evolução do “rock and roll”. Se estas porcarias coloridas realmente são a evolução (ou involução melhor conceituando) do rock, eu prefiro fazer como os caras do Mastodon, e buscar inspiração no passado, para ser exposto à verdadeira arte, como fui neste maravilhoso Crack The Skye.

domingo, 25 de julho de 2010

O Valor De Um Prêmio


Texto por Álvaro Freire Samways

Recentemente estava eu lendo as notícias sobre o mundo da música em um site quando uma delas me chamou a atenção. Esta notícia falava sobre 17º Prêmio Multishow de música brasileira, que estará acontecendo no dia 24 de agosto. Lá fui eu ler sobre isso, e não tive como não ficar pasmo com as 12 indicações do grupo NX Zero, nas mais diversas categorias. O pior nem é isso, o pior mesmo é o fato de que a massa que compõe os seus concorrentes por estes prêmios, é no mínimo de farinha do mesmo saco que eles.

São muitas categorias por isso usarei só uma pra exemplificar o que eu vi:

MELHOR GRUPO (concorrentes)

Banda Cine
Detonautas Roque Clube
Fresno
Hori
Jota Quest
NX Zero
Restart
Skank
Strike
Titãs

Esta lista de nomes abismais compõe as opções de voto que o internauta terá na página oficial deste prêmio na internet. Vamos primeiro analisar esta lista. Ela é composta de dois tipos de gente: os que estão na última moda, e os que são sustentados pelo que foram no passado.

Gente como Banda Cine, Fresno, Hori (do oportunista filho do cantor mela-cueca Fábio Júnior), Restart, Strike e o carro chefe NX Zero, são a própria expressão encarnada do declínio da industria musical que assola nosso país (e por que não o mundo todo) nestes últimos anos. Uma prova de que as gravadoras e empresários não estão nem ai para o talento de seus contratados, e que o que interessa mesmo é a quantidade de dinheiro que eles conseguem arrecadar de seus fãs zumbis, que não demonstram uma centelha de espírito crítico na hora de chorar por qualquer coisa que eles façam. Também são a personificação do termo “modismo”, demonstrando que basta a mídia pregar como algo bom para que toda uma turba de acéfalos venha a acreditar nisso. É só uma versão moderna do que Goebbels fazia durante o nazismo, que era “contar uma mentira mil vezes, até que ela se tornasse verdade”. É isso que estes artistas são: mentiras.

No outro pólo estão aqueles que ainda dão a volta olímpica pelos louros de vitórias do passado. Caras como Detonautas, Skank e Titãs já tiveram seus momentos de glória outrora, mas não conseguiram renovar seu público, que hoje é constituído por gente ainda daquela época. O Jota Quest até que se saiu bem nessa tarefa, mas isso é mais mérito do sucesso do vocalista Rogério Flausino com as fãs transbordantes de progesterona do que propriamente um mérito artístico. Estes nomes aparecem no prêmio apenas como uma forma de agradar este povo mais velho, e também alguns críticos musicais, por que pode ter certeza, eles não levarão prêmio algum. E o mais interessante de tudo é que isso é de responsabilidade da própria mídia. Ela quer que estes indivíduos ganhem estes prêmios promovidos por elas mesmas, pois isso trará mais lucro$, mas para que o prêmio seja algo válido e verossímil, elas fazem questão de dizer que é “sem marmelada” e de “cunho democrático”, baseando isso no argumento de que a votação é aberta ao público pela Internet, e que é de lá que vem os resultados. Será que este argumento é válido? Analisemos.

É a mídia de massa quem da forma, promove e soca goela abaixo de gente menos pensante (a grande maioria, infelizmente), bandas e artistas que durarão um ou dois álbuns desprovidos de qualquer molécula de talento, mas que durante este período ao sol, arrecadarão cifras milionárias tanto para si quanto para empresários, gravadoras, canais de TV, promoters de eventos, entre outros menos cotados. Depois de conquistar esta massa de gente, pra quem o botão “randon” do Ipod é mais importante que o ato de ouvir um disco por completo, eles garantem não só uma base de lucro, mas também estabilidade, pois estes serão os seres que votarão em seus artistas descartáveis nestas votações “democráticas” promovidas por eles.

Agora me diga: que chance um artista independente, que faz um trabalho de qualidade incontestável mas que esta longe da mídia de massa (talvez justamente por ter qualidade demais para estar neste tipo de mídia “povão”), teria numa votação destas, contra uma banda ridícula como este Cine, que apesar de nem saber conjugar o verbo “compor” em sua forma mais simples, tem todo um veículo de mídia lhe dando suporte? Claro, não teria a menor chance, tanto é que nem é relacionado, pois mesmo num quadro de “Revelações” figuram os nomes de porcarias que virão a substituir estas que hoje ocupam o trono, continuando a reproduzir este mercado fonográfico decadente e destituído cada vez mais de artistas genuínos, dotados de cérebros pensantes e talentos, antes dos rostinhos bonitos (sim, pasmem, mas há quem ache aquele visual escroto ostentado por seres como o bando Restart, algo legal, digno de inspiração).

Por isso é que pergunto: qual o valor de um prêmio? Ou melhor: qual o valor de um prêmio destinado exclusivamente à gente desqualificada? Um prêmio que só servirá de pretexto para afirmar um lixo como um artigo de luxo, vender um sabugo mastigado por uma capivara como uma fina iguaria. Resumindo, contar a mesma mentira por mil vezes para assim convertê-la em verdade. Mas essa é, graças a Deus, uma “verdade” que vai figurar só na cabeça de gente que tem preguiça de enxergar a realidade.

terça-feira, 13 de julho de 2010

CDs (Clássicos) SEPULTURA


Sepultura

Roots

(Roadrunner Records)

