terça-feira, 29 de junho de 2010

E aí esta a graça do povo brasileiro



















Texto por Jean de Oliveira

Estava eu esses dias me aventurando pelos canais da TV aberta (porque aqui em minha casa TV a cabo é como a paz no Oriente Médio, ou seja, uma coisa realmente impossível de acontecer) e me deparei com os abismais programas humorísticos, estes que me instigam repudio e algumas vezes vergonha de ser brasileiro. Então eu pensei: Ta ai um assunto que merece uma atenção especial no blog.
Não é de hoje que o Brasil vem despencando na qualidade de seus programas humorísticos. Basta uma trocada rápida de canais em um fim de semana qualquer para perceber que além de faltar originalidade, o tipo de humor que se tem é sem graça. Um programa copia o outro, piadas fracas ou forçadas e aqueles quadros de grande apelo sexual/erótico com o intuito de prender ou chamar a atenção do telespectador, desviando-se do objetivo principal, que é divertir.
A muito que foi perdida a essência de humor no Brasil. Hoje esses programas usam roteiros burros e infantis, que de engraçado não tem nada. Os quadros do programa se resumem a quadros que mais parecem “piadas encenadas”, contando sempre com a gostosa seminua que faz biquinho e mostra a coxa e o cara em traje caricato que fala um bordão quando a vê.
A rede Globo é a campeã em programas desclassificados e que não acrescentam nada em nossa cultura, insistindo vorazmente no humor de bordões, que ao contrário do excelente humor sitcom da TV americana (do qual darei alguns exemplos logo a seguir), prima pela repetição exaustiva de algo que já está batido. E isso acaba dilacerando o cérebro de quem tem um mínimo de senso crítico. Como melhor exemplo disso temos Zorra Total, que é uma reunião de quadros patéticos e que todo final de semana, se resume a mesmas coisas, apenas mudando os trajes dos atores, pois você pode prever que toda semana um personagem caricato vai falar seu típico bordão. Então, eu pergunto: qual é a graça de assistir isso?
Em seguida temos Renato Aragão com “A Turma do Didi“, um programa que parece ser a tentativa (frustrada) de fazer algo similar ao antigo (e bom) “Os Trapalhões“. Porém, todo domingo pode-se esperar que as mulheres gostosas apareçam (afinal, hoje em dia, o conceito humor está ligado diretamente com o conceito sensualidade), que os amigos do Didi vão tentam fazer uma pegadinha com ele, onde no fim é o Didi quem os pegará. Pronto, é só isso. Então pergunto novamente: qual a graça disto? Como pode continuar no ar a mais de 10 anos, um programa onde todos já sabem quais são os quadros e o que irá acontecer?
Outro bom exemplo é A Praça É Nossa, que sofre do mesmo mal, contando com humoristas sem graça e utilizando o cunho erótico. É como diz a música do próprio programa “[...] a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim [...]”. E é exatamente isso, as mesmas coisas, novamente as mesmas piadas, até o jornal que Carlos Alberto de Nóbrega lê em todo programa é o mesmo (imagino que o programa é patrocinado pelas Leis de Incentivo à Cultura, pois prega a preservação das piadas mais antigas da cultura brasileira, que um dia foram engraçadas e hoje se tornaram extremamente monótonas).
Já na Rede TV evoluímos um pouco (mas não o suficiente para algo que possa ser chamado de engraçado) e temos o Pânico na TV. A principio este se mostrou um programa engraçado, contando com um apelo sensual (em minha opinião, o Pânico é o programa com as mulheres mais gostosas da televisão, realmente todas as Panicats são muito bonitas) e com alguns humoristas de algum talento como Evandro Santo (Christian Pior) que é o único que continua com algum resquício de graça (mas que atualmente teve sua participação reduzida consideravelmente) e o Marvio Lucio (Carioca) com seu personagem Amaury Dumbo. Pânico Na TV não chega a ser insuportável como Zorra Total e afins, mas não passa de algo que a gente assiste por não ter nada melhor nos outros canais. Eu assistia e confesso que gostava, mas quando o quadro do Vesgo e Silvio se resumiu a ir nas ruas, praias (enfim, lugares públicos) e ficar satirizando pessoas que por lá circulam por sua aparência (como se a vida do cidadão brasileiro já não fosse miserável o suficiente, ainda tem que aturar deboches em rede nacional). Neste momento eu percebi que era o declínio deste suposto programa humorístico.
Não posso deixar de comentar também o caso mais recente, o tão alardeado Legendários da Rede Record. Encabeçado por Marcos Mion, este programa era anunciado e lembrado todo sábado pelo apresentador como um programa de humor educado, para toda a família. Então eu ingênuo acreditei, e resolvi assistir junto com meu pai, minha mãe e meu irmão de 10 anos. E logo no programa de estréia, eis que aparece uma matéria contando sobre as piores músicas para se escutar na hora do sexo (eu já devia esperar, afinal, tudo está relacionado a sexo e nudez hoje em dia). Acho que não preciso nem contar como isso é constrangedor para uma família que ainda preza pela moral e os bons costumes e quer passar um momento agradável reunida. Então, eu pergunto: cadê o tão anunciado programa para você assistir com os seus entes queridos?
O único programa que é a rara exceção é o CQC da Band. Mesmo não se mantendo com o mesmo fôlego que tinha em seu ano de estréia, este ainda é um programa de humor inteligente, que meche com os pilares críticos e desafia os políticos e a lei brasileira. Devemos observar que seu ponto positivo máximo reside em ele ser um programa totalmente diferente dos demais que tem roteiro tosco e um humor desgastado e erotizado.
O pior de tudo isso, é que esses programas continuam no ar, e ainda com níveis de audiência consideráveis. Mas isso ocorre devido à mente do povo brasileiro estar acostumada a só pensar e comentar o que não traz proveito algum. Porque o cidadão brasileiro adora ser o esperto, o malandro, e esses humoristas fazem isso. Entretanto desse jeito o que eles demonstram é que são verdadeiros tolos, dando a esse povo de baixa-estima, a sensação de que são superiores a eles. Por isso o grande problema do humor brasileiro reside em seus telespectadores, que devido à falta de perspicácia (e inteligência) não deixam que ocorra uma evolução. Eles gostam somente de piadas e comentários saturados que não desafiam ninguém. O humorista que debocha de algo sério, como problemas sociais, e que faz um gracejo com uma verdade inconveniente, é logo criticado e sofre processos e boicotes nos demais programas.
Isso porque no Brasil não se admira o comediante de verdade, justamente por que a verdade não é admirável. Nossa cultura nos ensina a lucrar com a mentira. Rir com a verdade é algo que não entra na cabeça de ninguém por aqui. Aqui a verdade é feita para ser maquiada. A verdade não diverte ninguém, pelo contrário, assusta.
Por aqui o humor não caminha como em outros países, onde este já se alcançou um estágio desafiador, como nos E.U.A., que possui alguns dos melhores humoristas, que usam de um humor mais refinado e não pensam duas vezes em alfinetar alguém que tenha cometido uma gafe. Seus sitcons rendem milhões de dólares com cada temporada, e a cada ano derramam mais seriados novos para o mundo inteiro, sendo a maioria de boa qualidade.
Estes seriados sabem realmente como explorar o riso nas pessoas. Cada seriado conta sempre com atores até em então quase desconhecidos (não como acontece no Brasil, onde o cara que faz novela também faz filmes, apresenta programas, volta na nova novela e por fim faz alguma série). Seus personagens também têm bordões, mas usam moderadamente, não excessivamente até esgotar cada gota de humor que aquilo possa ter.
Por lá o sarcasmo e a ironia são incentivados pelo publico. Eles sabem que a função do humorista é fazer piada, debochar realmente das crises que nos rondam, e por conseqüência a lista de seriados norte-americanos que realmente vale a pena assistir para garantir boas gargalhadas é extensa. Por minha própria experiência sei que F.R.I.E.N.D.S. é muito bom (aliás, durou dez temporadas, sendo que na ultima os atores recebiam o equivalente a R$1 milhão de dólares POR EPISÓDIO!!!!), Two and Half Man (cuja as ultimas temporadas tem rendido o mesmo valor do salário de F.R.I.E.N.D.S. a Charlie Sheen) e o atual The Big Bang Theory, que está em sua 4ª Temporada. Esta eu lhes asseguro, o riso é certo. E o engraçado (na verdade imensamente triste) é que esses seriados não fazem nenhum sucesso na TV aberta aqui no Brasil. Mesmo o clássico (e ótimo) Um Maluco No Pedaço, estrelado por Will Smith, recebeu muita resistência do público até conseguir fazer real sucesso nas telinhas aqui do Brasil.
Entretanto, ainda tenho esperanças de uma melhora. Eu ainda espero que essa nova geração de comediantes stand-up, que surgem em platéias anônimas por aí, seja capaz de mudar a estrutura da comédia no Brasil. Mas até que alguma coisa mude, não sendo mais a platéia tão limitada e os comediantes tão covardes e acomodados, muito Zorra Total vai rolar. Por enquanto fiquemos então com os imitadores de Silvio Santos, os burros que falam palavras erradas, os trocadilhos, os contadores de anedotas, os bordões e as gostosas, pois eles não incomodam ninguém, nem mesmo o nosso mau humor.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cds (Lançamentos) THEM CROOKED VULTURES




