terça-feira, 19 de outubro de 2010

BBB Brasil: o show da realidade ?!?!?


Texto por Álvaro Freire Samways

Juntamente com a expectativa pela década de 2000, outra coisa invadiu os lares das pessoas que viram a mudança de milênio acontecer: a explosão de popularidade dos programas chamados Reality Shows. Neste tipo de programa o foco a ser captado como atração é diferente dos programas tidos como tradicionais. Ao invés de veicular ao expectador algo ensaiado por artistas e que segue um roteiro, os Reality Shows buscavam justamente o contrário, mostrar o comportamento humano de forma espontânea, em situações de convivência com outros seres humanos.

Hoje em dia podem-se contar vários formatos deste tipo de programa, de um grupo de pessoas desconhecidas confinado dentro de uma casa; Pessoas buscando o status de ídolo musical; O acompanhamento do dia a dia de trabalho em algum tipo de serviço arriscado (como bombeiros ou policiais); O grupo de pessoas numa praia deserta no meio do nada, e até mesmo o caso bizarro do reality show vivido por Ozzy Osbourne (que teve câmeras instaladas em sua casa para que seu dia-a-dia de excessos e brigas de família pudesse ser acompanhado por milhares de pessoas ao redor do mundo), só para citar alguns exemplos.

Mas lá nos primórdios dos 2000, quando este tipo de programa surgiu, o formato adotado era um só, apenas com variâncias de nome entre as 36276 versões promovidas por canais diferentes, mas que na real se tratavam era da mesma coisa: o grupo de pessoas totalmente desconhecidas da mídia ou não, confinado dentro de uma casa luxuosa e equipada com câmeras, com cada participante lutando para ser o último a sair da casa e assim receber o prêmio milionário. E os “da poltrona” claro, podiam acompanhar os trechos da convivência diária dos participantes que eram selecionados pela emissora e veiculados no horário oficial do programa ser exibido (os mais assíduos expectadores podiam então comprar a versão pay per view e assim acompanhar 24 horas esses programas). Os mais conhecidos dessa primeira geração de reality shows pelo povo brasileiro foram o “megapoderosomultinacional” Big Brother, com seus direitos de promoção e veiculação em mídia comprados pela Rede Globo (que surpresa, não?!), e a cópia nacional feita pela emissora do “Homem do Baú”, o SBT, a na época também famosa Casa Dos Artistas, que de diferente do Big Brother, só tinha o fato de que seus participantes eram celebridades de segunda linha, como as mega gostosonas Tiazinha e Feiticeira (se você era adolescente na época em que Luciano Huck não era ainda um a atração das tardes de sábado da Globo você sabe muuuito bem quem elas são), o ator/cantor (por favor não leve essas palavras a sério) Alexandre Frota, e o hiper canastrão filhinho de “papito” Supla, além de atores que nadavam no mar do ostracionismo e do limbo, como a até então indigente atriz Bárbara Paz. Um fato curioso é que a Endemol (empresa responsável pelo Big Brother e sua vendagem de direitos ao redor do mundo) acabou gostando da idéia de Sílvio Santos, tanto que no mesmo ano de 2000 criou uma variação de sua atração, o “BBB Vip”, que tinha seu cast composto somente por artistas, e que acabou sendo exibido na Holanda.

Eu estava a ver um filme na televisão quando um comercial me informou que a 11ª edição de BBB já está em fase de inscrição, buscando novos participantes.A constatação deste fato me despertou a seguinte indagação: os reality shows, que como o nome sugere, deveriam nos ilustrar com cenas da realidade humana, realmente o fazem??? O tal discurso vivido por ex-participantes de que “o BBB foi uma experiência de vida enriquecedora” é mesmo algo válido? Vejamos...

Eu não sei você meu caro leitor, mas eu não me lembro de alguma vez na minha vida estar numa casa bacana como a do BBB, vivendo junto de mais uma dezena de pessoas que eu nem sabia que existiam. Quando no muito uma casa brasileira tem como moradores mais de dez pessoas, ela geralmente não passa de um casebre de pau-a-pique no sertão do agreste nordestino, ou de uma casa feita de papelão e pedaços de tábua em alguma favela de um grande centro metropolitano. E geralmente os “participantes” deste BBB de miséria são crianças, que dividem o pequeno espaço de “salacozinhabanheirocopaquartotudojunto" de 10m quadrados com seus 8 irmãos além do pai de da mãe.