1996


Texto por Álvaro Freire Samways


Depois do sucesso e a repercussão mundial de Beneth The Remains, Arise e Chaos A.D. era mais do que esperado que o Sepultura fosse lançar algo bombástico no mercado musical, e isso veio na forma do álbum Roots de 1996. Primeiro deixarei bem claro: o álbum todo se chama The Roots Of Sepultura, e é uma compilação, sendo que o CD 1, chamado Roots, traz somente faixas inéditas, enquanto que o CD 2 é uma reunião de b-sides, covers e performances ao vivo da banda, desde sua formação em 1984. Neste artigo estarei falando somente do disco Roots, que é o disco de faixas inéditas que elevou o Sepultura ao patamar de banda de metal mainstream. Usando de elementos da cultura indígena brasileira, fosse em seus sons ou em suas letras, a banda (que na época contava com sua mais cultuada formação até hoje: Max Cavalera nos vocais e guitarras secundárias, Andréas Kisser na guitarra principal, Paulo Jr. no baixo e Iggor Cavalera na bateria) teceu uma combinação de canções tão intensa e meticulosa que os levou ao patamar de banda de trash-metal obrigatória para os amantes do estilo de qualquer parte do globo terrestre, sendo por muitos celebrada como a banda que iria dominar o estilo no mundo. Porém pouco tempo depois o carismático vocalista Max deixou o grupo, o que acabou por fazer a banda perder muita força e um pouco de seu prestígio entre uma parte dos fãs (mergulhando-a em uma crise que não foi superada nem pela subseqüente entrada do ótimo vocalista Derrick Green). Bom, pelo menos eles podem dizer que são a maior banda brasileira de todos os tempos (como se isso fosse pouca coisa) internacionalmente, pois nenhum outro grupo, mais que o Sepultura, figurou nos grandes festivais musicais, programas de TV, revistas e etc por todo o mundo do que eles.


Roots traz uma sucessão de temas brutais ao longo de suas 15 faixas, todas elas constituindo um trash/groove-metal até então nunca visto sendo praticado por banda nenhuma, pois unia temas brasileiros como musicas indígenas, baião e maracatu à fórmula pesada usada por gente como Slayer, Anthrax e Metallica, fazendo assim uma bela alusão ao seu título. O resultado desta união é a música que garantiu identidade própria ao Sepultura, além de um lugar entre estas supracitadas bandas como uma das maiores do mundo no estilo.


Logo de cara, em sua abertura com a célebre “Roots Bloody Roots” (obrigatória em todo e qualquer set list ao vivo da banda), a impressão que se tem é a de que a banda está tocando em plena floresta amazônica, sendo acompanhada pelos tambores de guerra xavantes. “Atittude” mantém o peso nas alturas, não abandonando os bons grooves, com Iggor Cavalera mostrando-nos o que aconteceria se caso Dave Lombardo tivesse ido passar uma temporada nas regiões remotas da Amazônia. “Cut-Throat” também usa de elementos tribais em seus arranjos, sendo tão densa quanto um muro de concreto de Alcatraz. Mas o mergulho total no clima indígena tupiniquim vem com a fanfarrona “Ratamahatta” (melhor do disco) logo em sua intro. Imagine a sensação de um gringo ao ouvir uma letra com versos como “fubanga, maloca, bocada”, “Zé do Caixão, Zumbi e Lampião” e “Vamo de detona essa porra!”. Lembrando que esta musica conta com a participação de Carlinhos Brown, que na época andava com o nome em alta.


Em “Breed Apart” a impressão que se tem é a de um inacreditável cruzamento de Nação Zumbi com Slayer, com uma intro maracatu e a presença de instrumentos como berimbau, e o peso paquidérmico das guitarras, baixo e vocalizações. Daí pra frente vêm uma ala de canções mais pesadas, sem tanta presença dos elementos brasucas, levando mais um trash-metal padrão ao ouvinte. “Straighthate” segue a linha “doom metal” enquanto “Spit” é uma pancada direta, derretendo em poucos minutos o cérebro dos desavisados. Já “Lookaway” é tão arrastada e pesada, que chega a angustiar o incauto ouvinte.“Dusted” e “Born Stubborn” seguem no clima pesado, mas essas tendendo bem mais pra um lado industrial, com Max potencializando no peso com seus urros mais inspirados.


Novamente retornam as músicas de clima indígena amazônico, com “Jasco” e seu violão direto das rodas caboclas do Pará, sendo seguida por “Itsári”, uma verdadeira dança de celebração indígena da tribo xavante gravada especialmente para entrar neste álbum. Depois destes devaneios tribais, segue a groovadíssima e ótima “Ambush”, que possui uma letra de protesto em favor da Amazônia, trazendo um riff musculoso de guitarra de Andreas e vários elementos da música cultural indígena em uma pausa que há em seu meio. “Endangerd Species” é outra que protesta contra os crimes e comércio de animais silvestres, trazendo um propício clima pesadíssimo para abordar tão triste tema. Para fechar o disco, a paulada “Dictatorshit”, um trash metal rapisíssimo adivindo lá da época Beneath The Remains.


Roots é a obra prima do Sepultura e um dos 5 maiores discos de trash-metal da história, sem sombras de dúvida. Se Max não tivesse abandonado o grupo nesta fase crítica, conseqüentemente o Sepultura poderia ter sido a maior banda do estilo no planeta Terra, mas isso, infelizmente, nós nunca saberemos. Só da mesmo pra ter certeza de que o Sepultura criou um jeito totalmente peculiar de tocar metal, misturando-o a ritmos tribais amazônicos, maracatu, baião e outros elementos presentes na cultura do norte do Brasil, garantindo assim uma identidade inimitável dentro de um estilo saturado por tantas bandas sem o menor resquício de criatividade. Nota-se essa face artística indígena no álbum como um todo, sendo que além da música toda a arte envolvida em desenhos nos encartes, pinturas no cd e etc segue esta linha, criando assim uma obra honesta em sua proposta em todos os momentos . Este disco é sem dúvida nenhuma, As Raízes Do Sepultura.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Revival É Uma Mentira


Texto por Álvaro Freire Samways

Nos dias atuais estamos encarando uma tendência ao Revival. Cada vez tentam trazer uma década passada de volta à tona, para nos dias atuais vivermos costumes, tendências, moda e músicas daquele período. A bola da vez encontra-se nos anos 90, com várias coisas daquela época retornando como artigo de moda as lojas (vide o retorno dos óculos Wayfarer nas cabeças de um monte de gente, seja famosa ou não), vídeo-games como os 16 Bits Mega Drive (que saudades!!!) e Super Nes, ou mesmo o 32 Bits Playstation tendo recordes de downloads por parte de seus respectivos emuladores, desenhos animados que faziam nossa cabeça, e claro, como não poderia deixar de ser, a música daquela época retornando.