Them Crooked Vultures


Them Crooked Vultures

(Sony Music)

2009


Texto por Álvaro Samways


Quando se fala em “super-grupos” (bandas recheadas em seu cast por músicos já famosos por outros trabalhos, sejam solo ou com bandas), todo cuidado é pouco. Naturalmente a atenção e a expectativa que cercam um time formado por estrelas são tão grandes quanto o tombo que elas podem nos causar. Mas neste caso não há quedas, o super-grupo mantem-nos de pé até o fim. Tem alguns momentos de tropeço, mas sempre com as pernas firmes.


Quando Josh Homme (Queens Of The Stone Age, Kyuss), Dave Grohl (Foo Fighters, Nirvana) e John Paul Jones (Led Zeppelin), anunciaram uma parceria musical entre eles em 2008, os tablóides de todo o globo colocaram toda sua expectativa em jogo, na premissa de que algo sensacionalmente bom (ou ruim) estaria pra acontecer, visto que a parceria Homme e Grohl, no Queens Of The Stone Age, gerou um dos melhores discos de rock da história, o Songs For The Deaf em 2002 (leia resenha mais abaixo), imagine então se somasse a presença ilustre de John Paul Jones, baixista de nada mais nada menos que a melhor banda de todos os tempos, um tal de Led Zeppelin. Bem, a superbanda, que foi batizada com o estranho nome de Them Crooked Vultures (algo como “Estes Urubus Tortos”), lançou seu debut em 2009, com um disco homônimo. Chegava assim ao fim a expectativa sobre o som produzido por este timaço, e atendendo as expectativas, o disco é muito bom!


Them Crooked Vultures compila 13 faixas inéditas, gravadas pela banda entre 2005 e 2008, durante as férias destes músicos em seus projetos principais. Quanto à sonoridade, pode-se definir como uma soma da finesse e timbres do Led Zeppelin, com a potência e os vocais inspirados do Queens Of The Stone, nenhuma surpresa não é? (o que nesse caso é muito bom!). O que também nos salta aos olhos é a pressão imposta pelo batera Dave Grohl em cada uma das faixas, tornando impossível não comparar seu timbre e sonoridade com as do maior mestre de todos, o falecido John Bonham. Seu arsenal de viradas, grooves e o próprio som da bateria, nos remetem aos melhores momentos da ilustre banda de John Paul Jones nos anos 70. Assim como em seu trabalho no Queens Of The Stone Age, a bateria de Grohl foi um dos pilares para que as músicas se tornassem ainda mais interessantes e poderosas.


Logo na abertura, com “No One Loves Me & Neither Do I”, o sabor zeppeliniano já mostra-se presente, como se a banda tivesse resolvido lançar material novo após 40 anos. Já “Mind Eraser” lembra o Queens Of The Stone Age em sua fase Rated R, figurando uma bela canção temperada pelos carismáticos vocais em falsete de Josh Homme. “New Fang”, com sua intro de batera a lá John Bonham, e divisão melódica de vocais inspiradíssima, nos remete à época Physical Graffiti do Zeppelin.

Em “Dead End Friends” no entanto, a banda perde um pouco da inspiração, sendo que esta música parece com algo que o Queens Of The Stone Age deixaria para lançar num disco de b-sides. “Elephants”, com seu riff característico de guitarra/baixo, e mudanças de andamento, é outra que lembra Led Zeppelin, sem, no entanto, demonstrar grande inspiração.


“Scumbag Blues” mostra o que aconteceria se, durante uma gravação do Led Zeppelin nos anos 70, Jimmy Page e Robert Plant saíssem pra tomar um café, e Homme (que estava lá assistindo a tudo) assumisse as guitarras e vocais por uma música, fazendo desta a canção que mais elementos das duas bandas padrinhas deste projeto apresenta. Entretanto “Badoliers” e “Reptiles” não passam do razoável, sendo facilmente descartadas pelo ouvinte durante uma nova ouvida no disco.


“Interlude With Ludes”, com sua esquisitice, e como o nome sugere, tem mais o papel de dividir o disco numa segunda parte, do que propriamente de música, sendo que é monótona demais, caso disponha-se a ser de fato uma música ativa do disco. Após este momento bizarro, desembarcamos na segunda parte do disco, com canções mais dark, arrastadas e compridas que as anteriores.


“Warsaw Or The First Breath You Take After You Give Up” é uma música interessante, que alia peso a um clima etéreo durante seu refrão, mas que testará os nervos dos fãs mais pop, com seus quase oito minutos. Em seguida “Caligulove” entra no túnel do tempo para desembarcar diretamente na década de 70, mostrando o que seria o Queens Of The Stone Age, caso ele existisse já naquela época e resolvesse roubar os teclados das músicas do Deep Purple. Mas “Gunman” é uma canção fraca, mostrando-se mais interessanda em encher o disco com mais uma música, do que propriamente querendo figurar entre o corpo de canções obrigatórias do disco. O fechamento fica por conta de “Spinning In Daffodils”, cujo áudio mostra que ela foi gravada “ao vivo dentro do estúdio”. Os arranjos depressivos fazem dela a melhor escolha de música para encerrar este disco.


Them Crooked Vultures não é um álbum impressionante do ponto de vista musical, mas certamente tem qualidade de sobra para figurar como um dos grandes lançamentos do rock, que nestes últimos anos tem sido marcado pela quantidade de porcarias em mercado. O interessante é que para se fazer um som que realmente pudesse ser chamado de rock and roll de verdade, e que figurasse na grande mídia, foi preciso a união de três tiozinhos, remanescentes de décadas passadas. Verdadeira aula de música para essa galerinha, colorida e cheia de franjas e acessórios, mais calcada em pose do que em som. Viva estes urubus tortos, que trazem, com seus anos de experiência, um rock and roll ainda cheio de qualidade e frescor típicos da juventude, que mesmo em alguns momentos cambaleantes, ainda soa melhor que tudo que vem sendo lançado pelo bando “teen”, este que sim, deveria se aposentar. Vale a pena conferir o super-grupo!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ajudando o Povo?


Texto de Álvaro Samways

No ultimo dia 16, o presidente Lula aprovou finalmente, depois de muita enrolação, mais um aumento no salário mínimo dos servidores públicos, aposentados e pensionistas. Desta vez até os trabalhadores mais otimistas se viram surpresos: o aumento contemplará com mais 33% sobre o mínimo que era vigente em nosso país. Os outros aumentos nunca nem chegavam dos 10%. Isso prova que o Lula sim foi um bom presidente, pois ele deu este aumento significativo nos salários mínimos. Acho que devemos levar isso em conta e votar na Dilma nas próximas eleições presidenciais, que, olha só, serão daqui a alguns meses. Legal! Já tenho meu candidato, e nem precisei me esforçar muito para escolhê-lo. Viva o Lula e o PT!!!!