Outro fator agravante é o de que no BBB não se faz absolutamente nada. Sim, ninguém esquenta a cabeça com nada. Não é preciso trabalhar, exceto em uma ou outra prova a qual os participantes devam se submeter para conseguir um privilégio, como comida, por exemplo. No mais, cerca de 95% do tempo de estadia na tal “casa mais vigiada do Brasil” representa um tempo ocioso recorde na vida daqueles que lá estão. Um tempo livre como este é uma dádiva que qualquer ser humano gostaria de ter em sua vida, tendo como seu valor quase que o de um tesouro. Mas para que realmente valha a pena, (tal como na Grécia antiga da era Socrática), o tempo ocioso deveria ser aproveitado em atividades de cunho afetivo, como uma confraternização entre amigos ou família, por exemplo; De cunho cultural, como a apreciação de uma forma artística de valor para o indivíduo; De cunho saúde, com atividades que garantam uma manutenção do bom estado de saúde física e mental; Ou então de cunho filosófico/reflexivo, numa tentativa de assim perceber e buscar novos conhecimentos. Mas não meus amigos, nada disso passa nem perto do que os BBBs fazem dentro daquela casa. Confraternização entre eles, só da forma mais vazia possível, em festas regadas a muito álcool e hormônios, para que assim a Globo atinja seus picos de audiência quando algum casal participante decida pisar além da linha da moralidade, casal este que a algumas horas antes nem existia, e mais, era inimigo mortal numa daquelas panelinhas que se formam lá dentro para aproveitar o tempo livre de forma a criar boatos e intrigas sobre outros participantes. Já na parte cultural, o que mais tenta sofregamente se aproximar disso é quando algum artista (sendo que a maioria nem pode ser chamada assim) resolve visitar a turma como, por exemplo, a hiper arroz de festa Ivete Sangalo ou seu clone mais próximo, Claudia Leite, comparecem para animar uma das orgias com suas músicas de gosto duvidoso. No que diz respeito à saúde, os BBBs até que fazem exercícios físicos, sendo que a maioria é até “marombado”, mas é só. A vontade é somente esculpir um corpo belo, como forma de chamar a atenção dos outros. Interesse em manter saúde passa longe dos objetivos. E também, do que adianta, um corpo esculpido no Olímpo, quando o cérebro parece ter sido cozido num forno de senzala, tal a futilidade apresentada. E por último, na parte filosófica/reflexiva, nada realmente acontece. No máximo um “em quem eu deveria votar hoje?” é o que cada participante se pergunta a si mesmo. Ao contemplar toda essa experiência vivida pelos BBBs, o que eu percebi é que a vida deles não se assemelha em nada com a de um brasileiro mediano. Assemelhasse sim à vida de um político ou magnata menos cotado: nenhum trabalho e muito tempo livre, sendo que este é aproveitado para tentar manter uma imagem bonita aos olhos dos outros, acumular privilégios e criar estratégias que possam assegurar uma forma de conseguir se dar bem e ao mesmo tempo passar o próximo para trás.

Eu poderia passar dias aqui enumerando mais e mais motivos para mostrar que o Big Brother Brasil não passa de algo que está à quilômetros das vidas de nós brasileiros normais, que não somos ricos, trabalhamos como verdadeiros burros de carga, não temos tempo livre e nem corpos de deus grego, mas julgo que estes exemplos citados acima já transmitem de maneira lúcida o que é então o tal reality show: algo deslocado de qualquer realidade, se não a deles mesmos lá dentro, onde ganha o prêmio quem mais se mostrar ignorante, trapaceiro, futil e duas caras possível. E quem não ganhar o prêmio pode pelo menos usar agora de seus 15 minutos de fama e da triste alcunha de “celebridade” para tentar agarrar uma teta em algum modo de mídia, como assim fizeram as belas e simpáticas (mas desprovidas de qualquer talento), Sabrina Sato e Grazi Massafera.

A verdade meus caros leitores não é outra se não esta: o Big Brother não passa de uma das mais poderosas ferramentas no show de burrificação ao qual todo brasileiro está exposto todos os dias através de seus meios de comunicação. Um programa que somente promove a chance de que jovens de corpo sarado e mente vazia possam dar alimento ao sonho de se tornar famosos, sem que, entretanto, precisem dispor de qualquer conteúdo e talento, podendo assim usar de formas chulas para chamar a atenção, como a exposição de seus corpos seminus ou de suas ignorâncias, tudo em rede nacional. BBB é um programa que não representa nada, mas simplesmente nada de engrandecedor, nem para aqueles que lá estão, quão pouco para aqueles que o acompanham de suas casas. E digo mais: pior que os que dele participam, são aqueles que assistem este tipo de programa, que na minha opinião deveria ser proibido de ser veiculado até em experiências com chimpanzés lobotomizados. Pois por mais nojento que este argumento seja, lá dentro da casa eles concorrem a 1 milhão pela burrices que protagonizam. E você que assiste BBB, ganha o que pela burrice a qual é exposto?

2 comentários:

  1. Concordo plenamente!!! em numero gênero e grau com sua análise sobre reality show...
    Muito bom este blog

    ResponderExcluir
  2. quem quiser uma complementação do assunto: http://www.dihitt.com.br/n/opiniao/2011/03/03/critica-ao-bbb--luiz-fernando-verissimo

    ResponderExcluir