Temos grandes bandas daquela época retornando, seja com suas formações originais ou não, como Alice In Chains e Soundgarden, só para citar dois exemplos de peso, além de gente que, como eu, cresceu naquela época e busca reviver os dias do rock alternativo com suas banda na atualidade. Tudo isso pode ser muito legal, trazer muitas emoções nostálgicas legais, mas, o Revival é uma mentira!

Por mais que seja adorável o sabor que vem à boca quando lembrarmos das coisas boas de nossos tempos de mais jovem, não adianta ficar mascarando a realidade de algo que se perdeu, usando para isso estes Revivals. Eles não dão certo. Nem são de verdade. Revivals não passam de golpes de mídia para justamente agradar pessoas que não conseguem se desgrudar daquilo que elas sabem que nunca mais poderão viver novamente. Um clássico exemplo são aqueles tiozinhos patéticos, barrigudos, de óculos e penteados “careca na frente com rabo de cavalo atrás”, cujo único papo numa rodinha com gente mais nova, é o de que música boa era aquela feita no passado, reclamando do presente e sentindo saudades da época em que o rock falava de dragões e fábulas da idade média. Realmente, ao encarar coisas como Fresno, NX Zero, Hevo 84, e outros desclassificados de mesmo calibre, não tem como não bater um misto de saudade e indignação por estar vivendo um presente tão tosco. Mas, no entanto, sempre houve gente fazendo música ruim, o que varia é só a quantidade, que aumentou exponencialmente há alguns anos. Isso por si só, não serve como desculpa.

Outra coisa que conta demais nessa hora, é o fato de que mesmo que várias bandas atuais voltassem a fazer aquele som do passado, você acha que alguém deixaria de ouvir as bandas daquela época para ouvir as atuais? Talvez até se prestasse a atenção nelas, mas nunca, em hipótese alguma, eu trocaria o bom e velho Nirvana de minha época de moleque, por alguma banda que apostasse nesta fórmula sonora e fosse advinda dos dias atuais. E pior, com certeza essas bandas seriam taxadas de plagiadoras, paga pau, ou sem criatividade, justamente por essa mídia, que hoje tenta com elas, ganhar dinheiro apostando nos sentimentos saudosistas que todos nós temos.

Já se fizeram Revivals de outras épocas também, lembro de que em minha época de garoto os anos 70 estavam “bombando”, com todo tipo de coisa que era moda naquela época retornando (até mesmo as asquerosas calças boca de sino estavam ganhando novos adeptos), e todo mundo que viveu aquela época (e gostou) já se encontrava derramando uma lágrima, esperançoso por uma volta àqueles dias. Entretanto, em questão de um ou dois anos, tudo aquilo virou poeira (graças a Deus as calças boca sino foram junto).

Depois foi a vez dos anos 80 retornarem, e isso aconteceu pouco tempo depois. Mas assim como aconteceu antes, na velocidade com que retornaram, foram esquecidos. Tempos depois foram ainda mais além, e resolveram resgatar os anos 60. Várias bandinhas que faziam aquele som “beatlemaniaco” ganharam a mídia de documentários sobre o “Resgate dos anos 60” que estava acontecendo. Em menos de um piscar de olhos, gente como os Faichecleres (quem?!?!?) voltaram pro anonimato, junto com o Revival que ajudaram a criar.

Outra modalidade de Revival mais peculiar é quando algum artista resolve falecer. Geralmente quando isso acontece, uma avalanche de coisas relacionadas ao indivíduo começa a ser veiculada/explorada por todo tipo de meios, do programa de horário nobre até a banquinha de cds piratas da praça. Um caso atual aconteceu com o maior de todos os artistas pop a pisar na crosta terrestre em todos os tempos: Michael Jackson.

É incontestável o talento deste homem, e a contribuição que ele deixou para a indústria musical (talvez a maior em todos os tempos), tanto é que nem existem palavras para mensurá-la. Mas sejamos francos, quem é que ligava para Michael Jackson ultimamente? Assim como a qualidade e criatividade de seus discos, que após o irregular Dangerous de 1992, veio somente a decair, o genial artista de outrora veio a mergulhar permanentemente no ostracismo. O único motivo de ele ser assunto em mídia, ou mesmo rodas de bate papo era por algum escândalo envolvendo seu nome. Seja quando protagonizava alguma nova trapalhada judicial, ou quando algum novo gosto duvidoso e estranho era revelado por alguém próximo, ou quando sua aparência (quem nunca fez chacota com sua pele draculianamente pálida, seu “nariz de massinha” ou qualquer outra de suas plásticas, que mais pareciam um serviço de borracharia mal feito) recebia nova “homenagem” em forma de piadinha. Nenhuma musica dele era tocada em rádio, nenhum clipe exibido em programas de TV, nem tampouco se comentava sobre a genialidade que até mesmo ele havia esquecido que tinha. Mas de repente Michael Jackson morre, e o que acontece? Uma enxurrada de revivalismo em torno de sua pessoa e sua obra tomam conta do globo. Seria mesmo ótimo que gerações mais novas, acostumadas com o nome “pop” sendo associado à gente ridícula como Lady Gaga, Britney Spears, Kesha e outras aberrações, pudesse reconhecer o nome pop em um artista verdadeiro, que transbordava talento em seu auge, e que mudou todo o conceito de vídeo clipes, shows, danças e o diabo a quatro, de uma forma que estivesse sendo dignamente reconhecida pela mídia e público. Digo que seria, por que tudo não passou de uma forma de se sugar o máximo de dinheiro possível de um fato lamentável, sem o menor respeito e consideração por obra e artista, e isso foi coisa que nem os parentes do próprio Michael deixaram de fazer, diga-se de passagem, (a irmã LaToya chegou a encostar um caminhão na entrada da mansão e pegou um monte de coisas da residência, enquanto o maquiavélico e mau caráter do seu pai aproveitou a morte de Jackson para promover seu selo), vide o circo de bizarrices que foi seu velório, vendido por cifras milionárias para TVs do mundo todo, e o mega sucesso do documentário “This Is It”, também em escala global.