Você não achou que estas últimas sentenças que eu proferi eram sérias né?! Por que realmente, elas não são! Este foi só um insight que tive ao justamente ler a tal notícia sobre o aumento dos salários. E realmente não há como não pensar assim se sua realidade é a de um trabalhador desiludido com a desproporcionalidade entre “suor desprendido no seu emprego X remuneração ao final do mês”. Qualquer um que gasta mais tempo e energias dando duro para colocar comida no seu prato e de sua família, do que curtindo um momento de lazer com estes mesmos receberia esta notícia quase como um aidético receberia a notícia da descoberta da cura da AIDS. E é justamente ai que mora todo o perigo.

É preciso atentar justamente para o contexto vivido pelo país no momento da aprovação desta lei, para ver que ela não vem para ajudar o povo trabalhador, sendo sim, mais uma manobra política. Por que eu lhe pergunto meu estimado leitor, um governo que não deu aumentos de salários que fossem menos do que ínfimos, iria justamente agora, em seu último ano no poder, aprovar um aumento de praticamente 35% nos salários. Claro que sim, você é inteligente, e também percebeu que a resposta para esta questão já se encontra inserida na própria pergunta. É o último ano da “dinastia” Lula nos comandos deste país. Esta é a chave que, aliada aquele meu insight proletário desenvolvido lá em cima, abre as portas de nossa compreensão na hora de descobrir a resposta.

Este aumento nos soldos não passa de uma forma cabal e rasteira de campanha política, chamada por alguns filósofos políticos de “campanha eleitoral indireta”. Este tipo de campanha consiste justamente em usar o poder que lhe já está em mãos para influenciar as mentes populares a votar a seu favor na chegada hora de novas eleições. Sem gastar um centavo dos cofres do seu PT, Lula consegue aprovar um projeto de lei que deixará a população tão confiante de que ele (e logo, seu partido também), estão alinhados aos interesses populares, que acabará ganhando votos com isso para sua candidata a sucessora na cadeira presidencial: Dilma Roussef.

O trabalhador brasileiro mediano, que gasta mais de seu tempo trabalhando por sua casa do que lendo alguma coisa útil para incrementar seus conhecimentos, engole esta isca com linha e tudo, uma vez que sua memória de rato não lhe permitirá lembrar todas as mancadas do nosso amado Lula durante sua estadia nos Palácio do Planalto. Sua embriaguez em público, frases de gosto duvidoso (aqui e lá fora), projetos paliativos repugnantes de “bolsa-esmola”, mutação ideológica durante a Transição de seu PT da oposição ao poder, escândalos protagonizados pelos líderes mais importantes deste mesmo partido (quase todos envolvendo o meu e o seu dinheiro), tudo isso já foi apagado da memória do cidadão brasileiro corriqueiro, em detrimento ao aumento na piada, digo, salário a que todo brasileiro tem direito, que o “pai dos pobres Lula”, por “vontade de ajudar o povo”, resolveu incrementar.

Mas não, este tipo de coisa não é um (des)mérito da mente sagaz do sr Luiz Inácio “Lula” da Silva. Muitos episódios como este já figuraram a história de nossa pátria. A face eterna que figurará neste tipo de atitude é a do lendário presidente Getúlio Vargas. Durante toda sua estadia no governo, desde a Revolução de 1930, seus dias de ditador no Estado Novo, e sua ultima investidura como presidente, com o fim de sua vida por conta do suicídio em 1954, ele fez este tipo de jogo, “trocando favores” com o povo. Algo como “eu aprovo algumas leis trabalhistas a favor de vocês trabalhadores e seus sindicatos, e vocês se comprometem a não me encher o saco com greves e votar nos meus candidatos”.

Mesmo seu suicídio foi uma última jogada de “campanha indireta” (talvez a mais ousada da história da política mundial) contra seu principal adversário (uma forma polida de falar sobre seu inimigo público) político, o jornalista Carlos Lacerda. Vendo que o Brasil estava totalmente fora de seu controle, Vargas uniu o “útil ao agradável” (acho que o indivíduo que se suicida não está ligando muito para o quanto isso será desagradável): livrou-se da bomba relógio que era o país na sua mão naquele período, e ainda conseguiu frustrar as expectativas de Lacerda e sua UDN (União Democrática Nacional, partido político o qual ele era um dos líderes). Usando de uma carta-testamento que foi publicada nos meios de mídia da época, Getúlio expôs os motivos de seu suicídio, o que em resumo seria “a pressão sofrida por ele pelos inimigos da pátria”, que qualquer um podia entender, eram Carlos Lacerda e seus aliados, que sempre atacaram suas leis trabalhistas/sociais e seu método de usá-las.As pessoas leram esta carta e se indignaram, destruindo várias sedes da UDN e de jornais anti-getulistas por todo o Brasil. Mais uma vez a estratégia de campanha indireta deu certo, pois nas eleições presidências seguintes quem venceu foi Juscelino Kubitschek do PSD e PTB, partidos estes, getulistas.

São muitos e muitos os exemplos destas “campanhas indiretas” ao longo da história brasileira, só citei este pro ser o mais pretensioso e macabro do qual se tem notícias, mostrando do que um político é capaz, muitas vezes, para não perder o orgulho e o poder uma vez conquistados. É sintomático que qualquer lei que venha a ajudar o povo, venha também com o bônus de ajudar aquele que a criou, pois é historicamente comprovado que em nosso país, poucas vezes alguém trabalhou em favor dos menos favorecidos, e estes que o fizeram, geralmente não demoraram a perder suas esperanças, visto a corja de sangue sugas que os cercavam, de todas as formas tentavam acabar com suas iniciativas, sendo que no fim das contas, ou se juntaram à turba de urubus, ou decidiram abandonar a política para sempre.

A alternativa para nós, pobres civis trabalhadores, é buscar colocar a reflexão em primeiro lugar, e analisar nossos candidatos em mais um ano de eleição. Sei que constitui uma tarefa hercúlea garimpar um candidato que tenha comprometimento e seriedade nestas alturas, mas resta a nós confiar. Pois assim como eu e você somos cidadãos de bem, que pagam suas contas com o fruto de seu trabalho, e que procuram ser honestos em seu dia a dia, numa sociedade cada vez mais entregue em mãos de gente sem escrúpulos na hora de tentar alcançar o sucesso, também existem candidatos sérios, incorruptíveis, num meio onde a podridão é o perfume da coletividade. Poucos, mas ainda existem. E claro, quando seu salário aumentar, fique de olho.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford




















(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)
EUA/2007
Drama - 160 min.
Warner Bros

Texto por Jean de Oliveira

O Filme baseado na obra homônima de Ron Hansen, conta a história dos últimos meses de vida de Jesse Woodson James, o mais famoso fora-da-lei norte-americano, até o fato anunciado em seu título. Seu assassinato se deu por Robert Ford, membro de sua própria gangue, que atirou em suas costas para receber uma recompensa.
Porem o spoiler presente no titulo não prejudica a surpresa do espectador, pois a essência do filme não é mostrar a morte de Jesse, e sim o desenvolvimento dos personagens.
O longa começa justamente durante o último dos assaltos a trens realizados pela gangue dos irmãos Jesse e Frank James. Após o assalto surge Robert "Bob" Ford, irmão de Charley Ford (um membro da gangue), que por ser imensamente obcecado pelas histórias dos James (principalmente Jesse), decide que quer se juntar ao grupo.

