Queens Of The Stone Age
Songs For The Deaf
(Interscope)
2002
Texto por Álvaro Sanways
Não, os anos 2000 não ficarão marcados só pela atrocidade musical cometida pelas bandas ditas “emocore”. A maior prova disto está neste disco, Songs for The Deaf,de 2002, que é um dos trabalhos mais espetaculares concebidos por um grupo de rock em todos os tempos.
Dois anos após o intrigante álbum “Rated R” de 2000, o Queens Of The Stone Age reuniu-se mais uma vez em estúdio para a gravação de um novo registro sonoro inédito, desta vez contando com uma formação que daria inveja a qualquer supergrupo: nas guitarras e nos lead vocals, o entronizado (por seus próprios méritos) rei do stoner-rock, Josh Homme (que ficou famoso com a lendária banda Kyuss nos anos 90). Como segundo vocalista o respeitadíssimo Mark Lanegan (outro oriundo de uma das grandes bandas de Seatle dos anos 90, os Screaming Trees). No baixo e em alguns vocais de determinadas musicas o carismático Nick Oliveri (outro membro fundador do Kyuss), e aquela que era a presença mais ilustre deste dream team, o atual vocalista dos Foo Fighters e ex batera do Nirvana, Dave Grohl, tocando (com uma energia e criatividade que beiram o insano) o instrumento que lhe trouxe fama mundial com o respectivo grupo. Esta já seria uma equipe de gigantes mesmo que não levássemos em conta a participação de Alain Yohannes, multi-instrumentista famoso pelo seu bom trabalho com as mais diversas bandas alternativas da desert area, que tocou todo tipo de instrumentos durante as gravações, dando apoio ao que esses quatro digníssimos cavalheiros viriam a desenvolver, nada menos que o melhor disco do catálogo da banda em todos os tempos.
Com esta formação calcada na nata de músicos de rock alternativo dos anos 90, o QOTSA elaborou uma das melhores gama de músicas que se pode escutar num mesmo álbum. Para começar injetando uma navalha direto no cérebro do incauto ouvinte, a musculosa abertura com “You Think I Ain’t Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire”, que só pelo título já demonstra seu total despojo em relação a qualquer resquício de comercialidade. Seguida dela a perfeita “No One Knows”, maior hit do disco, com refrão grudento e ótimas guitarras. “First It Giveth” mostra um groove monumental de bateria, caindo como uma luva no resto dos instrumentos, e “Song For The Dead” trás uma incrível composição embasada em vários clímax, ora com pesados momentos na voz rouca característica de Mark Lanegan, ora com falsetes muito bem empregados por Homme , e com um Grohl tocando como se fosse um John Bonham com esteróides.
Após essa avalanche inicial de peso temos a soturna “Sky Is Falling”, que apesar dos momentos de pesados, tem mesmo como chamativo os momentos etéreos, trazidos a tona pelas vocalizações em falsete de Homme durante as partes instrumentais. Passado o devaneio celestial vem a pesadíssima (e curta) “Six Shooter”, que na voz agressiva de Nick Oliveri, leva apenas 1:20 para atravessar o cérebro do ouvinte como uma faca quente na manteiga. “Hangin Tree” é outra peso-pesado, que, composta por Alain Yohannes e cantada pela voz neandertalesca de Lanegan, poderia muito bem justificar o ingresso do músico de apoio para o cast principal da banda, de tão boa que a música é.
“Go With The Flow” é outra pérola, onde é possível (graças ao tom mais alto da canção) escutar um belo timbre vocal pouco usado por Homme na história de sua banda, o que por si só, já tornaria esta música uma audição obrigatória, sem levar em conta o bom trabalho de Grohl nas baquetas, colocando um clima de urgência quase agoniante à esta faixa. A seguinte, “Gonna Leave You”, apesar de não estar no mesmo patamar de todas as anteriores, mostra um apelo comercial legal sem se tornar descartável, com belas vocalizações de Homme, mais uma vez, e interessantes duetos vocais com Oliveri.