Um ano se passou desde que Michael Jackson nos deixou, e o que sobrou do barulho que foi feito em torno de seu nome? Nada. Todos os que não o conheciam e não eram seus admiradores genuínos voltaram a ouvir as músicas de sempre, e não “Billy Jean” (que havia voltado à moda), seus discos voltaram a ter as vendas habituais, e não a explosão póstuma de procura por parte da população, e seus clipes voltaram para a sessão “flashback” das paradas, que é onde já figuravam há muito tempo. O Revival aproveitou-se do peso da morte de Michael Jackson para trazê-lo de volta, fazer dinheiro com seu nome, e logo após isso, jogá-lo no limbo novamente. E é isso que acontece sempre, em todos os casos.

Por isso, baseado em fatos, é que digo que não se deve esperar nada destes Revivals que vêm nos visitar a mais ou menos cada cinco anos, e que vão embora em questão de 5 meses. Não digo que o passado deve ser jogado no lixo logo que o presente o faça ter essa justa condição de coisa que se foi, muito pelo contrário. O que digo é que esperar voltar a viver como no passado, achando que o Led Zeppelin realmente será o que foi antes (e não aquela coisa horrorosa que se apresentou em Londres no O2 Arena a algum tempo), que o vinil realmente dominará o mercado outra vez, e que todas as mulheres irão se casar virgens novamente, é algo imbecil. Isto já se foi, e o que se vive hoje (feliz ou infelizmente), é o resultado dessa suposta evolução. Digo então que a melhor forma de cultuar o passado que tanto nos agradou é transformando-o em história, para que ele nunca seja esquecido nem morto, mas que venha à nossa cabeça como algo agradável, que marcou nossos dias de antes, sem, por isso, precisarmos negar o presente em que estamos inseridos.

E quando for para nosso passado ser lembrado, que não seja com pesar, como se o fim dessa era recordada representasse a chegada do Armaggedon, mas sim com alegria, sentindo real prazer por poder ter tido o privilégio de presenciar tudo aquilo. O passado pode ter sido bom, mas, ele jamais voltará. Essa é que é a verdade.