A suave narrativa, lenta e poética, nos mostra então esse abismo de constantes desconfianças que surgem ao longo do filme, que como seu título, é extremamente longo. Os 160 minutos de projeção se arrastam em uma trama da qual o cineastra Andrew Dominik nos brinda com um belo drama psicológico, abordando os limites do comportamento humano frente a sentimentos tão controversos como a adoração, a inveja, o ressentimento e a desconfiança. Assim, ele faz com que, em nenhum momento, o espectador se importe por já conhecer o final, e sim, somente se importe com o porquê disto ter acontecido.
O ponto alto do filme, é que ele mostra de uma maneira fascinante o perfil de seus personagens.
Jesse é um fora-da-lei com sensibilidade, impondo a melancolia, sagacidade e carisma de herói. Era conhecido como um jovem de 34 anos com um estado de espírito imprevisível. Alguém que conseguia impor terror nos homens da lei e em seus próprios companheiros apenas com sua presença. Nada e ninguém passavam por ele despercebidos. Atualizado com as notícias que circulavam na época, era um homem que estava sempre interagindo com os moradores de sua localidade e constantemente mudando de casa com sua família.
Já Robert Ford é um jovem que quer uma vida de aventuras iguais as de Jesse James, ou melhor, ele quer ser famoso como Jesse James, ou ainda melhor, ele quer ser o próprio Jesse James. É retratado como um covarde que matou o homem mais procurado do país, dentro de sua própria casa, ao lado de sua família, atirando pelas costas. Com seu olhar inocente e triste, mesclado a um ar meio pernóstico, ele nos causa a impressão de ser um homem inseguro, apenas um tolo admirador de Jesse.
Ao discorrer do filme, ficamos em dúvida sobre quem é o personagem principal e quem é o coadjuvante. Se o principal é Jesse James, que constrói uma desconfiança absurda em seus comparsas, chegando ao ponto de eliminar um por um os que agiram em alguns dos muitos assaltos que realizou. Ou se é Robert Ford, com sua evolução de um garoto de 19 anos com um sorrido tímido e inseguro até um assassino frio de natureza incerta.

Um dos maiores destaques também é a brilhante fotografia de Roger Deakins que retrata com exatidão um clima de pós-guerra Civil. Torna visualmente grandioso as vastas e inabitadas paisagens que retratam um velho-oeste sob uma perspectiva diferente dos velhos filmes de cowboy a que todos nós estamos acostumados a ver.
O tom literário e melancólico do longa-metragem ainda nos surpreende com as acuradas atuações de Brad Pitt que transmite um convincente cansaço de um pistoleiro emocionalmente estável. E Casey Affleck, o astro escondido por trás de um adjetivo, incorporando de forma sutil o rapaz que almeja ser como seu ídolo, mas sem muita audácia para seguir os seus passos, acaba confundindo fama com infâmia.
O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford é uma obra sensível e até mesmo de difícil compreensão, pois devido ao fato de nós brasileiros conhecemos tão pouco sobre este Robin Hood do velho oeste, dificulta-se o envolvimento do espectador com a história. Para alguns, nomes como Robert Ford, Frank James, Zee James e até mesmo Jesse James podem parecer anônimos e passar corriqueiramente despercebidos.
Outro fator depreciativo é possuir pouquíssimas reviravoltas e se sustentar somente em diálogos monossilábicos e sutilezas de olhares, alem de uma profunda extensão (o que para alguém que não tem muita paciência para ficar 2 horas e 40 minutos assistindo o torna cansativo).
Mas em uma obra em que como produtores assinam Brad Pitt e Ridley Scott já é de se esperar que venha algo formidável.
Um excelente drama western, que não mostra as razões que levaram Jesse James a um papel de destaque na história, mas sim o porquê ele é lembrado mesmo mais de um século após sua morte, enquanto Robert Ford, seu assassino, que após ter desferido o tiro, permaneceu em dúvida entre arrependimento e satisfação, acabou por cair no esquecimento e talvez seja somente lembrado como o homem que matou Jesse James.
Enfim, um ótimo filme que merece ser visto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Em Clima de Brasil


Texto de Álvaro Freire Samways.


É Copa do Mundo!!!!!!! Sim, depois de toda a contagem regressiva promovida pelos canais de televisão, rádio, internet e o escambau (coincidentemente os que detêm seu poder de transmissão), ela esta ai mais uma vez, em sua 19ª edição. Nosso (não leve esta expressão a sério, a menos claro, que você seja filho de algum político, ou milionário) país estará lá de novo, pra seguir com o tabu de nunca ter ficado de fora deste torneio.


Ao contrário do que você possa estar pensando, eu não vim aqui pra protestar contra o poder alienante exercido pelo futebol e os meios de mídia que o veiculam, chamá-lo de “ópio do povo”, ou demais frases prontas estigmatizantes, todas de cunho “marxistaanarquistaantisistemacapitalistacocacolaemcdonald’s”, que só vêm a ser modos de permanecer estático e fingir que se está indignado. Pelo contrário, gosto de assistir um bom futebol, embora eu odeie essa máfia que gira em torno da seleção brasileira (que por sinal hoje em dia é mais fraca que sopa de albergue, sendo que ela não é nem sombra do que foi no passado), e prefira muito mais o futebol raçudo de nossos hermanos (hostilizados pela mídia por pura falta de argumento da mesma) bem como sua seleção, do que o bundamolismo dos inúmeros cai-cais malas que atingem o status de craque em nossa (lembra-se de como deve ler este “nossa” né?!) pátria atualmente (que saudades das épocas de Rivelino, Zico, Romário, Edmundo).


Gostar de futebol não deixa ninguém burro como pregam os tais “revolucionários” de cartilha socialista que citei acima. Maior prova disso é que alguns de nossos maiores escritores/pensadores eram, ou são, torcedores vorazes de algum time, chegando a dedicar obras para os mesmos, vide casos como os de Luiz Fernando Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Washington Olivetto, Nelson Rodrigues, Aldir Blanc, Nelson Motta, e tantos outros que sempre se mostraram admiradores deste esporte.


O que eu acho que nenhum deles apoiaria, assim como eu, são as inúmeras barbáries e sandices protagonizadas em nome do futebol. Uma das mais óbvias e ridículas é o vírus de nacionalismo ufanista e xenófobo que infecta toda a nação a cada véspera de Copa. Do nada, pessoas que não estão nem ai para a “pátria amada”, para os problemas que ela porta, para a imagem de neandertais cultuadores de bunda que os brasileiros tem ao redor do mundo, e que sequer sabem duas estrofes do hino nacional, tornam-se patriotas doentes, e o pior, patriotas da forma mais pueril possível. Acham que demonstrar amor ao seu país é torcer para a seleção “amarelinha”, faltar ao trabalho para ver seus jogos, pintar a casa, os muros, a calçada e até mesmo as próprias fuças de verde e amarelo, depreciar outros povos (principalmente os argentinos) em propagandas dos mais variados tipos de produtos, de chinelo a cerveja, e sair em carreata caso o país ganhe uma sexta estrela no uniforme. Se isso é ser patriota, então eu definitivamente sou um completo anti-Brasil.


Por que eu de minha parte, diferentemente deles, acho uma real falta de patriotismo ver gente indo aos estádios de futebol, pagando para isso com mais de 35% do seu mísero salário mínimo (se pelo menos tivessem uma educação de qualidade na escola, perceberiam o quão ignorante é fazer isso), se arriscando com a falta de segurança, culpa principalmente da parte de alguns ogros que preferem queimar calorias brigando contra a torcida adversária do que torcendo pelo time ao qual pagaram 50,00 R$ de ingresso para assistir, se dizendo por isso “torcedores fanáticos”. Se não assistem nem ao jogo pelo qual pagaram, qual é a chance real de estarem cientes do passado político do candidato pelo qual optaram como voto? Chance ainda menor de saberem o que aconteceu aos envolvidos no “Mensalão”, no “Valérioduto”, e vários outros esquemas corruptos que tinham como patrocínio o dinheiro pago por eles mesmos no imposto incluso naquele ingresso para “assistir o time do coração”.


Acho falta de patriotismo ver que existe gente nesse país que se diz “amante do Brasil”, que chora pela derrota e eliminação do país na Copa do Mundo (quando os próprios jogadores são os primeiros a sair rindo de campo), se indigna com isso, mas não está nem ai com toda a impunidade capital de crimes hediondos que até mesmo Madre Teresa de Calcutá relutaria em perdoar, tudo isso baseado num código de leis paleozóico que beneficia os mais abastados, código este que em qualquer outro lugar do mundo que se diz civilizado já teria sido revisto pela sua ineficácia (se bem que ele é eficaz no que diz respeito a “impunidade para os que o criaram”).

Acho falta de patriotismo perceber que os maiores craques da bola (pra não citar outros esportes, e por que não, outras áreas) da história de nosso país tiveram de vencer a miséria, o descaso, a violência, a carência de boa educação e a falta de oportunidades. Ver que mesmo com tantos indicadores positivos saídos da pobreza, nenhum engravatado procura melhorar a situação, dando assim mais chances para aqueles que quiserem seguir com dignidade em sua vida. Ver que a idéia ultrapassada de que “na favela só tem bandido” ainda é o que figura na cabeça de muita gente, principalmente dos próprios bandidos, que na verdade, ocupam escritórios na Explanada dos Ministérios.