“Do It Again” pode ser caracterizada como um “blues stoner rock”, pois alia o peso característico das afinações baixas do rock criado pelo Kyuss nos anos 90 com levadas primorosas de Grohl ,em um shuffle anabolizado. Também pertencente a classe do “blues stoner rock”, a ótima “God Is On The Radio”, que além dos duetos vocais inspirados entre Lanegan e Homme, traz um ótimo solo de guitarra, com um timbre vintage que fará os mais saudosos corarem.
“Another Love Song” é outra canção que apesar de não estar no nível das demais não deixa de ser interessante, pois trás um Nick Oliveri cantando de forma calma, bem diferente dos gritos habituais do baixista/vocalista, além de uma letra legal e um ótimo trabalho de batera de Dave Grohl, alternando levadas limpas com climas tribais, climas estes que se fazem mais presentes no fechamento áureo do disco com a mastodônticamente pesada “Song For The Deaf”, uma música com tantos climas que faz o ouvinte chegar em êxtase ao seu final. Há ainda uma faixa bônus, chamada “Mosquito Song”, uma ótima música em clima acústico, que lembra muito a fase umplugged do grunge.
Além de todas as belas composições, o que também ajuda a definir Songs For The Deaf como um álbum de rock atemporal é a sua produção artística (a cargo do próprio Josh Homme e de Eric Vallentine), que conta com uma gravação totalmente em climas vintage, e a ótima sacada de contextualizar o disco todo como um capítulo vivido por alguém que está à procura de boas músicas pelas ondas de rádio (durante todo o disco, entre as faixas, é possível ouvir vinhetas, propagandas e trocas de sintonia, como se realmente as músicas estivessem sendo encontradas durante uma ouvidela pelo rádio do carro, numa viagem por uma highway no deserto da Califórnia).
Songs For The Deaf é realmente um daqueles discos que valem a pena ser ouvidos na íntegra, que marcam toda uma geração que (com sorte) foi contemporânea a ele, e que certamente se manterá impassível a ação do tempo, com suas características artísticas intactas, sendo para sempre uma referência quando o assunto for música, e especialmente, rock bem feito. Só temos a agradecer ao Queens Of The Stone Age, por este impagável presente.
Dois anos após o intrigante álbum “Rated R” de 2000, o Queens Of The Stone Age reuniu-se mais uma vez em estúdio para a gravação de um novo registro sonoro inédito, desta vez contando com uma formação que daria inveja a qualquer supergrupo: nas guitarras e nos lead vocals, o entronizado (por seus próprios méritos) rei do stoner-rock, Josh Homme (que ficou famoso com a lendária banda Kyuss nos anos 90). Como segundo vocalista o respeitadíssimo Mark Lanegan (outro oriundo de uma das grandes bandas de Seatle dos anos 90, os Screaming Trees). No baixo e em alguns vocais de determinadas musicas o carismático Nick Oliveri (outro membro fundador do Kyuss), e aquela que era a presença mais ilustre deste dream team, o atual vocalista dos Foo Fighters e ex batera do Nirvana, Dave Grohl, tocando (com uma energia e criatividade que beiram o insano) o instrumento que lhe trouxe fama mundial com o respectivo grupo. Esta já seria uma equipe de gigantes mesmo que não levássemos em conta a participação de Alain Yohannes, multi-instrumentista famoso pelo seu bom trabalho com as mais diversas bandas alternativas da desert area, que tocou todo tipo de instrumentos durante as gravações, dando apoio ao que esses quatro digníssimos cavalheiros viriam a desenvolver, nada menos que o melhor disco do catálogo da banda em todos os tempos.
Com esta formação calcada na nata de músicos de rock alternativo dos anos 90, o QOTSA elaborou uma das melhores gama de músicas que se pode escutar num mesmo álbum. Para começar injetando uma navalha direto no cérebro do incauto ouvinte, a musculosa abertura com “You Think I Ain’t Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire”, que só pelo título já demonstra seu total despojo em relação a qualquer resquício de comercialidade. Seguida dela a perfeita “No One Knows”, maior hit do disco, com refrão grudento e ótimas guitarras. “First It Giveth” mostra um groove monumental de bateria, caindo como uma luva no resto dos instrumentos, e “Song For The Dead” trás uma incrível composição embasada em vários clímax, ora com pesados momentos na voz rouca característica de Mark Lanegan, ora com falsetes muito bem empregados por Homme , e com um Grohl tocando como se fosse um John Bonham com esteróides.