terça-feira, 29 de junho de 2010

E aí esta a graça do povo brasileiro



















Texto por Jean de Oliveira

Estava eu esses dias me aventurando pelos canais da TV aberta (porque aqui em minha casa TV a cabo é como a paz no Oriente Médio, ou seja, uma coisa realmente impossível de acontecer) e me deparei com os abismais programas humorísticos, estes que me instigam repudio e algumas vezes vergonha de ser brasileiro. Então eu pensei: Ta ai um assunto que merece uma atenção especial no blog.
Não é de hoje que o Brasil vem despencando na qualidade de seus programas humorísticos. Basta uma trocada rápida de canais em um fim de semana qualquer para perceber que além de faltar originalidade, o tipo de humor que se tem é sem graça. Um programa copia o outro, piadas fracas ou forçadas e aqueles quadros de grande apelo sexual/erótico com o intuito de prender ou chamar a atenção do telespectador, desviando-se do objetivo principal, que é divertir.
A muito que foi perdida a essência de humor no Brasil. Hoje esses programas usam roteiros burros e infantis, que de engraçado não tem nada. Os quadros do programa se resumem a quadros que mais parecem “piadas encenadas”, contando sempre com a gostosa seminua que faz biquinho e mostra a coxa e o cara em traje caricato que fala um bordão quando a vê.
A rede Globo é a campeã em programas desclassificados e que não acrescentam nada em nossa cultura, insistindo vorazmente no humor de bordões, que ao contrário do excelente humor sitcom da TV americana (do qual darei alguns exemplos logo a seguir), prima pela repetição exaustiva de algo que já está batido. E isso acaba dilacerando o cérebro de quem tem um mínimo de senso crítico. Como melhor exemplo disso temos Zorra Total, que é uma reunião de quadros patéticos e que todo final de semana, se resume a mesmas coisas, apenas mudando os trajes dos atores, pois você pode prever que toda semana um personagem caricato vai falar seu típico bordão. Então, eu pergunto: qual é a graça de assistir isso?
Em seguida temos Renato Aragão com “A Turma do Didi“, um programa que parece ser a tentativa (frustrada) de fazer algo similar ao antigo (e bom) “Os Trapalhões“. Porém, todo domingo pode-se esperar que as mulheres gostosas apareçam (afinal, hoje em dia, o conceito humor está ligado diretamente com o conceito sensualidade), que os amigos do Didi vão tentam fazer uma pegadinha com ele, onde no fim é o Didi quem os pegará. Pronto, é só isso. Então pergunto novamente: qual a graça disto? Como pode continuar no ar a mais de 10 anos, um programa onde todos já sabem quais são os quadros e o que irá acontecer?
Outro bom exemplo é A Praça É Nossa, que sofre do mesmo mal, contando com humoristas sem graça e utilizando o cunho erótico. É como diz a música do próprio programa “[...] a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim [...]”. E é exatamente isso, as mesmas coisas, novamente as mesmas piadas, até o jornal que Carlos Alberto de Nóbrega lê em todo programa é o mesmo (imagino que o programa é patrocinado pelas Leis de Incentivo à Cultura, pois prega a preservação das piadas mais antigas da cultura brasileira, que um dia foram engraçadas e hoje se tornaram extremamente monótonas).
Já na Rede TV evoluímos um pouco (mas não o suficiente para algo que possa ser chamado de engraçado) e temos o Pânico na TV. A principio este se mostrou um programa engraçado, contando com um apelo sensual (em minha opinião, o Pânico é o programa com as mulheres mais gostosas da televisão, realmente todas as Panicats são muito bonitas) e com alguns humoristas de algum talento como Evandro Santo (Christian Pior) que é o único que continua com algum resquício de graça (mas que atualmente teve sua participação reduzida consideravelmente) e o Marvio Lucio (Carioca) com seu personagem Amaury Dumbo. Pânico Na TV não chega a ser insuportável como Zorra Total e afins, mas não passa de algo que a gente assiste por não ter nada melhor nos outros canais. Eu assistia e confesso que gostava, mas quando o quadro do Vesgo e Silvio se resumiu a ir nas ruas, praias (enfim, lugares públicos) e ficar satirizando pessoas que por lá circulam por sua aparência (como se a vida do cidadão brasileiro já não fosse miserável o suficiente, ainda tem que aturar deboches em rede nacional). Neste momento eu percebi que era o declínio deste suposto programa humorístico.
Não posso deixar de comentar também o caso mais recente, o tão alardeado Legendários da Rede Record. Encabeçado por Marcos Mion, este programa era anunciado e lembrado todo sábado pelo apresentador como um programa de humor educado, para toda a família. Então eu ingênuo acreditei, e resolvi assistir junto com meu pai, minha mãe e meu irmão de 10 anos. E logo no programa de estréia, eis que aparece uma matéria contando sobre as piores músicas para se escutar na hora do sexo (eu já devia esperar, afinal, tudo está relacionado a sexo e nudez hoje em dia). Acho que não preciso nem contar como isso é constrangedor para uma família que ainda preza pela moral e os bons costumes e quer passar um momento agradável reunida. Então, eu pergunto: cadê o tão anunciado programa para você assistir com os seus entes queridos?
O único programa que é a rara exceção é o CQC da Band. Mesmo não se mantendo com o mesmo fôlego que tinha em seu ano de estréia, este ainda é um programa de humor inteligente, que meche com os pilares críticos e desafia os políticos e a lei brasileira. Devemos observar que seu ponto positivo máximo reside em ele ser um programa totalmente diferente dos demais que tem roteiro tosco e um humor desgastado e erotizado.
O pior de tudo isso, é que esses programas continuam no ar, e ainda com níveis de audiência consideráveis. Mas isso ocorre devido à mente do povo brasileiro estar acostumada a só pensar e comentar o que não traz proveito algum. Porque o cidadão brasileiro adora ser o esperto, o malandro, e esses humoristas fazem isso. Entretanto desse jeito o que eles demonstram é que são verdadeiros tolos, dando a esse povo de baixa-estima, a sensação de que são superiores a eles. Por isso o grande problema do humor brasileiro reside em seus telespectadores, que devido à falta de perspicácia (e inteligência) não deixam que ocorra uma evolução. Eles gostam somente de piadas e comentários saturados que não desafiam ninguém. O humorista que debocha de algo sério, como problemas sociais, e que faz um gracejo com uma verdade inconveniente, é logo criticado e sofre processos e boicotes nos demais programas.
Isso porque no Brasil não se admira o comediante de verdade, justamente por que a verdade não é admirável. Nossa cultura nos ensina a lucrar com a mentira. Rir com a verdade é algo que não entra na cabeça de ninguém por aqui. Aqui a verdade é feita para ser maquiada. A verdade não diverte ninguém, pelo contrário, assusta.
Por aqui o humor não caminha como em outros países, onde este já se alcançou um estágio desafiador, como nos E.U.A., que possui alguns dos melhores humoristas, que usam de um humor mais refinado e não pensam duas vezes em alfinetar alguém que tenha cometido uma gafe. Seus sitcons rendem milhões de dólares com cada temporada, e a cada ano derramam mais seriados novos para o mundo inteiro, sendo a maioria de boa qualidade.
Estes seriados sabem realmente como explorar o riso nas pessoas. Cada seriado conta sempre com atores até em então quase desconhecidos (não como acontece no Brasil, onde o cara que faz novela também faz filmes, apresenta programas, volta na nova novela e por fim faz alguma série). Seus personagens também têm bordões, mas usam moderadamente, não excessivamente até esgotar cada gota de humor que aquilo possa ter.
Por lá o sarcasmo e a ironia são incentivados pelo publico. Eles sabem que a função do humorista é fazer piada, debochar realmente das crises que nos rondam, e por conseqüência a lista de seriados norte-americanos que realmente vale a pena assistir para garantir boas gargalhadas é extensa. Por minha própria experiência sei que F.R.I.E.N.D.S. é muito bom (aliás, durou dez temporadas, sendo que na ultima os atores recebiam o equivalente a R$1 milhão de dólares POR EPISÓDIO!!!!), Two and Half Man (cuja as ultimas temporadas tem rendido o mesmo valor do salário de F.R.I.E.N.D.S. a Charlie Sheen) e o atual The Big Bang Theory, que está em sua 4ª Temporada. Esta eu lhes asseguro, o riso é certo. E o engraçado (na verdade imensamente triste) é que esses seriados não fazem nenhum sucesso na TV aberta aqui no Brasil. Mesmo o clássico (e ótimo) Um Maluco No Pedaço, estrelado por Will Smith, recebeu muita resistência do público até conseguir fazer real sucesso nas telinhas aqui do Brasil.
Entretanto, ainda tenho esperanças de uma melhora. Eu ainda espero que essa nova geração de comediantes stand-up, que surgem em platéias anônimas por aí, seja capaz de mudar a estrutura da comédia no Brasil. Mas até que alguma coisa mude, não sendo mais a platéia tão limitada e os comediantes tão covardes e acomodados, muito Zorra Total vai rolar. Por enquanto fiquemos então com os imitadores de Silvio Santos, os burros que falam palavras erradas, os trocadilhos, os contadores de anedotas, os bordões e as gostosas, pois eles não incomodam ninguém, nem mesmo o nosso mau humor.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cds (Lançamentos) THEM CROOKED VULTURES




Them Crooked Vultures


Them Crooked Vultures

(Sony Music)

2009


Texto por Álvaro Samways


Quando se fala em “super-grupos” (bandas recheadas em seu cast por músicos já famosos por outros trabalhos, sejam solo ou com bandas), todo cuidado é pouco. Naturalmente a atenção e a expectativa que cercam um time formado por estrelas são tão grandes quanto o tombo que elas podem nos causar. Mas neste caso não há quedas, o super-grupo mantem-nos de pé até o fim. Tem alguns momentos de tropeço, mas sempre com as pernas firmes.