Acho falta de patriotismo morar num país onde sou chamado de “anti-brasileiro” por achar que o futebol argentino é melhor que o nosso, por achar que Maradona foi melhor que Pelé, mas constatar que o cara que rouba o dinheiro da merenda das nossas crianças é tratado como um herói nacional, ganhando condecorações e se eternizando no poder, e pior ainda, ver que estes caras que me acusam de falta de amor ao país (vestidos com sua camiseta do Kaká) se achando os “sangue verde e amarelo”, são os primeiros que estão vendendo seus votos exatamente pro tipo de cara corrupto que citei acima. Ver que no Brasil só se lembra quem são os brasileiros na hora de se arrecadar votos, e que mesmo estes, ao invés de repudiar tal ato, são idiotas o suficiente para se vender por uma cesta básica.


Esse problema de nacionalismo de plástico só será superado no dia em que o brasileiro perceber que seu país não é uma Seleção, e sim uma república federativa presidencialista, localizada na América do Sul, de 8.514.876.599 km², formada pela união de 26 estados federados e por um distrito federal, dividida em 5.566 municípios, onde abundam problemas sociais, econômicos e intelectuais de toda a ordem. País que carece o mais rápido possível de gente forte, sobretudo de espírito, decidida a não se levar pelos “contos e fábulas” das promessas de horário eleitoral, nem pelas modas e pressões impostas pela mídia de massas. Gente que leia, que critique, que pense, que reflita sobre o que acontece ao seu redor.


Não precisamos de pessoas intelectualóides, que por terem um título de doutor em alguma coisa, fazem malabarismos shakeaspearianos na hora de pedir um simples café no boteco. Precisamos sim do mínimo de córtex cerebral para não sermos enganados pelo “resultado positivo da seleção do Dunga nos amistosos”, ou pela “conquista do Fluminense na Copa do Brasil”. Saber que futebol é bom sim, mas que isso não vai colocar comida em nossos pratos, nem nos dar emprego (mesmo no caso de quem está tentando ser jogador o futebol ainda se mostra bem frustrante), quão pouco lhes garantir um futuro melhor. E principalmente: saber quer ser patriota não é andar com bandeirinha da seleção no carro, nem criticar o futebol argentino, mas sim procurar estar atento ao que acontece no contexto do seu país, para com isso poder melhorá-lo a cada dia. Antes de ser um torcedor brasileiro, ser sim, um cidadão brasileiro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

CDs (Clássicos) QUEENS OF THE STONE AGE





Queens Of The Stone Age

Songs For The Deaf
(Interscope)
2002

Texto por Álvaro Sanways

Não, os anos 2000 não ficarão marcados só pela atrocidade musical cometida pelas bandas ditas “emocore”. A maior prova disto está neste disco, Songs for The Deaf,de 2002, que é um dos trabalhos mais espetaculares concebidos por um grupo de rock em todos os tempos.

Dois anos após o intrigante álbum “Rated R” de 2000, o Queens Of The Stone Age reuniu-se mais uma vez em estúdio para a gravação de um novo registro sonoro inédito, desta vez contando com uma formação que daria inveja a qualquer supergrupo: nas guitarras e nos lead vocals, o entronizado (por seus próprios méritos) rei do stoner-rock, Josh Homme (que ficou famoso com a lendária banda Kyuss nos anos 90). Como segundo vocalista o respeitadíssimo Mark Lanegan (outro oriundo de uma das grandes bandas de Seatle dos anos 90, os Screaming Trees). No baixo e em alguns vocais de determinadas musicas o carismático Nick Oliveri (outro membro fundador do Kyuss), e aquela que era a presença mais ilustre deste dream team, o atual vocalista dos Foo Fighters e ex batera do Nirvana, Dave Grohl, tocando (com uma energia e criatividade que beiram o insano) o instrumento que lhe trouxe fama mundial com o respectivo grupo. Esta já seria uma equipe de gigantes mesmo que não levássemos em conta a participação de Alain Yohannes, multi-instrumentista famoso pelo seu bom trabalho com as mais diversas bandas alternativas da desert area, que tocou todo tipo de instrumentos durante as gravações, dando apoio ao que esses quatro digníssimos cavalheiros viriam a desenvolver, nada menos que o melhor disco do catálogo da banda em todos os tempos.

Com esta formação calcada na nata de músicos de rock alternativo dos anos 90, o QOTSA elaborou uma das melhores gama de músicas que se pode escutar num mesmo álbum. Para começar injetando uma navalha direto no cérebro do incauto ouvinte, a musculosa abertura com “You Think I Ain’t Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire”, que só pelo título já demonstra seu total despojo em relação a qualquer resquício de comercialidade. Seguida dela a perfeita “No One Knows”, maior hit do disco, com refrão grudento e ótimas guitarras. “First It Giveth” mostra um groove monumental de bateria, caindo como uma luva no resto dos instrumentos, e “Song For The Dead” trás uma incrível composição embasada em vários clímax, ora com pesados momentos na voz rouca característica de Mark Lanegan, ora com falsetes muito bem empregados por Homme , e com um Grohl tocando como se fosse um John Bonham com esteróides.

Após essa avalanche inicial de peso temos a soturna “Sky Is Falling”, que apesar dos momentos de pesados, tem mesmo como chamativo os momentos etéreos, trazidos a tona pelas vocalizações em falsete de Homme durante as partes instrumentais. Passado o devaneio celestial vem a pesadíssima (e curta) “Six Shooter”, que na voz agressiva de Nick Oliveri, leva apenas 1:20 para atravessar o cérebro do ouvinte como uma faca quente na manteiga. “Hangin Tree” é outra peso-pesado, que, composta por Alain Yohannes e cantada pela voz neandertalesca de Lanegan, poderia muito bem justificar o ingresso do músico de apoio para o cast principal da banda, de tão boa que a música é.

“Go With The Flow” é outra pérola, onde é possível (graças ao tom mais alto da canção) escutar um belo timbre vocal pouco usado por Homme na história de sua banda, o que por si só, já tornaria esta música uma audição obrigatória, sem levar em conta o bom trabalho de Grohl nas baquetas, colocando um clima de urgência quase agoniante à esta faixa. A seguinte, “Gonna Leave You”, apesar de não estar no mesmo patamar de todas as anteriores, mostra um apelo comercial legal sem se tornar descartável, com belas vocalizações de Homme, mais uma vez, e interessantes duetos vocais com Oliveri.

“Do It Again” pode ser caracterizada como um “blues stoner rock”, pois alia o peso característico das afinações baixas do rock criado pelo Kyuss nos anos 90 com levadas primorosas de Grohl ,em um shuffle anabolizado. Também pertencente a classe do “blues stoner rock”, a ótima “God Is On The Radio”, que além dos duetos vocais inspirados entre Lanegan e Homme, traz um ótimo solo de guitarra, com um timbre vintage que fará os mais saudosos corarem.

“Another Love Song” é outra canção que apesar de não estar no nível das demais não deixa de ser interessante, pois trás um Nick Oliveri cantando de forma calma, bem diferente dos gritos habituais do baixista/vocalista, além de uma letra legal e um ótimo trabalho de batera de Dave Grohl, alternando levadas limpas com climas tribais, climas estes que se fazem mais presentes no fechamento áureo do disco com a mastodônticamente pesada “Song For The Deaf”, uma música com tantos climas que faz o ouvinte chegar em êxtase ao seu final. Há ainda uma faixa bônus, chamada “Mosquito Song”, uma ótima música em clima acústico, que lembra muito a fase umplugged do grunge.

Além de todas as belas composições, o que também ajuda a definir Songs For The Deaf como um álbum de rock atemporal é a sua produção artística (a cargo do próprio Josh Homme e de Eric Vallentine), que conta com uma gravação totalmente em climas vintage, e a ótima sacada de contextualizar o disco todo como um capítulo vivido por alguém que está à procura de boas músicas pelas ondas de rádio (durante todo o disco, entre as faixas, é possível ouvir vinhetas, propagandas e trocas de sintonia, como se realmente as músicas estivessem sendo encontradas durante uma ouvidela pelo rádio do carro, numa viagem por uma highway no deserto da Califórnia).

