terça-feira, 3 de agosto de 2010

Cds (Lançamentos) MASTODON



Mastodon

Crack The Skye

(Reprise Records)

2009

Ultimamente o bom e velho Rock Progressivo parece estar despertando novamente atenções, tanto de mídia quanto de público, embora possamos dizer que tanto esta mídia, quanto este público, não são necessariamente a maioria da população, o que eu diria, é muito bom. Bem, fiz este comentário devido a boa safra de novas bandas que surgem apostando em um som mais complexo, como faziam as bandas clássicas de Prog no passado, sem porém deixar elementos artísticos modernos de lado. Depois dos bons lançamentos do The Mars Volta nos últimos anos, foi a vez do Mastodon conceber um novo álbum de estúdio representando esta bandeira do novo Prog. E o gênero não poderia estar melhor representado.


Crack The Skye precisa de apenas 7 faixas para nos mostrar uma verdadeira obra conceitual, e uma aula de como se fazer Prog Metal, unindo elementos progressivos de bandas do passado como King Crimson e E.L.P, com elementos mais metal de gente como Slayer e Metallica. Temas como projeção astral, Rússia antiga, perda e desgraça recheiam o disco, visto que ele foi concebido justamente num momento difícil da banda, onde seus membros estavam enfrentando os mais variados demônios interiores. O guitarrista Brent Hinds foi parar no hospital por conta de uma inexplicável doença estomacal, além de ter sua mulher sido atropelada pro um carro. Brann Dailor, o baterista, viu sua mãe ser despejada, seu padrasto falecer, e sua irmã sofrer uma overdose de pílulas calmantes. Um cenário assim poderia fazer uma banda ruir, mas os membros do Mastodon conseguiram transformar tudo isso no mais impressionante álbum de suas carreiras.


Com produção de Brendan O’Brien (bem conceituado por seus trabalhos com artistas do porte de Rage Against The Machine e Audioslave, por exemplo), e composições incríveis, o disco nos mostra ainda timbres muito bem gravados e partes meticulosamente pensadas, como fica bem claro já na belíssima faixa de abertura “Oblivion”, que traz o baterista Brann Dailor cantando as estrofes com uma ótima voz, lembrando os melhores momentos do Tool.


De contrapartida “Divinations” , a mais curta do disco, é muito mais direta, tendo mais do peso do trash metal em seus arranjos, seja nos vocais agressivos ou em seus timbres pesadamente distorcidos, além de timbres maravilhosos durante o solo de guitarra. Uma grande canção. Em “Quintessence” as coisas voltam a figurar do lado prog, numa música com tantas mudanças de clímax que é até difícil entendê-la num primeiro momento, com um instrumental incrivelmente conciso, formando um bloco sonoro tão denso quanto uma pedra de diamante, numa música capaz de tirar o fôlego dos mais desavisados.


Em “The Czar”, com seus 10 minutos de canção, os temas tomam rumos mais depressivos, com uma belíssima intro que logo será guiada para um crescendo que tornará as coisas muito mais punch, sendo impossível não lembrar do King Crimson. Uma canção com tantos contornos só me faz pensar no enorme trabalho de ensaios pelo qual a banda deve ter passado antes de entrar em estúdio. Em seguida vem a musculosa “The Ghost Of Karelia”, melhor do disco, com uma intro em timbres maravilhosos de guitarra por parte da guitarra de Brent Hinds, para em seguida cair num instrumental poderosíssimo, totalmente ao estilo do fusion, num ponto que faria o pessoal da Mahavishnu Orchestra se orgulhar.


Em seguida vem “Crack The Skye”, a música que dá nome ao álbum e talvez por honra de carregar este título, sendo assim sobre a qual mais se constroem expectativas, seja a mais fraca no cd, não estando no nível das outras, o que nem por isso faz dela uma má canção, pois apesar de tudo ela possui belos timbres, e um excelente clima soturno, sendo sozinha melhor que praticamente tudo que se apresenta como “rock mudérrrrrrno” nos grandes veículos de mídia. Pra fechar o álbum a gigantesca “The Last Baron”, que apesar de possuir 13 minutos (que a título de curiosidade foi gravada inteira “ao vivo dentro” do estúdio), não torna-se monótona em momento algum, usando, pelo contrário, o tempo ao seu favor, pois cada vez mais tem-se vontade de que ela permança tocando, e não acabe a audição de tão maravilhoso disco.


Além da ótima audição pela qual o ouvinte prazerosamente irá passar, o álbum ainda possui outras recompensas, como seu belíssimo encarte (que na versão LP é ainda mais impressionante), com a arte conceitual de Paul Romano que traz temas pertinentes a Rússia Antiga e à Média Ásia. Se você ainda tem uma agulha, vale mesmo muito a pena comprar a versão vinil.


Crack The Skye é, sem sombra de dúvida, um dos melhores trabalhos de rock desta década onde tanta coisa tenebrosa se apresentou como a evolução do “rock and roll”. Se estas porcarias coloridas realmente são a evolução (ou involução melhor conceituando) do rock, eu prefiro fazer como os caras do Mastodon, e buscar inspiração no passado, para ser exposto à verdadeira arte, como fui neste maravilhoso Crack The Skye.

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