Quando Josh Homme (Queens Of The Stone Age, Kyuss), Dave Grohl (Foo Fighters, Nirvana) e John Paul Jones (Led Zeppelin), anunciaram uma parceria musical entre eles em 2008, os tablóides de todo o globo colocaram toda sua expectativa em jogo, na premissa de que algo sensacionalmente bom (ou ruim) estaria pra acontecer, visto que a parceria Homme e Grohl, no Queens Of The Stone Age, gerou um dos melhores discos de rock da história, o Songs For The Deaf em 2002 (leia resenha mais abaixo), imagine então se somasse a presença ilustre de John Paul Jones, baixista de nada mais nada menos que a melhor banda de todos os tempos, um tal de Led Zeppelin. Bem, a superbanda, que foi batizada com o estranho nome de Them Crooked Vultures (algo como “Estes Urubus Tortos”), lançou seu debut em 2009, com um disco homônimo. Chegava assim ao fim a expectativa sobre o som produzido por este timaço, e atendendo as expectativas, o disco é muito bom!


Them Crooked Vultures compila 13 faixas inéditas, gravadas pela banda entre 2005 e 2008, durante as férias destes músicos em seus projetos principais. Quanto à sonoridade, pode-se definir como uma soma da finesse e timbres do Led Zeppelin, com a potência e os vocais inspirados do Queens Of The Stone, nenhuma surpresa não é? (o que nesse caso é muito bom!). O que também nos salta aos olhos é a pressão imposta pelo batera Dave Grohl em cada uma das faixas, tornando impossível não comparar seu timbre e sonoridade com as do maior mestre de todos, o falecido John Bonham. Seu arsenal de viradas, grooves e o próprio som da bateria, nos remetem aos melhores momentos da ilustre banda de John Paul Jones nos anos 70. Assim como em seu trabalho no Queens Of The Stone Age, a bateria de Grohl foi um dos pilares para que as músicas se tornassem ainda mais interessantes e poderosas.


Logo na abertura, com “No One Loves Me & Neither Do I”, o sabor zeppeliniano já mostra-se presente, como se a banda tivesse resolvido lançar material novo após 40 anos. Já “Mind Eraser” lembra o Queens Of The Stone Age em sua fase Rated R, figurando uma bela canção temperada pelos carismáticos vocais em falsete de Josh Homme. “New Fang”, com sua intro de batera a lá John Bonham, e divisão melódica de vocais inspiradíssima, nos remete à época Physical Graffiti do Zeppelin.

Em “Dead End Friends” no entanto, a banda perde um pouco da inspiração, sendo que esta música parece com algo que o Queens Of The Stone Age deixaria para lançar num disco de b-sides. “Elephants”, com seu riff característico de guitarra/baixo, e mudanças de andamento, é outra que lembra Led Zeppelin, sem, no entanto, demonstrar grande inspiração.


“Scumbag Blues” mostra o que aconteceria se, durante uma gravação do Led Zeppelin nos anos 70, Jimmy Page e Robert Plant saíssem pra tomar um café, e Homme (que estava lá assistindo a tudo) assumisse as guitarras e vocais por uma música, fazendo desta a canção que mais elementos das duas bandas padrinhas deste projeto apresenta. Entretanto “Badoliers” e “Reptiles” não passam do razoável, sendo facilmente descartadas pelo ouvinte durante uma nova ouvida no disco.


“Interlude With Ludes”, com sua esquisitice, e como o nome sugere, tem mais o papel de dividir o disco numa segunda parte, do que propriamente de música, sendo que é monótona demais, caso disponha-se a ser de fato uma música ativa do disco. Após este momento bizarro, desembarcamos na segunda parte do disco, com canções mais dark, arrastadas e compridas que as anteriores.


“Warsaw Or The First Breath You Take After You Give Up” é uma música interessante, que alia peso a um clima etéreo durante seu refrão, mas que testará os nervos dos fãs mais pop, com seus quase oito minutos. Em seguida “Caligulove” entra no túnel do tempo para desembarcar diretamente na década de 70, mostrando o que seria o Queens Of The Stone Age, caso ele existisse já naquela época e resolvesse roubar os teclados das músicas do Deep Purple. Mas “Gunman” é uma canção fraca, mostrando-se mais interessanda em encher o disco com mais uma música, do que propriamente querendo figurar entre o corpo de canções obrigatórias do disco. O fechamento fica por conta de “Spinning In Daffodils”, cujo áudio mostra que ela foi gravada “ao vivo dentro do estúdio”. Os arranjos depressivos fazem dela a melhor escolha de música para encerrar este disco.


Them Crooked Vultures não é um álbum impressionante do ponto de vista musical, mas certamente tem qualidade de sobra para figurar como um dos grandes lançamentos do rock, que nestes últimos anos tem sido marcado pela quantidade de porcarias em mercado. O interessante é que para se fazer um som que realmente pudesse ser chamado de rock and roll de verdade, e que figurasse na grande mídia, foi preciso a união de três tiozinhos, remanescentes de décadas passadas. Verdadeira aula de música para essa galerinha, colorida e cheia de franjas e acessórios, mais calcada em pose do que em som. Viva estes urubus tortos, que trazem, com seus anos de experiência, um rock and roll ainda cheio de qualidade e frescor típicos da juventude, que mesmo em alguns momentos cambaleantes, ainda soa melhor que tudo que vem sendo lançado pelo bando “teen”, este que sim, deveria se aposentar. Vale a pena conferir o super-grupo!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ajudando o Povo?


