terça-feira, 5 de abril de 2011

CDs (Se não conhece, deveria...) Karnivool



Karnivool

Sound Awake

(Cymatic Records)

2009

Certas coisas são realmente incompreensíveis. Uma delas é o fato de que, com um mar giganticamente abundante de bandas porcaria que inundam o cenário da música internacional/mundial e que são elevadas ao status de “cult” pela mídia, tais como Vampire Weekend, Maroon 5, Coldplay, 30 Seconds To Mars entre outras, uma banda genuinamente talentosa e original como o Karnivool seja uma indigente entre os meios musicais fora da Austrália (país de origem a banda e onde eles têm total reconhecimento de público e mídia). E não é por que a banda é nova não, pois foi formada em 1997 e já está na estrada desde 2001, ano do ótimo EP autoentitulado “Karnivool”, e principalmente por que o penúltimo álbum chamado Themata é maravilhoso, contendo canções épicas do calibre de “C.O.T.E.”, “Themata”, “Roquefort” e “Mauseum”, álbum este que era só uma prévia do que havia de vir no mais recente trabalho do grupo, o poderoso e incrível “Sound Awake” de 2009.


Em Sound Awake podemos perceber que Ian Kenny (vocais), Andrew Goddard (guitarra), Mark Hosking (guitarra), John Stockman (baixo) e Steve Judd (bateria) compuseram um álbum muito mais maduro, e elaborado com um cerzimento minimalista, traçando uma colcha de retalhos sonora que alterna momentos de enorme peso com outros de pura sensibilidade, tudo isso embasado pelo talento e competência enorme de cada um dos músicos envolvidos, seja na hora de tocar seu instrumento musical, seja na hora de escrever canções. E todo este clima fica evidente na primeira faixa de Sound Awake, a bela “Simple Boy”, que além de trazer bela letra e o timbre característico do vocalista Ian Kenny, nos mostra arranjos muito além do que uma simples bandinha radiofônica costuma derramar, contando com timbragens rebuscadas em todos os instrumentos. Outra que vem nesta linha é a segunda música, chamada “Goliath”, que com sua beleza nos remete ao que parece ser a fórmula do Karnivool para dar luz a canções maravilhosas: o contraste de instrumentais pesados e incomuns mergulhados numa aura progressiva, com a voz única de Ian Kenny.


Em “New Day”, a terceira do disco, a viagem vai longe, em 8 minutos de uma música que nos leva da sensibilidade ao peso em tantas doses que os ouvintes mais desavisados poderão ficar atordoados. Na próxima, “Set Fire To The Hive”, ouvimos um Karnivool mais objetivo e pesado, soando como os melhores momentos instrumentais do Nine Inch Nails, só que com um vocalista bem mais capaz do que o “rasgador” Trent Reznor. Já em “Umbra”, o que se nota é novamente a volta do “peso sensível”, com uma letra belíssima, e um arranjo que deixa claro que a combinação “competência técnica + musicalidade” é perfeitamente possível, basta discernimento por parte de produtores e capacidade e bom gosto por parte de músicos.


Mas nada do que foi ouvido antes poderia nos preparar para a próxima faixa, “All I Know”, simplesmente uma das músicas mais espetaculares e estranhamente lindas de todos os tempos. Usando de efeitos impensados sobre uma estrutura simples (para os padrões Karnivool), e contando com um vocal perfeito, esta canção é uma jóia de valor inestimável, prova de que o Karnivool é sem dúvida a melhor banda australiana de todos os tempos, anos luz a frente de AC DC ou Silverchair, e de que eles merecem fazer história tanto quanto (ou até mais) o que estas duas já fizeram.


Para dar uma abaixada na poeira depois do final emocionante de “All I Know”, a curtinha “The Medicine Wears Off”, que na verdade serve mais de interlúdio para a segunda parte do álbum, composta por quatro musicas grandes e densas. A primeira delas é obscura “The Caudal Lure”, que deixa claro o por que de Steve Judd poder ser considerado um dos bateristas mais habilidosos e competentes na hora de criar um groove, soando como a equilibrada mistura de Josh Freese e Vinnie Colaiuta, tudo única e exclusivamente a serviço desta música incrível. Já em “Illumine” as coisas soam mais claras, mas jamais a ponto de tornar esta uma música óbvia, sendo esta uma música que nos lembra as canções do álbum Themata.


Chegamos as duas últimas músicas do cd, duas composições que ultrapassam os 10 minutos cada uma e que rompem com qualquer sinal de preocupação em relação aos meios de mídia e com uma roupagem pop. A primeira delas é “Deadman”, uma música que é o símbolo máximo da sonoridade do Karnivool, misturando vários clímax e fazendo-os soar tão naturais que até parece fácil compor algo tão complexo. Legal é a “musiquinha” escondida ao final desta faixa, que soa mais como uma intro para a última faixa do disco, a poderosa “Change”, que é uma parte 2 da música Change iniciada no álbum antecessor Themata (alguém ai lembrou de Unforgiven do Metallica?). Esta música lembra muito os melhores momentos do Tool na fase AEnima, porém com um clima menos soturno, vindo a fechar com chave de ouro este trabalho magistral do Karnivool.


Sound Awake é um discasso, daqueles que ultimamente anda difícil de se encontrar por ai, sendo mais uma prova de que devemos mesmo é correr atrás de cultura por nós mesmos, e não esperar pelas porcarias que os meios de comunicação estão tentando nos empurrar como “a melhor banda dos últimos tempos”, e com o Karnivool nos dando mais uma vez uma amostra de que merece muito mais do que simplesmente reinar na Austrália da forma que reinam (como se isso fosse pouco). Se não escutou a banda, vai lá e escute, por que vale muuuuuuito a pena, te garanto.

Um comentário:

  1. Descrição totalmente condizente. Karnivool é uma banda completa, que mostra que a junção da técnica com o "feeling" é possivel. Aconselho a todos que ainda não ouviram.

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