Songs For The Deaf é realmente um daqueles discos que valem a pena ser ouvidos na íntegra, que marcam toda uma geração que (com sorte) foi contemporânea a ele, e que certamente se manterá impassível a ação do tempo, com suas características artísticas intactas, sendo para sempre uma referência quando o assunto for música, e especialmente, rock bem feito. Só temos a agradecer ao Queens Of The Stone Age, por este impagável presente.

terça-feira, 8 de junho de 2010

E Assim Caminha a Humanidade



Texto por Jean de Oliveira

As baladas se tornaram um marco obrigatório imposto pela sociedade para relacionar e entreter a cultura jovem. Ficou estipulado que se você é novo e busca diversão, somente irá encontrar em uma boa festa.
E parece que ela se tornou uma coqueluche instantânea entre os jovens, estes que se sentem imensamente vazios (e isso inclui intelectualmente), e por isso sempre precisam de uma boa festa para se sentir preenchidos.
É fascinante como em um lugar onde não se pode desenvolver uma conversa descente, graças a musica alta (e extremamente ruim), com pessoas se esfregando devido ao resultado da constante: superlotação + ambiente pequeno, homens babando em cima de mulheres (igualzinho no Animal Planet), falta de educação, dentre outros fatores mais, sobrando como única alternativa o consumo de bebidas alcoólicas para tentar aventurar-se em um romance que provavelmente durará apenas uma noite (afinal quem vai à balada para encontrar o grande amor da sua vida?), possam se ajuntar as mais diversificadas variantes de pessoas com os mesmos (decadentes) propósitos de vida.
A grande maioria dos seres que habitam esses lugares são de extrema promiscuidade, pois se analisar a personificação do baladeiro, independente de ser homem ou mulher, concluir-se-á que essas pessoas se preocupam somente com sua imagem narcisista, com seu desejo permanente de se sentir engrandecido, à medida que adquire e possui coisas - no caso, "conquistar" alguém na balada; ou a necessidade constante de admiração alheia.
Agora passamos para os estereótipos de grupos figurantes deste antro.
Iniciamos com o grupo dos homens. Este que chegam à frente da selva, digo balada, com um carro superlotado de seres do mesmo sexo, se preparam com os tão bem falados "esquentas". São liderados por um típico otário com uma garrafa de Sprite misturada com algum destilado na mão, bebendo para mostrar que ele é o bêbado da turma. Junto com outros infelizes asnos, berrando e rindo alto para chamar atenção, e mais alguns bebendo cerveja para completar a trupe dos imbecis.
Aí eles fazem uma rodinha e se fixam em um local, sempre com a garrafinha de long neck na mão, soltando uns passos desajeitados, fingindo que curtem a música (na real nem sabem o que está tocando) quando na verdade estão de olho em algum sinal feminino de alguém que se interesse por eles. Coisa essa que não acontece.
A noite vai passando e o desespero para "pegar" alguém aumenta, é ai que vem os tiros para cima das muito feias mesmo.
Começam então com os primeiros ataques, com aqueles olhares sedutores que eles viram o cara da novela fazer, usando o tradicional “oi tudo bem”, “qual seu nome”, "você é muito linda" e o cafonérrimo “oi, você vem sempre aqui?”.
Enfim, o acervo completo de cantadas de um genuíno babaca, digo baladeiro padrão, para falar pra toda mulher, que por sua vez, os rejeita de qualquer jeito.
Uma coisa que me deixa indignado é que eles nunca percebem que só pelo fato de freqüentar uma balada, já saem no prejuízo (tanto financeiro quanto emocional). Pois se for descontar a grana da entrada, consumação e se no final se der bem, ainda vai ter que gastar com motel, caso contrário, aquelas doses de vodka que pagou R$ 10,00 cada para ficar bêbado e se aventurar com alguma mulher (que o rejeitou, obviamente), irão provocar uma enorme ressaca no dia seguinte, fazendo-o vomitar e suar feito um porco a espera do abate, para que quando finalmente se sinta melhor, já chegou outra noite de festa e os estúpidos retornam, fazendo esse mesmo ciclo diversas vezes. No caso de falta de grana, o romântico banco de trás do carro ou a boa e velha moita resolvem o problema.
Infelizmente isso ocorre seguidamente, sendo esse o retrato mais fiel dos homens patéticos das baladas que já pude ver. Posso até lhe garantir que já presenciei e sou testemunha ocular disto.

Em seguida vem o grupo das garotinhas que acabaram de completar 15 anos e acham que são adultas. São aquelas que passam o dia inteiro lendo Crepúsculo e assistindo Malhação ID. Vão para as festas tentando imitar as mulheres que elas assistem nesses seriados chatíssimos que passam na TV a cabo. Essas não duram muito, pois a mamãe não deixa ficarem até tarde. Porém o tempo em que passam lá é mais que necessário para provar o quão acéfalas são, rindo e falando alto, soltando gritinhos temerosos, tudo para chamar a atenção, para mostrar o quão divertidas e “descoladas” são. Até que voltam pra casa (no carro da mãe que tem que ir buscá-las) para continuar a ler Crepúsculo, ou brincar de que é a namoradinha de algum garoto do colírio da Capricho, com as amiguinhas que vão dormir juntas.

E por último, mas não menos importante, vem o grupo das mulheres, seres cujo único princípio é para achar alguém que massageie seu ego e alimente a sua imagem, inundando-as de elogios (que serão por elas ignorados).
Ficam na fila cheias de si, com aquela cara de mau humor, todas produzidas (afinal, em uma balada, quem se interessa por beleza interior?), sabendo que todos os homens do lugar querem comê-las, e que elas vão esnobar, pois são as superiores do local.
Quando algum homem chega nelas, elas adoram dizer "só vim pra dançar". O que me faz pensar que pra dançar tem mesmo que se produzir, escolher roupa, colocar um salto, fazer chapinha, ficar socada num lugar entupido de gente, suar por todos os poros e ir embora toda suja e com o cabelo alvoroçado carregando o salto na mão? Ligar um som e dançar em casa, é uma possibilidade jamais cogitada.
Mas a verdade é que elas estão ali para atrair os machos e terem seu ego inflado quando passarem pelo grupo do babaca com a garrafa de Sprite e seus amigos, e verem eles chuparem os dentes tentando demonstrar excitação. Então eles chegam com suas deprimentes cantadas (que já citei acima) e pagam diversas bebidas a elas, que por sua vez, ficam se fazendo de difícil, para o cara pensar que se trata de uma garota de respeito. Quer se dar ao valor pensasse nisso antes de sair de casa, pois agora já é tarde, e até seres de completa carência intelectual, como a trupe dos imbecis, sabe que elas estão ali porque querem homem, estando tão necessitadas quanto eles.
Em seguida, as mulheres vão pra casa com o ego lá em cima, felizes, contentes por tantos olharem pra elas, e menos pobres por não pagarem tanto, prontas pra outro dia na sua vida. Já os idiotas, que se no caso, o papai tiver dinheiro, ele é então um "bacana", daí tudo bem, não irá fazer falta nenhuma, pois semana que vem ele receberá outra mesada. Agora se você é um sujeito que ganha um salário de R$ 465,00, e semanalmente comete essas atividades, sinto muito meu amigo, mas você é um imbecil. Por isso acho que uma balada pode ser considerada como um cassino: ambos são lugares onde você gasta todo seu dinheiro, e as chances de sair frustrado são grandes.
Este é o real e deprimente itinerário de uma balada, ainda que certos fatos eu nem citei, como os animais que começam a brigar lá dentro para mostrar que são os machos da floresta, ou então o raciocínio desses pseudo-sedutores, que chegam para uma mulher desconhecida que nunca viram na vida, e dizem coisas do tipo: "você é a mais gata da festa, quando eu te vi, percebi que precisava ficar com você".
Isso também mostra que a mulher em nossa cultura contemporânea deixou de ser a companheira, passando a ser objeto do homem. Neste caso ela mesma é a responsável pelo seu caos particular, pois se desvaloriza cada vez mais, freqüentando essas festas e concordando com a condição de objeto, aceitando as cantadas mais ridículas de um cara, que até elas sabem, tem como único desejo possuí-las por uma única noite e nada mais.