Texto de Álvaro Samways

No ultimo dia 16, o presidente Lula aprovou finalmente, depois de muita enrolação, mais um aumento no salário mínimo dos servidores públicos, aposentados e pensionistas. Desta vez até os trabalhadores mais otimistas se viram surpresos: o aumento contemplará com mais 33% sobre o mínimo que era vigente em nosso país. Os outros aumentos nunca nem chegavam dos 10%. Isso prova que o Lula sim foi um bom presidente, pois ele deu este aumento significativo nos salários mínimos. Acho que devemos levar isso em conta e votar na Dilma nas próximas eleições presidenciais, que, olha só, serão daqui a alguns meses. Legal! Já tenho meu candidato, e nem precisei me esforçar muito para escolhê-lo. Viva o Lula e o PT!!!!

Você não achou que estas últimas sentenças que eu proferi eram sérias né?! Por que realmente, elas não são! Este foi só um insight que tive ao justamente ler a tal notícia sobre o aumento dos salários. E realmente não há como não pensar assim se sua realidade é a de um trabalhador desiludido com a desproporcionalidade entre “suor desprendido no seu emprego X remuneração ao final do mês”. Qualquer um que gasta mais tempo e energias dando duro para colocar comida no seu prato e de sua família, do que curtindo um momento de lazer com estes mesmos receberia esta notícia quase como um aidético receberia a notícia da descoberta da cura da AIDS. E é justamente ai que mora todo o perigo.

É preciso atentar justamente para o contexto vivido pelo país no momento da aprovação desta lei, para ver que ela não vem para ajudar o povo trabalhador, sendo sim, mais uma manobra política. Por que eu lhe pergunto meu estimado leitor, um governo que não deu aumentos de salários que fossem menos do que ínfimos, iria justamente agora, em seu último ano no poder, aprovar um aumento de praticamente 35% nos salários. Claro que sim, você é inteligente, e também percebeu que a resposta para esta questão já se encontra inserida na própria pergunta. É o último ano da “dinastia” Lula nos comandos deste país. Esta é a chave que, aliada aquele meu insight proletário desenvolvido lá em cima, abre as portas de nossa compreensão na hora de descobrir a resposta.

Este aumento nos soldos não passa de uma forma cabal e rasteira de campanha política, chamada por alguns filósofos políticos de “campanha eleitoral indireta”. Este tipo de campanha consiste justamente em usar o poder que lhe já está em mãos para influenciar as mentes populares a votar a seu favor na chegada hora de novas eleições. Sem gastar um centavo dos cofres do seu PT, Lula consegue aprovar um projeto de lei que deixará a população tão confiante de que ele (e logo, seu partido também), estão alinhados aos interesses populares, que acabará ganhando votos com isso para sua candidata a sucessora na cadeira presidencial: Dilma Roussef.

O trabalhador brasileiro mediano, que gasta mais de seu tempo trabalhando por sua casa do que lendo alguma coisa útil para incrementar seus conhecimentos, engole esta isca com linha e tudo, uma vez que sua memória de rato não lhe permitirá lembrar todas as mancadas do nosso amado Lula durante sua estadia nos Palácio do Planalto. Sua embriaguez em público, frases de gosto duvidoso (aqui e lá fora), projetos paliativos repugnantes de “bolsa-esmola”, mutação ideológica durante a Transição de seu PT da oposição ao poder, escândalos protagonizados pelos líderes mais importantes deste mesmo partido (quase todos envolvendo o meu e o seu dinheiro), tudo isso já foi apagado da memória do cidadão brasileiro corriqueiro, em detrimento ao aumento na piada, digo, salário a que todo brasileiro tem direito, que o “pai dos pobres Lula”, por “vontade de ajudar o povo”, resolveu incrementar.

Mas não, este tipo de coisa não é um (des)mérito da mente sagaz do sr Luiz Inácio “Lula” da Silva. Muitos episódios como este já figuraram a história de nossa pátria. A face eterna que figurará neste tipo de atitude é a do lendário presidente Getúlio Vargas. Durante toda sua estadia no governo, desde a Revolução de 1930, seus dias de ditador no Estado Novo, e sua ultima investidura como presidente, com o fim de sua vida por conta do suicídio em 1954, ele fez este tipo de jogo, “trocando favores” com o povo. Algo como “eu aprovo algumas leis trabalhistas a favor de vocês trabalhadores e seus sindicatos, e vocês se comprometem a não me encher o saco com greves e votar nos meus candidatos”.

Mesmo seu suicídio foi uma última jogada de “campanha indireta” (talvez a mais ousada da história da política mundial) contra seu principal adversário (uma forma polida de falar sobre seu inimigo público) político, o jornalista Carlos Lacerda. Vendo que o Brasil estava totalmente fora de seu controle, Vargas uniu o “útil ao agradável” (acho que o indivíduo que se suicida não está ligando muito para o quanto isso será desagradável): livrou-se da bomba relógio que era o país na sua mão naquele período, e ainda conseguiu frustrar as expectativas de Lacerda e sua UDN (União Democrática Nacional, partido político o qual ele era um dos líderes). Usando de uma carta-testamento que foi publicada nos meios de mídia da época, Getúlio expôs os motivos de seu suicídio, o que em resumo seria “a pressão sofrida por ele pelos inimigos da pátria”, que qualquer um podia entender, eram Carlos Lacerda e seus aliados, que sempre atacaram suas leis trabalhistas/sociais e seu método de usá-las.As pessoas leram esta carta e se indignaram, destruindo várias sedes da UDN e de jornais anti-getulistas por todo o Brasil. Mais uma vez a estratégia de campanha indireta deu certo, pois nas eleições presidências seguintes quem venceu foi Juscelino Kubitschek do PSD e PTB, partidos estes, getulistas.

São muitos e muitos os exemplos destas “campanhas indiretas” ao longo da história brasileira, só citei este pro ser o mais pretensioso e macabro do qual se tem notícias, mostrando do que um político é capaz, muitas vezes, para não perder o orgulho e o poder uma vez conquistados. É sintomático que qualquer lei que venha a ajudar o povo, venha também com o bônus de ajudar aquele que a criou, pois é historicamente comprovado que em nosso país, poucas vezes alguém trabalhou em favor dos menos favorecidos, e estes que o fizeram, geralmente não demoraram a perder suas esperanças, visto a corja de sangue sugas que os cercavam, de todas as formas tentavam acabar com suas iniciativas, sendo que no fim das contas, ou se juntaram à turba de urubus, ou decidiram abandonar a política para sempre.