Após essa avalanche inicial de peso temos a soturna “Sky Is Falling”, que apesar dos momentos de pesados, tem mesmo como chamativo os momentos etéreos, trazidos a tona pelas vocalizações em falsete de Homme durante as partes instrumentais. Passado o devaneio celestial vem a pesadíssima (e curta) “Six Shooter”, que na voz agressiva de Nick Oliveri, leva apenas 1:20 para atravessar o cérebro do ouvinte como uma faca quente na manteiga. “Hangin Tree” é outra peso-pesado, que, composta por Alain Yohannes e cantada pela voz neandertalesca de Lanegan, poderia muito bem justificar o ingresso do músico de apoio para o cast principal da banda, de tão boa que a música é.
“Go With The Flow” é outra pérola, onde é possível (graças ao tom mais alto da canção) escutar um belo timbre vocal pouco usado por Homme na história de sua banda, o que por si só, já tornaria esta música uma audição obrigatória, sem levar em conta o bom trabalho de Grohl nas baquetas, colocando um clima de urgência quase agoniante à esta faixa. A seguinte, “Gonna Leave You”, apesar de não estar no mesmo patamar de todas as anteriores, mostra um apelo comercial legal sem se tornar descartável, com belas vocalizações de Homme, mais uma vez, e interessantes duetos vocais com Oliveri.
“Do It Again” pode ser caracterizada como um “blues stoner rock”, pois alia o peso característico das afinações baixas do rock criado pelo Kyuss nos anos 90 com levadas primorosas de Grohl ,em um shuffle anabolizado. Também pertencente a classe do “blues stoner rock”, a ótima “God Is On The Radio”, que além dos duetos vocais inspirados entre Lanegan e Homme, traz um ótimo solo de guitarra, com um timbre vintage que fará os mais saudosos corarem.
“Another Love Song” é outra canção que apesar de não estar no nível das demais não deixa de ser interessante, pois trás um Nick Oliveri cantando de forma calma, bem diferente dos gritos habituais do baixista/vocalista, além de uma letra legal e um ótimo trabalho de batera de Dave Grohl, alternando levadas limpas com climas tribais, climas estes que se fazem mais presentes no fechamento áureo do disco com a mastodônticamente pesada “Song For The Deaf”, uma música com tantos climas que faz o ouvinte chegar em êxtase ao seu final. Há ainda uma faixa bônus, chamada “Mosquito Song”, uma ótima música em clima acústico, que lembra muito a fase umplugged do grunge.
Além de todas as belas composições, o que também ajuda a definir Songs For The Deaf como um álbum de rock atemporal é a sua produção artística (a cargo do próprio Josh Homme e de Eric Vallentine), que conta com uma gravação totalmente em climas vintage, e a ótima sacada de contextualizar o disco todo como um capítulo vivido por alguém que está à procura de boas músicas pelas ondas de rádio (durante todo o disco, entre as faixas, é possível ouvir vinhetas, propagandas e trocas de sintonia, como se realmente as músicas estivessem sendo encontradas durante uma ouvidela pelo rádio do carro, numa viagem por uma highway no deserto da Califórnia).
Songs For The Deaf é realmente um daqueles discos que valem a pena ser ouvidos na íntegra, que marcam toda uma geração que (com sorte) foi contemporânea a ele, e que certamente se manterá impassível a ação do tempo, com suas características artísticas intactas, sendo para sempre uma referência quando o assunto for música, e especialmente, rock bem feito. Só temos a agradecer ao Queens Of The Stone Age, por este impagável presente.
ótima análise sobre o disco!
ResponderExcluirO album da minha vida! Sem dúvida!
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