Portanto se você cedeu alguns preciosos minutos da sua vida lendo isso, pode estar pensando que eu sou um tipo de tradicionalista-moralista. Não, sou apenas um cara com algum resquício de senso crítico, indignado com essa geração que foi morta por uma overdose de estupidez, alguém que acha que a mulher deve ser tratada com respeito, e não como uma fruta (por mais que algumas prefiram e vivam assim) que você come e depois joga fora.
Mais até que chegue o dia em que essas ilusórias patricinhas percebam que perderam os caras legais para as mulheres inteligentes e maduras, elas não começarão a mudar. E até então, nossa sociedade intelectualmente medíocre continuará sendo o paradigma dominante de si mesma.

domingo, 6 de junho de 2010

Brasil, Um País Que Involui


Texto de Álvaro Samways

A algum tempo atrás estava eu calmamente zapeando os canais na TV a procura de algo que pudesse salvar minha noite quando me deparei com o incólume programa Superpop, comandado pela oportunista (e eternamente agradecida à camisinha furada do Mick Jagger) Luciana Gimenez. Todo e qualquer ser humano com mais de três neurônios ativos sabe que este programa é uma égide à ignorância, sempre recheado de atrações horrendas e convidados idem, constituindo um dos ícones mais representativos da burrificação a qual todo cidadão brasileiro é exposto diariamente. Normalmente eu passaria reto por esta atrocidade em forma de programa, mas acabei dando de cara com este quadro http://www.youtube.com/watch?v=LVYxsrYb7vI , que me fez parar e assistir por alguns momentos este programa. Peço que vocês também assistam este vídeo, para que possam compreender o que tentarei lhes passar nas linhas subseqüentes.
No tal vídeo podemos ver a crítica de Régis Tadeu, na minha opinião, uma espécie em extinção dentre os críticos musicais, pois ao contrário do resto dos de sua classe, ele sempre mostrou-se coerente, sério e como ele próprio diz no vídeo, sem laços de “corporativismo” com ninguém, cumprindo seu papel crítico com toda a veracidade. Como pudemos assistir, Régis Tadeu discorreu de forma embasada e sincera, dotado sempre de argumentos plausíveis para colocar sua opinião em voga, que é o que qualquer um que se diz inteligente já percebe por si só: o fato dessa tal Tati Quebrabarraco não passar de lixo em termos de conteúdo artístico, e que o que ela faz não tem absolutamente NADA a ver com Funk. Ela, em contraparte, elabora uma resposta sem nenhum embasamento, com um português que até mesmo um ornitorrinco bem treinado poderia reproduzir, colocando como mérito artístico o seu “DVD de ouro” (engraçado como este “argumento” do “número X de cópias vendidas” é sempre prevalente entre aqueles que nada têm a dizer de relevante, mostrando mais uma vez que quantidade não é sinônimo de qualidade), sem realmente ter como defesa algo que pudesse contradizer o seu acusador. Mas o pior deste vídeo está longe de ser isso. Quando e tal Quebrabarraco acaba de bufar sua ridícula resposta (se é que aquilo pode ser considerado de alguma forma uma resposta), o público que estava no programa a aplaude, como se ela tivesse vencido o debate usando de uma inteligência enxadrística, e logo depois gritam seu nome em coro. Ver este quadro só me fez atestar algo que, a cada dia, se mostra mais escancarado: que o Brasil é um país em involução.
Parece que com o passar do tempo, mais e mais pessoas têm seu cérebro lobotomizado, desligando qualquer célula reflexiva a respeito do que lhes é empurrado como algo bom e verdadeiro. Basta analisar este caso do tal funk carioca (em letra minúscula, por não se tratar do verdadeiro Funk). É sintomático o fato de que quando se fale em Funk em alguma roda de conversa com os amigos na lanchonete da esquina, o que venha à pauta seja essa profusão de desqualificados como MC Creu, Latino, Bonde do Tigrão, entre outras porcarias. Quando diabos contaram a piada de mau gosto dizendo que isso é Funk?
Funk sim, é uma música de altíssima qualidade, que começava a despontar em bares enfumaçados dos EUA no inicio dos anos 60. Mas foi um certo cavalheiro chamado James Brown, que no final daquela mesma década, ficou conhecido na grande mídia por fazer uma música que despojava o soul de suas caraterísticas mais melódicas e dava ênfase à parte rítmica, dando luz a um estilo altamente dançante, contagiando a qualquer um que tivesse dois ouvidos em perfeito funcionamento. Com seu talento indiscutível sendo reconhecido, ele tornou-se o embaixador e lenda viva do novo estilo de soul music chamado FUNK (nome de uma gíria que correspondia ao suor resultante da dança, por isso costumava-se dizer “this is a funk music”, algo como “esta é uma música que faz suar”), e com isso não demorou a influenciar gerações. Deste mestre pioneiro surgiram mais e mais grupos de talento áureo, como Tower Of Power, George Clinton com Funkadelic e Parliament, Sly e The Family Stone, Wild Cherry, Brecker Brothers, Larry Graham (inventor da técnica conhecida como “slap” no baixo elétrico, uma das marcas registradas do estilo Funk neste instrumento), e taaantos e taaantos outros. No Brasil o Funk verdadeiro teve e ainda tem representantes que igual quilate artístico, como o mestre Tim Maia, Ed Motta, Jorge Ben-Jor, Funk Como Le Gusta, Serial Funkers, e vários outros artistas injustiçados pela mídia de massa.
Este tal funk carioca, que de Funk reforço, não tem NADA, é uma variação do tal Miami Bass, estilo que nasceu nos EUA nos anos 80, junto ao início da música eletrônica, e que ficou famoso com grupos picaretas como o 2 Live Crew. Este “batidão” não passa de uma profusão de “músicas” tenebrosas, letras piores ainda, e “artistas” (um crime inafiançável chamar essa gente de artistas) que beiram o zero absoluto em termos de talento.
Ver um gênero destes triunfar na grande mídia de nosso país é algo semelhante a levar um carimbo de “burro” na testa. É a sensação de ser passado para trás, de ter sua honra desrespeitada e sua moral colocada em xeque, pois somente alguém que pense que seus espectadores são um bando de mortos-vivos com baba escorrendo pelo queixo pode concordar em veicular este tipo de atração em seu programa/emissora. Somente em um país atrasado social e intelectualmente, tal tipo de atitude dá lucros financeiros, tanto pra veículos de mídia como para os que se propõem a viver do ato de protagonizar tal barbárie supostamente musical. E quem sai perdendo são justamente os cidadãos, que em sua maioria são realmente passados pra trás, rotulados como idiotas, e dão de comer pra esta corja de aproveitadores e oportunistas.
O Brasil involui a cada dia, a passos largos, e a trilha sonora de fundo mais apropriada, é mesmo o funk carioca, pois forma um paralelo com a situação brasileira, visto guardar nele as mesmas características do que nosso país vive: algo caótico, confuso, louco (no pior sentido da palavra), bruto, artificial, patético, sem um pingo de seriedade, apenas nutrido por um amontoado de baixarias, seja pelos seus artistas/governantes, como por seu público/povo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Apanhador no Campo de Centeio




















Texto por Jean de Oliveira

O Apanhador No Campo De Centeio, é a tão controversa obra de Jerome David Salinger, que tornou-se o mais acurado e sensível grito da crônica juvenil, e uma das mais marcantes obras da literatura norte-americana contemporânea, que transcendendo as décadas, vem hipnotizando cada vez mais um numero maior de fãs. Nele Salinger comanda a narrativa de maneira surpreendente e fria, mas ainda assim deixando algum resquício de inocência e ingenuidade infantil, sob a voz crítica e entediada de Holden Caulfield, tendo como cenário os dias da sociedade de Nova York da década de 50.
Este clássico da literatura norte-americana narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, um típico garoto americano vindo de uma família classe média alta de Nova York, incomodado com a mesmice, a ignorância e principalmente, a falsidade que o cercam. Holden, estudante de um refinado internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter reprovado em quase todas as matérias. Na volta para casa, narra os dias que sucederam a sua expulsão da escola Pencey enquanto sai vagando pelas ruas de Nova York refletindo sobre tudo o que (pouco) viveu, e agredindo, com bastante inteligência e sarcasmo, tudo o que detesta à sua volta. Repassando sua peculiar visão de mundo,ele tenta enxergar alguma diretriz para seu futuro. Antes de se defrontar com os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, sua irmãzinha) e tenta lhes explicar a confusão que passa por sua cabeça, mas ninguém lhe compreende. Porem o que realmente o incomoda é o vazio e a falsidade das pessoas, que por mais promissoras que pareçam, sempre acabarão por se revelar como mais uma decepção.