A alternativa para nós, pobres civis trabalhadores, é buscar colocar a reflexão em primeiro lugar, e analisar nossos candidatos em mais um ano de eleição. Sei que constitui uma tarefa hercúlea garimpar um candidato que tenha comprometimento e seriedade nestas alturas, mas resta a nós confiar. Pois assim como eu e você somos cidadãos de bem, que pagam suas contas com o fruto de seu trabalho, e que procuram ser honestos em seu dia a dia, numa sociedade cada vez mais entregue em mãos de gente sem escrúpulos na hora de tentar alcançar o sucesso, também existem candidatos sérios, incorruptíveis, num meio onde a podridão é o perfume da coletividade. Poucos, mas ainda existem. E claro, quando seu salário aumentar, fique de olho.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford




















(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)
EUA/2007
Drama - 160 min.
Warner Bros

Texto por Jean de Oliveira

O Filme baseado na obra homônima de Ron Hansen, conta a história dos últimos meses de vida de Jesse Woodson James, o mais famoso fora-da-lei norte-americano, até o fato anunciado em seu título. Seu assassinato se deu por Robert Ford, membro de sua própria gangue, que atirou em suas costas para receber uma recompensa.
Porem o spoiler presente no titulo não prejudica a surpresa do espectador, pois a essência do filme não é mostrar a morte de Jesse, e sim o desenvolvimento dos personagens.
O longa começa justamente durante o último dos assaltos a trens realizados pela gangue dos irmãos Jesse e Frank James. Após o assalto surge Robert "Bob" Ford, irmão de Charley Ford (um membro da gangue), que por ser imensamente obcecado pelas histórias dos James (principalmente Jesse), decide que quer se juntar ao grupo.

A suave narrativa, lenta e poética, nos mostra então esse abismo de constantes desconfianças que surgem ao longo do filme, que como seu título, é extremamente longo. Os 160 minutos de projeção se arrastam em uma trama da qual o cineastra Andrew Dominik nos brinda com um belo drama psicológico, abordando os limites do comportamento humano frente a sentimentos tão controversos como a adoração, a inveja, o ressentimento e a desconfiança. Assim, ele faz com que, em nenhum momento, o espectador se importe por já conhecer o final, e sim, somente se importe com o porquê disto ter acontecido.
O ponto alto do filme, é que ele mostra de uma maneira fascinante o perfil de seus personagens.
Jesse é um fora-da-lei com sensibilidade, impondo a melancolia, sagacidade e carisma de herói. Era conhecido como um jovem de 34 anos com um estado de espírito imprevisível. Alguém que conseguia impor terror nos homens da lei e em seus próprios companheiros apenas com sua presença. Nada e ninguém passavam por ele despercebidos. Atualizado com as notícias que circulavam na época, era um homem que estava sempre interagindo com os moradores de sua localidade e constantemente mudando de casa com sua família.
Já Robert Ford é um jovem que quer uma vida de aventuras iguais as de Jesse James, ou melhor, ele quer ser famoso como Jesse James, ou ainda melhor, ele quer ser o próprio Jesse James. É retratado como um covarde que matou o homem mais procurado do país, dentro de sua própria casa, ao lado de sua família, atirando pelas costas. Com seu olhar inocente e triste, mesclado a um ar meio pernóstico, ele nos causa a impressão de ser um homem inseguro, apenas um tolo admirador de Jesse.
Ao discorrer do filme, ficamos em dúvida sobre quem é o personagem principal e quem é o coadjuvante. Se o principal é Jesse James, que constrói uma desconfiança absurda em seus comparsas, chegando ao ponto de eliminar um por um os que agiram em alguns dos muitos assaltos que realizou. Ou se é Robert Ford, com sua evolução de um garoto de 19 anos com um sorrido tímido e inseguro até um assassino frio de natureza incerta.

Um dos maiores destaques também é a brilhante fotografia de Roger Deakins que retrata com exatidão um clima de pós-guerra Civil. Torna visualmente grandioso as vastas e inabitadas paisagens que retratam um velho-oeste sob uma perspectiva diferente dos velhos filmes de cowboy a que todos nós estamos acostumados a ver.
O tom literário e melancólico do longa-metragem ainda nos surpreende com as acuradas atuações de Brad Pitt que transmite um convincente cansaço de um pistoleiro emocionalmente estável. E Casey Affleck, o astro escondido por trás de um adjetivo, incorporando de forma sutil o rapaz que almeja ser como seu ídolo, mas sem muita audácia para seguir os seus passos, acaba confundindo fama com infâmia.
O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford é uma obra sensível e até mesmo de difícil compreensão, pois devido ao fato de nós brasileiros conhecemos tão pouco sobre este Robin Hood do velho oeste, dificulta-se o envolvimento do espectador com a história. Para alguns, nomes como Robert Ford, Frank James, Zee James e até mesmo Jesse James podem parecer anônimos e passar corriqueiramente despercebidos.
Outro fator depreciativo é possuir pouquíssimas reviravoltas e se sustentar somente em diálogos monossilábicos e sutilezas de olhares, alem de uma profunda extensão (o que para alguém que não tem muita paciência para ficar 2 horas e 40 minutos assistindo o torna cansativo).
Mas em uma obra em que como produtores assinam Brad Pitt e Ridley Scott já é de se esperar que venha algo formidável.
Um excelente drama western, que não mostra as razões que levaram Jesse James a um papel de destaque na história, mas sim o porquê ele é lembrado mesmo mais de um século após sua morte, enquanto Robert Ford, seu assassino, que após ter desferido o tiro, permaneceu em dúvida entre arrependimento e satisfação, acabou por cair no esquecimento e talvez seja somente lembrado como o homem que matou Jesse James.
Enfim, um ótimo filme que merece ser visto.