Durante a leitura de O Apanhador, para poder compreender o porquê de este livro ser tão aclamado e discutido em todo mundo, deve-se levar em conta alguns detalhes cruciais.
A escrita em si é um pouco antiquada, e usa de muitas expressões coloquiais. Claro que se você é um jovem de 17 anos hoje e ler o Apanhador vai achar os diálogos ultrapassados, e talvez a estória não pareça ser tão interessante, mas tenha a consideração de lembrar que a idéia de Sallinger, em 1951, era mostrar como os jovens falavam uns com os outros, sem se importar se aquilo era adequado ou não, ele quis transmitir a naturalidade do mundo jovem que estava acontecendo na época.
Foi a primeira vez na literatura americana (ou mesmo na mundial) que este tema foi tratado à fundo e exposto de maneira absolutamente natural. Sallinger quis mostrar o paradigma de se ter idéias, mas ninguém lhe escutar por causa de sua (pouca) idade.
O Apanhador após ser publicado, acabou por se tornar uma verdadeira revolução literária, por mostrar os anseios e preocupações de um jovem na década de 50. Foi também um dos responsáveis por criar a cultura-jovem, pois até então o adolescente não tinha direito a uma voz e uma visão de mundo próprio, ele era apenas ignorado pelos mais velhos. Ao contrario dos dias de hoje, onde os jovens têm toda a liberdade para se expressarem e gostarem do que querem (mesmo que em minha opinião, para alguns, este privilegio devesse ser revogado).
Mas a obra jamais poderia ser vista como uma apologia à rebeldia adolescente, simplesmente porque Caulfield, o contestador de Salinger, em momento algum tenta confrontar as pessoas que ele tanto critica. Ele sabe que o problema é ele e a sua espiral de amargura e repulsa, convertendo a realidade que o cerca em uma espécie de cotidiano decadente e corrompido. Sabe que o mundo lhe incomoda tanto quanto ele "incomoda" o mundo, e por isso esta sempre sendo enxotado das escolas, mas nunca usa uma justificativa como "incompreensão do mundo exterior”.
Mas também não é só de elogios que vive o memorado Apanhador no Campo de Centeio. Como toda obra, ela tem seus prós e contras. Este livro não deixa de lado passagens de profundo desprezo com o personagem que, durante alguns trechos, mostra-se chato e monótono, só reclamando de tudo e de todos, transformando conversas banais em fenômenos nojentos, mudando a realidade à sua volta em um profundo poço de pessimismo e depressão.
Por isso Holden é ao mesmo tempo o herói e o vilão da estória, pois durante o decorrer dela, enquanto enfrenta dramas e tormentos pessoais, nunca oculta seus erros, muito pelo contrário, sempre deixa bem claro seus defeitos como por exemplo: ser divertidamente mentiroso, assumidamente covarde, entre outras coisas. E isto é relatado seguidamente durante o livro, para que o leitor seja introduzido da maneira mais próxima da realidade na vida desesperante deste rapaz de dezesseis anos.
A fama de O Apanhador é sobretudo devida à polêmica envolvendo Mark Chapman, o assassino de John Lennon, que quando capturado pela polícia, carregava este livro consigo. Quando questionado sobre o porquê de ele ter assassinado o ex-Beatle, Chapman respondeu "Leia O Apanhador no Campo de Centeio e você descobrirá porque o fiz. Esse livro é meu argumento". Outro fato curioso é que o atirador que tentou matar Ronald Reagan, em 30 de abril de 1981, afirmou a mesma coisa, ou seja, que teria tirado do livro a inspiração para matar o presidente Reagan. Por isso, O Apanhador acabou se tornando o livro mais vezes banido da Literatura. Porém, em contrapartida, também uma parte obrigatória do currículo acadêmico de muitos países de língua inglesa.

Algo que me deixa feliz, em tempos onde até Ana Maria Braga escreve livros, é que O Apanhador No Campo De Centeio, que agora completa 59 anos de publicação (ele foi publicado em 1951), continua sendo referencia a uma boa literatura própria e marcante, mesmo com toda a controvérsia que o envolve, é um livro indispensável na formação de alguém que possui algum átomo de senso crítico.
E se você não concorda comigo e acha o que eu escrevi a maior idiotice do mundo, e ainda pensa que ficou mais burro por ter lido tudo isso, releve, pois eu poderia estar matando, roubando ou escutando musicas do Latino (não sei o que seria um crime mais grave), mas não, eu estou aqui, apenas escrevendo o que penso.

Cds (Lançamentos) ALICE IN CHAINS




ALICE IN CHAINS

Black Gives Way To Blue
(EMI) 2009

Você se lembra do Alice In Chains? Sim, é aquela banda mesmo, que foi um dos pilares do movimento musical que, nos anos 90, ajudou a redefinir os caminhos do rock para algo realmente de artístico novamente (e não por acaso jogar fora toda a geração de bandas que ficaram conhecidas como “hard rock farofa”, que haviam infectado o globo na década anterior), numa explosão de rock alternativo advinda da cidade de Seattle, que ficou conhecida como grunge. O que? Você não os conhece? Pois então deveria, e a melhor hora para você que não viveu a efervescência dos anos 90 é agora, visto que a banda voltou às suas atividades neste ano, depois da perda de seu vocalista original, Layne Staley, por overdose de heroína em 2002. E para iniciar vida nova, um registro sonoro completamente inédito marca o triunfante retorno.

Black Gives Way To Blue é o primeiro álbum de estúdio do AIC em 14 anos (o último havia sido o bom eletro-acústico Jar Of Flies, de 1994). Sob a batuta do excelente guitarrista Jerry Cantrell, a banda traz de volta o som característico que a tornou famosa nos anos 90: pesado, arrastado e monocromático, sempre com arranjos primorosos, os riffs de guitarra de mais de uma tonelada de Cantrell, bateria musculosa de Sean Kinney e o baixo a serviço da música de Mike Inez, o que fica explícito já na abertura, com a ótima “All Secrets Know” e a perfeita “Check My Brain”.

Como novidade, pode-se ouvir os inspirados vocais do novo membro da banda, William DuVall, que conseguiu substituir Layne Staley com honras, registrando vocais que deixariam contente o falecido. Mesmo com vários momentos de semelhança com Staley, Duvall não deixa de imprimir uma boa dose de subjetividade em vários momentos pelo disco, como na cadenciada “Last Of My Kind”, “Take Her Out” e “Private Hell”. “Your Decision”, “When The Sun Rose Again” (que chega a incluir até mesmo tablas) e a faixa título, remetem ao já citado álbum Jar Of Flies pela sua pegada acústica, que surge como um ponto de luz em meio ao clima sombrio e mórbido que figura todo o disco. Em contraponto “A Looking In View” e “Acid Bubble” (tão arrastada e pesada que faria o pessoal do Black Sabbath ruborizar-se), trazem um peso neandertalesco, que combinadas á tristeza na letra de “Lesson Learned”, fazem com que as canções ganhem moldes épicos.

A qualidade geral de Black Gives Way To Blue é tão alta que demonstra com galhardia que a banda não é apenas um reconhecido ícone dos anos 90, mas é também digna de ser considerada pelas futuras gerações. Reconectando-se às raízes sonoras do seu passado, o Alice In Chains dá uma lição de que ainda é possível se fazer rock de verdade nos dias de hoje.